quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Meu filho João Paulo.


















































Quando te aninhei em meu colo, segurei bem forte para que te sentisses seguro, te apertei contra o meu peito e fiz a promessa de que nunca mais estarias só neste mundo. Nunca mais, ao menos enquanto eu vivesse.
Teus olhinhos pequeninos e tristes pareciam me contar uma história que eu ainda não compreendia. O que eu sabia era que tínhamos uma grande missão pela frente: Aprender a nos amar. Nada sabíamos um do outro.
Passava noites tateando teu corpo, decorando teus traços, reconhecendo teu cheiro e adivinhando o teu passado.
Tinha a tal história de memória celular, tipo sanguíneo, e tudo isso parecia tão banal, eram conceitos e nós iríamos derrubá-los.
Estejas certo que querer um filho é muito mais forte do que ter um filho.
Não foi fácil para nós dois. Eu era até então uma menina de 24 anos, cheia de ideais, e transpirava sonhos. Acreditava que ser mãe era muito mais que parir, ou gerar um pedaço de si mesma.
Precisava aprender a ser mãe de um filho que não era um pedaço meu. Eu não tinha culpas e nem problemas de fertilidade, virias a ser meu segundo filho: O primeiro eu tinha gerado.
Ser mãe estava sendo para mim a maior e mais compensadora experiência na vida. Como se tivesse nascido para ser mãe. Então, precisava ser mãe de várias formas, uma espécie de graduação. E tu lá estavas a espera exatamente do que tinha para te oferecer. Também parecia ter nascido predestinado a mim. Para me fazer amadurecer, caminhar por estradas que poucos têm coragem de seguir espontaneamente, para me desafiar na arte de amar o que não é perfeito, o que não é comum, o diferente, o difícil.
Colocaram em teste todos os extremos de minha humanidade, nada estava ali para facilitar o caminho. Não só tinha um filho adotivo, como descubro então que era um ser diferente, e precisavas de mim bem mais do que eu supunha. Tive que crescer bem rápido. Lutei para penetrar em teu universo, e aprendi a te amar exatamente como és, sem projetar nada. Não foi nada fácil chegar até aqui. Mas, quando lembro a primeira vez que me chamaste de mãe! Esperei pacientemente por alguns anos para que falasse. E a primeira frase que falou foi à música que eu cantava para teu silêncio: “Mãe, se eu quero e você quer tomar banho de chapéu, faça o que quiser, pois é tudo da lei.”
Nossa! Agora eu sabia que conseguiríamos. Meu filho, tão amado filho! Nós conseguimos.
Sei que vais conseguir ler este texto. Essa é uma grande vitória para nós.
Tenho a certeza absoluta que não há outra pessoa neste mundo que te conheça tão bem como eu, e que acredite tanto em ti, porque eu te amo ao ponto de abrir mão dos meus sonhos e carreira, para estar ao seu lado quando grita por mim. Não me arrependo.Faria tudo novamente.
Estou aqui não estou?
Sei o quanto precisa saber e ter certeza de que estou aqui.
Como este olhar que acabou de lançar-me ao chegar a casa.
Entras a minha procura.
Um dia de cada vez, lembra? Vamos em frente. Estamos juntos nessa.
Os vôos são assim... Estou aqui espiando, estejas certo disso.
E acredite: Os seres humanos mais interessantes que conheci em minha vida eram diferentes...

5 comentários:

Anônimo disse...

eu gostei,fico muito legal não sei nem oq fala ,
mais eu teAmo muito MÃE..

Anônimo disse...

Cristina, fico sem palavras. Tens um coração imenso, um daqueles para os quais Deus olha e pensa: "Que bela obra que eu fiz!"
E fez, claro, Cristina. O mundo não te merece, talvez, mas precisa de ti e de muita gente como tu.
Um longo abraço.
Daniel

Ibel disse...

Cristina,

Eu também fico sem palavras como o Daniel.E olha que para ele ficar sem palavras é porque a intensidade da corrente foi tão grande, que os fusíveis, momentaneamente, paralisaram.
Um beijo para o João Paulo. Tem o nome do papa que tanto amei e amo.
Para ti? Escolhe o que mais precisares, que eu dou.

Anônimo disse...

Cristina,

Era uma vez...

Uma linda menina, loira, olhos verdes, 1,80m. de altura, radiosa nos seus 17 anos, boa aluna, aspecto ultra saudável, a quem uma doença inesperada do foro genético obrigou a uma operação radical, tal a gravidade do diagnóstico. Foi muito difícil explicar-lhe, no esplendor da sua idade, uma esterilidade tão precoce.

Quis o destino que ela conhecesse um rapaz, médico, com quem casou aos 22 anos. Ele sempre soube da sua "estória" de vida. Quatro anos após o enlace resolveram candidatar-se a uma dupla adopção: deram preferência a irmãos/ãs em que o/a mais novo/a tivesse até 2 anos de idade.

O processo foi longo e penosa a espera. Toda a família esteve envolvida e com igual ansiedade esperava... E eis senão quando, às 16h. de um vulgar dia de semana, se recebeu um telefonema para que, no dia imediato, às 12h. se estivesse em determinado local oficial para recolher uns gémeos, com 28 dias de existência na incubadora...

Foi um parto de 20 horas, em que todos tiveram dores e se viraram do avesso: foi um enxoval apressado, foram lágrimas de alegria, foi uma noite sem sono, foi a “adivinhação” do cheiro e dos traços, foi o trabalho profissional interrompido, foi uma angústia do dia seguinte que não mais chegava... foi... foi...

E às 11,45h. do dia marcado lá estavam três pessoas: um casal de pais e uma avó com a experiência prática de ter sido mãe. Quando por fim os dois bebés entraram na sala em que se aguardava, a mãe "paralisou e estarreceu" de felicidade. A avó arrancou o primeiro bebé dos braços que o transportavam e o pai agarrou o segundo com unhas e dentes. Cabiam no antebraço. Tinham respectivamente 1,700kg e 1,800kg. Os três só queriam mudar-lhes a roupinha a 500km à hora e fugir até casa com eles colados ao peito. Não há descrição escrita possível para a emoção desse momento.

Talvez só um pequeno detalhe dê uma ideia muito longínqua do turbilhão emocional que se viveu: as duas máquinas fotográficas que se levaram, disparadas sem rei nem roque, afinal não tinham rolo... só flash… Creio que se tivessem rolo as fotos estariam focadas nos tectos, paredes, sapatos, enfim em tudo menos no objectivo.

Nunca existiram os preconceitos do tipo sanguíneo e da memória celular. Ninguém se lembrou deles, pura e simplesmente. Sem dúvida, Cristina, querer um filho é muito mais forte do que ter um filho. Também ninguém se arrependeu e faria tudo novamente. Até tentaram… a rapariga…

E estes gémeos cresceram com boas raízes, tronco robusto, saudáveis galhos e folhas viçosas. Têm hoje 13 anos. São brilhantes alunos, embora do mais irrequieto que se possa pensar. São amados por toda a família, avós, tios/as, primas até ao limite e sempre em pé de igualdade. Com o avançar da idade e porque são dizigóticos, começaram a distinguir-se em tudo. E não é que um é parecido com o pai (até quer ser médico) e o outro tem sinais físicos da mãe? É o tal mimetismo…

Cristina: o seu filho vai conseguir ler o seu texto. E os pais sentirão essa grande vitória. Eu acredito, do fundo da minha alma, que os seres humanos mais interessantes são diferentes...

Gosto muito de si Cristina, “por caminhar por estradas que poucos têm coragem de seguir espontaneamente, para se desafiar na arte de amar o que não é perfeito, o que não é comum, o diferente, o difícil.”

Um beijo lhe envia a narradora desta “estória”, a avó materna que esteve presente no nascimento dos seus netos gémeos.

Maria

Cris disse...

Meus parabêns vovó Maria.Uma linda familia! Meninos abençoados.
Agradeço muito ter trazido este testemunha maravilhoso a Pasárgada.
Um grande beijo.

Daniel e Lia meus amores,não mereço tanto.
Beijos no coração.