quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Poema para uma criança curiosa.

Podia ter nascido acácia ou leopardo,
Gazela, colibri ou pirilampo.
Podia ser um funcho, um cravo, um cardo,
A pedra da muralha de um castelo
Ou um lírio-do-campo.
Qualquer coisa que eu fosse, eu era belo
Se os olhos que me vissem fossem belos.
E se o meu gato tivesse sido eu,
E eu fosse o meu gato simplesmente?
Por que razão nasceu
Na mesma noite um tigre, e eu nasci gente?
Mas eu sou gente como?
Este meu corpo
Sou eu,
sou eu somente
O corpo que me cabe nesta pele,
Ou sou mais do que ele?
Se eu tivesse nascido torto seria outro qualquer
Ou seria o mesmo, com um corpo torto?
Não nascendo rapaz, seria outra pessoa
Ou a mesma, num corpo de mulher?
Sou os cinco sentidos com que sei o Mundo,
Ou aquilo que sou hei-de encontrá-lo
Bem mais fundo?
Ou serei eu apenas o que como,
O meu corpo sou eu, e o alimento
Que o sustenta é que se torna eu?
Ou sou, mais do que tudo, um pensamento?
A memória do que fui e a ideia do que hei-de ser
É que me fazem ser,
Ou sou o pão que se faz carne que sente,
Ou o gato que ao nascer
Em vez de nascer gato nasceu gente?
Daniel de Sá.

3 comentários:

Anônimo disse...

Só podias ter nascido Daniel,
Pois o fado assim ditou que se fizesse
Mas sendo Daniel também és cravo
Gazela ou colibri, lírio do campo
Com palavras de gigante que apetece.

Beijinho,Daniel.

Anônimo disse...

Ibel, não enviaste apenas um beijo, mas muitos. Tantos quantos as palavras do tocante poema que me dedicaste.
Retribuo.
Daniel

Marta Bee Happy Loureiro disse...

Pessoa linda, amo poesia e buscava a curiosidade infantil para rechear um post no meu blog, encontrei-te! Por favor, visite-me e, caso prefira que retire seu poema, basta que o peça e será uma ordem!
Abelhinha Criativa:
http://marta-loureiro.blogspot.com

Um forte abraço,
Marta