sábado, 2 de maio de 2009

Ter uma vida de histórias, é diferente de ter uma história de vida.


Numa vida de histórias cabem muitos livros... A maioria nunca será lido... Porque isso é o mesmo que arriscar olhar dentro de outros olhos, o temor humano do momento, encontrar gente. Livros pequeninos, falantes, alegre, sofridos, corajosos... Com todas as estações, por vezes definidas e em outras nem tanto.
Neles, a vida parece não fazer sentido, porque todo sentido se faz.
Como se em uma vida, coubessem muitas vidas, vividas e sentidas ao mesmo tempo, como fosse possível a existência de vidas paralelas. Embora, essa seja só a impressão de uma vida densa.
As personagens podem desaparecer com a mesma rapidez de um sonho, os amores podem nascer no inverno e existir adeus na primavera.
E a morte, seja lá do que for, vem sem romance, ela apenas chega e anuncia o espaço que ficará vazio. E nas palavras ocultas,aquelas que caminham nas sombras dos parágrafos, fica a ordem de prosseguir a escrita.
Esses livros não permitem rascunhos, vão tatuando a alma como a talhar uma pedra.
Pena não caber nos livros aqueles desenhos que os enamorados fazem nas areias da praia, deixam um recado com letras desenhadas de afeto, para serem lidos por ondas, acreditando que saibam onde fazer chegar a leitura. Que lindo ofício misterioso das ondas!
Também não cabem castelos de areia, nem de pedra, nem de coisa alguma, castelos são proibidos, porque nesses pequenos livros as crianças precisam de pão, os homens precisam ser abraçados, ouvidos, e que lhes devolvam sua dignidade.
Os leprosos não são hansenianos, não aqueles que foram marcados pela lepra e esquecidos... Algumas pessoas precisam, ao menos de vez em quando, ouvir a melodia do seu nome, sim,nomes soam como músicas, para desta forma, simples e banal, validarem sua estada na terra, porque leprosos são números arquivados, roubaram-lhes a humanidade.
Nessas pequeninas histórias,“aquela velha chata da vizinha” fez uma reclamação, o que desejava mesmo, era pedir um olhar e um bom dia. Isso parece tão pouco...Acontece que pessoas mergulhadas em suas dores solitárias perdem a coragem de pedir: Olhem para mim, estou aqui, apesar de... Existo. Não nasci “chata e velha”. Esse não é o meu nome. E ser invisível é insuportável. E todos, exatamente todos os seres vivos, começam a envelhecer no momento em que nasce, essa é a única certeza que nos é reservada pelo destino.

2 comentários:

Anônimo disse...

" ser invisível é insuportável".Mas o mundo está cheia de gente invisível e solitária, sem eira nem beira onde cair morta e tendo que acarretar com o desprezo e indiferença dos que se julgam superiores.
Escreve, Cris, Escreve sempre.
Beijos da Lia.

Daniel disse...

Cristina
Cristina
Cristina
Cristina
Cristina
Cristina
Cristina
Cristina
Cristina
Cristina