sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Aflição de ser eu e não ser outra




"Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser amor,
aquela que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.
Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.(A noite como fera se avizinha)
Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel
Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra."


Hilda Hilst

2 comentários:

Anônimo disse...

É mesmo assim, Cris" Aflição de ser eu e não ser outra".
Às vezes acontece, mas depois vem-me este amor por mim e fico dentro da casa que sou eu toda mais os meus olhos cheios da verdura dos campos e a frescura das águas.E então sou terra e água.

Cris disse...

Lia
É um aflição terrível, como duelar com tudo que esta dentro de nós, e descobrir o nada.
meus olhos estão nublados, talvez por isso não consiga ver a verdura dos campos, mas tenho certeza que uma hora destas, vou abrir as janelas e perceber que o sol retornou,vou caminhar descalça, sentir o cheiro da chuva, e quando parar para pensar, perceber que me restou uma vida ampla pela frente.
Daí acreditar que posso ser terra água, fogo, e deixar de ser poeira.
Beijos no coração que tanto amo.