sexta-feira, 29 de maio de 2009

Meu caro escritor II (rascunho)



Não tenho um endereço para enviar as cartas, e também não consigo controlar o ímpeto de escrevê-las, por conta dessa ilusão de que por algum milagre pudessem entrar em sua vida. Não precisaria assinar meu nome. Leitores não precisam ter nome , rosto, idade, e não tenho nenhum título que valorize minha leitura,apenas alma para aconchegar a que chega derramada no papel. Apenas mãos para acariciar o livro, que a muito se tornou meu companheiro e é tão real que chego mesmo a pedir por ti em minhas orações.
Já pensei na possibilidade de enviar as cartas para o meu endereço, pelo prazer de vê-las acomodadas na caixa de correio e imaginar que poderiam ser uma resposta gentil sua.
O que sei a seu respeito é o essencial. Não tenho uma imagem física, na verdade ela não importa, o que sei é que está vivo em algum lugar nesse mundo, e que talvez, nesse instante, estejas fabricando mais uma dessas obras mágicas que saem de suas emoções vividas ou imaginadas, isso também não faz diferença, porque de qualquer maneira saem de dentro dos seus pensamentos e memórias. E elas são a sua verdade. Falando sobre, foram essas suas verdades que me intrigaram. Não estou aqui para classificar, julgar ou condenar verdades alheias. Ora, logo eu, penso que todas as minhas verdades seriam condenáveis. Mas, gosto de gente que possui essa coragem de expor suas verdades, sem a menor pretensão de afirmar que são absolutas. E quando termina um livro, chega mesmo a estar escrito com letras invisíveis: Perdoem-me, só possuo essas verdades,e são elas que me constroem,são as que conheço. Foi o que senti ao fechar o livro. Li tantos livros, e a maioria passaram-me indiferente, foram apenas bons livros. Não, ninguém tem culpa nisso, apenas não me pareceram familiar. Não podemos negar que apreciamos aquilo que mais se aproxime de suas verdades.
Por favor, não estou tentando te colocar nessa enrascada de parecer-se comigo. Não tenho essa ilusão. Porém,algo em ti me completa.Mas,esse raciocínio ainda não está maduro,é apenas uma suspeita. Penso ser prematuro falar sobre isso.
Talvez escrevas ainda em papéis, ou quem sabe tenhas uma dessas máquinas antigas que já falham numa letra ou outra, e seus rascunhos mais pareçam uma invenção de códigos secretos. Gosto de pensar nisso. Quando te levantas e precisava tanto dizer e não encontrou a palavra ideal, porque agora, já não escreves como quando era menino, hoje já há a preocupação com a opinião de um amigo ou outro e por conta disso já não te entrega nos impulsos. Sei que poderia ler os rascunhos,não te julgaria,penso que essa seja a grande obra de um escritor, aquilo que não pode ser publicado. Mas,esteve lá de alguma maneira quando você parou de dedilhar a máquina e mergulhou em suas lembranças secretas.
Foram essas entrelinhas que invadiram minha história. Falando nisso, não comece a tirar conclusões precipitadas, não há nada de errado comigo, embora também não haja muito do comum.
Sei que andei um pouco mais na contra mão do destino do que o recomendável. Apenas me recusei a aceitar passivamente algumas coordenadas naturais sociais. Não comece a pensar que sou fora da lei, apenas não tenho vocação para ser vítima. Assumi cada escolha que fiz e paguei o preço real, nem mais, nem menos. Nem de longe vivo mergulhada em alguma solidão patológica, e adoro beijar na boca. Ou seja, isso não é carência, é um deslumbramento, será que consegue entender isso?
Sou um tipo quase comum, eu acho. Casei e descasei,sem fazer o papel de mulher abandonada,e vou continuar tentando enquanto respirar, gosto dessa história de dois em um,embora com xampu não tenha dado certo .Mas nesse caso, trata-se do tipo de cabelo. Concordo, não poderia ter um cabelo comum. Espero que seja só um problema capilar.
Estou fazendo uma escolha, e ainda não sei o preço que vou pagar por isso. Acontece que nesse caso, trata-se de uma aposta, conheço os riscos, entretanto os desafios são irresistíveis.
Percebo claramente meu destino mudando de rumo, e mergulho no desconhecido, sei que deveria tatear devagar o caminho, mas isso também não faz parte de minha personalidade, nunca fico em cima do muro, decido e lá vou eu, e o próprio destino é quem corre atrás dos meus passos.
Posso afirmar que você cruzou o meu caminho, não sei qual foi a pretensão, o que sei é que há um nome assinado no fim daquelas linhas, e isso te torna responsável de alguma maneira. Espero que se algum dia essas cartas alcançarem milagrosamente seu destino, que ao menos as leia, com o mesmo respeito que abri seus livros.

2 comentários:

Ibel disse...

Cris,

Passa o rascunho a limpo.Continua. O livro será um sucesso.Tu não existes!!!

Cris disse...

Obrigada Flor.
Não fica preocupada,preciso de mais um tempinho para levantar.
Beijos