quinta-feira, 21 de maio de 2009

Hoje as palavras não me ajudam


... Hoje não me servem.
Elas também fugiram em nosso último encontro.
Lembro-me de me perguntar a razão do silêncio. Respondi que não era nada.
Você sorriu e falou: Não sei como pode pensar em ser atriz...Nunca aprendeu a mentir.
Então respondi o que já estava visível em meus olhos:Estou com medo.
Fizestes uma pausa... Perguntastes: Medo de que? Estou aqui.
Não sei. Deveria estar feliz com a viagem ... Mas,temo que não estejas aqui quando eu voltar.
Vou estar aqui a sua espera.Que bobagem.
Repita isso mãe.Por favor.Prometa.
Você não repetiu... Olhou dentro dos meus olhos e percebeu que nos despedíamos.
Aquilo não fazia o menor sentido. Era um absurdo aqueles pensamentos estragando aquele momento.Nossos momentos costumavam ser tão divertidos.Você gostava tanto do meu jeito de menina levada e atrapalhada.
Fecho os meus olhos e posso sentir o calor daquele abraço demorado, o seu cheiro, as lágrimas que não conseguimos evitar. Disse que te amava muito, e que me perdoasse por aquela angústia que não sabia de onde vinha.
Vi você se afastar naquela tarde, e fiquei ali parada, até que meus olhos não pudessem mais te alcançar. E o céu desabou em lágrimas... E boa parte de minha vida seguiu com aqueles passos vagarosos da tarde chuvosa.
Ao voltar, me deparei com aqueles recursos heróicos da medicina, um corpo vazio ligado por fios e tubos, apenas uma casca, que humilhação... Uma violência contra sua história, e nada podias fazer, estavas tão indefesa , distante, vulnerável, e eu só desejava te tirar daquela solidão.

Ah como desejei trocar de lugar contigo...
Gostaria de poder apagar aquela visão. No instante em que a vi, li o prontuário, soube que restará apenas uma casca. E lembrei-me das nossas conversas, quanto te contava sobre meus pacientes da UTI. Afirmavas: Prometa nunca me deixar ligada a uma máquina. Posso confiar não é?
Então... hoje faz um ano, que olhei seu corpo,os aparelhos que respiravam por ti,uma vida ligada a fios e tubos,percebi a queda nos números,olhei para o médico de plantão,e falei: Não faça mais nada,por favor,deixe-a partir com dignidade. Não quero mais que alguém a toque, eu venho preparar e vestir o corpo, aguardo o telefonema... Sai dali lembrando daquela tarde chuvosa, fui em busca de uma rosa amarela, a sua preferida... Algumas horas depois,o telefone tocou.

7 comentários:

Ibel disse...

E agora o que é que eu digo que eu também não sinta? A morte delas nos uniu também. Fui ao teu encontro por causa dessa dor e assim ficámos irmanadas para sempre.
Abraço-te na mesma ternura de rosa,"palhaço de Deus".
Lembras-te?

Cris disse...

Lia...Fico no abraço.
Beijos

Anônimo disse...

Olá Cristina,

Sinto muito pela perda de tua mãe. Realmente, as palavras de ninguém podem ajudar-te e também não servirão para ocupar esse vazio que estás sentindo. Assim, só posso dizer-te que onde estiver, pensarei em ti.
Beijos
Anônimo

Anônimo disse...

Tininha
Imagino o tamanho do vazio.
Só que ficar escondida, ou fugir para o Canadá não vai tapar o buraco.
Tenho acompanhado o que escreves,vi o quanto os meninos cresceram e continuas linda,o tempo parece não lhe deixar marcas. Isso significa que ainda és a mesma menina por dentro.
Pareces uma ave livre,estou enganado?
Não foi muito fácil encontrá-la.
Nunca a esqueci,nem por um único dia em minha vida, por todos esses anos.
Ainda fumas aquele cigarro do tempo do meu avô?
O que fez com o seu futuro de grande atriz?
Precisa saber que iria ler um livro seu, em alto e bom tom, em praça pública.E que algumas pessoas, também viram suas vidas presas seguindo passos,no seu caso rápidos.
Deixei as pistas.
Por saber que hoje, está tristinha identifico-me.
Fênix.
ÓOOOOOOOOOO não contava com essa não é?

Cris disse...

Agradeço anônimo.
Está tudo bem.
Beijos

Cris disse...

Grande garoto!
Me achou...Como vai?
Fênix...Quando tudo isso acabar eu serei a Fênix,pode acreditar.Só uma outra pessoa me chamava de Tininha além de você.Minha mãe.
Titina ou Tininha.
Nem sei o que dizer,ainda não estou acreditando que me encontrou.
Vou deixar meu email,pode ser?
clownvianna@hotmail.com,esse também é o meu MSN
Tenho Orkut também,mas estou como Cristina Seki,e quase não acesso a página.
Os meninos cresceram,e cada um está seguindo seu caminho,e não aprendi a fazer crochê,então estou mesmo pensando em ir para o Canadá.
Tem razão quando fala que não cresci,ainda acredito que tenha alguém a minha espera em Québec,e que vamos nos encontrar e nunca mais seremos solitários.O único problema é que não tem o cigarro do seu avô em Québec,talvez isso me impeça de ir embora(risos).
Também, lá faz bastante frio,e se me atrapalhar e não encontrar o tal sujeito,o que é bastante provável,chorar no frio vai ser mais complicado não acha?
Engavetei os velhos sonhos.Estou mais ou menos assim: Escritor de gaveta,artista sem palco,palhaço sem picadeiro...Mas,tudo tem jeito.
Ando elaborando novos sonhos.Não tão ousados,mas são divertidos.
Agora conte-me tudo e não me esconda nada...
Beijos de sol.

Elisabete disse...

Finalmente, posso deixar o meu abraço apertado.
E texto é lindo e triste e compreendo-te perfeitamente. Também perdi a minha Mãe quando eu tinha apenas 22 anos.