domingo, 21 de setembro de 2008

AVE MARIA - FAFA DE BELÉM

Minha mãe... Tão minha que vive em mim, e não posso abraçar. Sempre abençoei os cinco sentidos, e por tanto aguçá-los, hoje aos domingos, são os que mais sentem sua falta, é minha verdadeira agonia. Vão-se quatro meses e ainda não sei o que fazer aos domingos sem ter você.
A vida mais parece agora um tabuleiro de xadrez, onde aos poucos perdemos as torres, vão embora os guerreiros piões, fracassam os bispos, lutam bravamente os cavalos, a rodopiar pelas casas, e perde-se a rainha, pobre rei! Pobre coração! Está em xeque.
O tempo corre não sei para onde, o que sei, é que não me leva para tão longe onde minha dor possa aquietar nem tão perto onde eu pudesse te tocar. O tempo não me devolve o seu cheiro na hora do abraço, os olhos que eu tanto busquei sua presença que eu tanto amava, ele marca o tempo da ausência, ele marca a distância que nos separa daquele último olhar, o derradeiro, onde eu não suspeitava que não voltasse a ver aquele brilho, porque a passagem estava comprada e eu não sabia que partirias sem aviso, ou um sinal, partistes e eu mergulhei na incerteza se partiria também, ou guardaria esta saudade que é a maior que a vida tem.

4 comentários:

Anônimo disse...

Um abrir de alma comovente.Eu sei o que sentes, cris.Eu não estava com a minha mãe quando ela entrou em coma.Soube que ela chorou e olhava para a porta do quarto para ver se eu chegava.Eu tinha ido jantar a casa de uma amiga,demorei-me um bocado e quando cheguei à casa de saúde ela estava em coma.
Eu sabia que ela estava mal, mas não imaginava que morreria nesse dia.Fiquei invadida por um remorso que quase me matava.
Um dia eu conto como foi.

Cris disse...

Querida

Perder sempre dói,e nos coloca frente a nossa impotência.Em qualquer perda , a sensação parece ser a mesma,sempre achamos que não fomos o suficiente,é natural sentir isso,talvez seja nossa sídrome de semi-deuses.Sempre achamos que poderíamos ter amado mais,ter feito algo que não sabemos o que era,mais deveríamos ter feito.
Sempre acreditamos que haverá um dia seguinte,que muitas vezes não chega,adiamos um abraço,um beijo, um eu te amo,que ficará para sempre incomodando por não ter existido na totalidade.
Penso que o mais importante nisso tudo é conseguir perdoar o ser amado por ter nos deixado, e nos perdoar por não ter conseguido partir junto.
Perdoar essa bagunça que faz dentro da nossa vida,este vazio que fica por não estar lá e por não ter deixado as instruções para sabermos o que fazer com a dor da saudade.
O tempo,este encarrega-se de ajustar as folgas, precisamos ajudá-lo um pouco.E a história?
Continua...
Beijos no coração.

Anônimo disse...

Cristina, estás excessiva na beleza do que dizes! Que resposta matavilhosa à suave maneira de expressar dor da nossa amada Lia!
E eu que vinha aqui para elogiar o "post"...
Envolvo as duas num mesmo abraço.
Daniel

Anônimo disse...

Cris e Daniel,

Estive um pedaço de tempo a ouvir todas as Avé Marias.Não consigo deixar de chorar sempre que ouço estas melodias onde se fala da Mãe Santa.Sempre fui fascinada por esta mulher sagrada.Desde menina.Hoje, com a idade, acho que essa adoração esteve sempre associda à minha mãe, ela também cheia de graça,no seu andor,a proteger-me do mal e da dor. E depois, ver também o meu querido Paulo VI...Desabei!