quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Trecho do X capítulo do livro Espólio - Daniel de Sá.



Daniel, gostaria de dizer ao Lawson que quando li Ilha Grande Fechada, não li apenas um livro, não gostei apenas de um romance , estava diante dos meus olhos a alma de um escritor, descrita em linhas em forma de palavras. E também gostaria de dizer ao Lawson, o quanto aprendi a amá-lo no decorrer de seus desabafos e indagações,o quanto desejei fazer parte do seu ato solitário de escrever,tanto quanto ele fez no meu ato solitário em ler. Lawson também é este punhado de infinito que retemos nas mãos em concha.




Mas que era, afinal, a celebridade?...Que lhe diziam nomes como Royce Brier ou Raymond Sprigle?... Estavam catalogados entre milhares de referências anuais do “World Almanac”, jaziam nas enciclopédias à espera de que um olhar distraído reparasse neles. E qual era a importância real que teria para ele que mil ou cem mil leitores,no sossego de suas casas e entre um bocejo e uma fumaça,lessem com agrado uma crônica de guerra ou um romance assinado com o nome Charles Lawson?
Para o leitor- pensava ele- o escritor não passa de um homem que está lá, que tem como missão escrever, nada mais do que escrever. Pode gostar-se de um político ou de um atleta,de um actor ou de um palhaço,mas de um escritor não se gosta,gosta-se de um livro.Talvez nenhum homem esteja tanto na sua obra como um escritor no acto solitário de escrever,talvez nenhum homem esteja tão pouco na sua obra como um escritor no acto solitário de ser lido.As pessoas comuns – e a maior parte das pessoas são pessoas comuns – julgam que um escritor tem inevitavelmente de ser um escritor, que a qualidade de escrever lhe é imanente como a Deus a divindade. As pessoas comuns não pensam no que está por trás de umas páginas de que, no fim, simplesmente se gosta ou se não gosta.

(Daniel de Sá,O Espólio;Brumarte,1987)

5 comentários:

Elisabete disse...

Como a Cris muito bem disse, naquilo que o Daniel escreve vê-se a sua alma. E, para mim, ler um livro de que se gosta, não é um acto solitário. É um momento de comunhão com alguém que sente ou pensa como nós. Quando assim é não se gosta, ama-se o escritor.
Beijinhos para os dois.

Daniel disse...

E o escritor passa a amar quem o lê com o coração... nos olhos.
Um abraço, querida amiga Elisabete.

Anônimo disse...

Concordo com a Elisaete.Quando leio um livro estou com o autor,tento sempre desenhá-lo, partilhar a seu pensamento, adivinhá-lo.Foi por isso que me me derreti em lágrimas quando conheci o José gomes Ferreira.Quando te leio, já te vejo, basta um período do texto para saber que o Daniel de Sá está nos meus olhos, enquanto os meus olhos estão nele.
LIA

Daniel disse...

Lia
Eu também me teria emocionado muito se um dia tivesse encontrado o José Gomes Ferreira. Tinha uma alma tão pura como a sua poesia. Felizmente, deixou-nos essa alma dulcíssima nos seus versos.
Obrigado,amiga.
Dois abraços. (Explicação para quem não sabe: um é para a Lia e outro para a Isabel.)
Daniel

Unknown disse...

Dan,como minha mãe te chama.
Eu te amo!
beeijos da Thais Naomi.