segunda-feira, 27 de abril de 2009

Escrever um livro?

Acredito nas palavras,por isso as escrevo,por isso as leio.
Mas,escolher uma ou outra para condensar num livro?
É como ter que escolher nossa melhor parte...
Achar que esse livro será lido até o final!? Não. Não acredito.
Isso é sonho.
Talvez, o segredo do meu maior sonho.
Olha que tenho buscado nas ciências a resposta,uma explicação para esse sonho me perseguir por toda uma vida. Não sabem o que é ser perseguido por um sonho...
É como se não houvesse outra maneira de viver, que não fosse, a busca para realizar os caprichos do tal sonho... Sonhos são teimosos. E é muito díficil argumentar com eles.
Já tive uma coleção de sonhos, e nesse caminhar,alguns vivi,outros perdi,e muitos esqueci. Porém,esse é o maior de todos, chego mesmo a acreditar que o sentido da minha vida está estreitamente ligado a ele.
Temo deixar de existir se ele se for...Muitas vezes, penso que nasceu e cresceu comigo.Tudo bem, não cresceu muito.Mas,acompanhou-me até aqui. Isso é o que importa.
O ato de escrever,é escrever-se...Esse é o problema. Passei a vida desejando ser lida,inteira.Poucos são lidos,e quando o são,nunca por inteiro. Dediquei-me a ler almas,mas,não encontrei aquela que esperasse por minha leitura...Sei que fui apenas uma estatística...um capricho,como a grande maioria das pessoas são.Não estou sozinha nessa.Mas,isso não diminue em nada minha decepção.Então,passo a respeitar o desejo do livro, dando a ele uma vida própria, independente das vontades do autor.
O livro deseja não ser esquecido em uma estante,e sim pertencer a um leitor guardião.
Ah,se conseguisse acomodar-me dentro de um livro...e se em algum lugar uma outra alma me lesse...e de repente,tivesse a certeza de que veio a esse mundo para me encontrar...
Se fosse capaz de desenhar-me a partir do que escrevo.Uma única pessoa,um único leitor(o guardião), valeria a pena escrever o tal livro.Isso validaria meu viver. Não posso escrever um livro que more numa estante,e não creio que exista um leitor guardião para as minhas palavras.



Claro que ,tratando-se do meu sonho,sei onde ele está.

Posso criá-lo.
Inventar e reiventar quantas vezes necessário for.
Posso crer que pensa em mim quando caminha por Québec,e espera um dia ouvir minhas risadas quebrando o silêncio daquela paisagem bucólica,ou quem sabe , o meu convite para tomar um sorvete,depois de ter tomado uma chícara quente de chocolate para aquecer a caminhada na neve.
Sabe que teimo em não crescer.Recuso-me.

Sou um paradoxo.E que vivo também os interstícios. Possivelmente decora aqueles versos que quero ouvir ao pé do ouvido,e sabe que quando os disser,vou descer do salto, caminhar descalça saltitando pelas ruas,festejando a alegria de estar viva. Ou de ter vivido até aquele momento para ouvi-lo.


Também tem conhecimento que, por vezes, vou olhar as quedas d’água,e ficar muito triste, por a beleza também pode ser triste algumas vezes e por conta da saudade que não me abandona.Mas quando ele disser: Fica .Todo o universo vai conspirar a meu favor.E nunca mais deixarei de sorrir.








Sabe também, que vou fazer caretas no espelho,brincar distraida com o miolo do pão,sujar a roupa na hora de sair,derrubar coisas,tropeçar no vento,acordar cantando,reclamar do frio para ganhar um abraço,fazer manha para ganhar um chamego.
Em outras, vou chorar baixinho as tristezas do mundo,a fome,a dor dos órfãos,a solidão da velhice,a cegueira humana.Entretanto,logo vou estar derrapando na neve, sorrindo e cantando a alegria de viver. E tendo idéias novas todos os dias.As idéias nunca me abandonam.
Vou declamar meus poemas favoritos no meio da praça, subir em qualquer degrau e sonhar que estou num palco.
Alguns desses poemas,aqueles mais atrevidos, vou sussurrar baixinho em seu ouvido,e provocar pensamentos insanos. A vida é sem graça sem os pensamentos insanos. Pense bem, existimos porque alguém em algum momento teve um pensamento insano.
Vou brigar com os autores na leitura dos livros, fechá-los muitas vezes aos prantos por conta do destino reservado as personagens,ou tentar explicar que “o autor”não entendeu muito bem os desejos da tal personagem. Vou me emocionar olhando para a lua,sem estar triste.Dançar pela casa ao ouvir músicas.Colocar perfume na lâmpada,para que ao anoitecer a luz tenha aroma.
E fazer qualquer coisa para vê-lo sorrir quando estiver chateado.E quando estiver bravo comigo,prometo pedir desculpas,seja lá pelo que for...e tentar com beijinhos quebrar o gelo.
Se não funcionar...mando flores,levo café na cama,conto uma piada,limpo a casa vestida de palhaço,e se nada funcionar...ameaço tirar as roupas na rua...
Sabe que algumas vezes, vou mergulhar no silêncio por muito tempo,mas isso não significa nada de especial,ou que algo mudou.Apenas estou colocando as idéias em ordem.

E quando menos esperar, sem hora marcada,e isso não importa se for no meio da madrugada, vou sorrir diferente...caminhar de um jeito especial...balançar meu corpo em sua direção...e nos olhos levar o convite para namorar ao pé da lareira.
E lá estará o tal livro,aquele que escrevi para encontrá-lo,sorrindo.Livros também sorriem não é? Ele já sabe o que vai acontecer... Vou acariciá-lo devagar como quem decora uma face,beijar docemente como fossem os lábios do ser amado,apertar contra o peito,como fosse algo divino,e piscar de cantinho,agradecendo-o, antes de mergulhar nos braços de quem ele me aproximou...















6 comentários:

Anônimo disse...

Cris,

É mesmo isso, tens de escrever um livro.Ouviste o Daniel? E logo o Daniel.Olha que a mim nunca ele me disse isso.Mas concordo com ele.És a personagem ideal para escreveres um livro ou para seres a heroína de outro que algum escritor queira escrever.
Prometo ler o livro e guardá-lo com carinho.
Beijinho da LIA.

Cris disse...

Lia como és gentil,minha flor.
Ser uma personagem? Uma pequena possibilidade.Heroína?
Não, não levo jeito.Pobre do escritor,ficaria atrapalhado com minhas idéias.
Não escrevo Lia,me exponho,sem truques,sem técnica.
Daniel é um cavalheiro já te falei...com o dom da paciência.E costuma ser gentil com seus leitores.
Daniel não precisa te dizer que escrevas um livro.Muitos, já o esperam...Ninguém precisa te dizer...És uma mestre das palavras,e também dos sentimentos.
Se algum dia vier a escrever um livro,vou entregá-lo em suas mãos,como quem encaderna a alma e a oferece de presente a outro.E o meu lar certamente protegeria minha alma.Ainda que ela seja assim tão simples.
Um beijo do tamanho da minha saudade.

Daniel disse...

Minha querida Cristina
Eu leria até ao fim um livro teu, fosse como fosse que começasse.
E leria até ao fim um livro que começasse com uma introdução destas, fosse quem fosse que o tivesse escrito.

Cris disse...

Meu querido Daniel
Isso significa muito.Muito mesmo.
Sabe que sou sua leitora guardiã.Li sua alma inteira,e se faltou alguma parte,a construí com o melhor que há em mim.Conheço o poder de um livro quando carrega uma alma cristalina dentro dele.
Um livro é capaz de mudar uma vida,e alterar um destino.E essas palavras parecem pequenas para expressar algo tão imenso.
Há livros que falam...tem cheiro.
Que tem dom de arrancar risos e lágrimas.Que chegam tão rapidamente em nossas almas,que desconfiamos que o autor seja um amigo conhecido.
Você ler um livro meu?
Ainda com a promessa de chegar a última página?
Definitivamente,isso não é real.
Não,deve haver algo errado nessa coca-cola.

Daniel disse...

Provavelmente a coca-cola estava sem defeito. E o que eu disse é rigorosamente o que penso.

Cris disse...

Meu querido Daniel
Isso é muito importante para mim.Penso ter que responder no salão principal por tratar-se de um momento ímpar na minha vida.