quarta-feira, 3 de junho de 2009

Dia 23 de junho de 1936 - Nascia Richard Bach.



Ainda acho que no planeta errado,mas tudo bem.

Será que existe mesmo essa história de astrologia?

Temos tanto incomum,além de uma vida errada,o mesmo signo.Talvez isso justifique alguma coisa.

Vamos voltar a nossa conversa.Sim. Porque livros falam. E nossa relação nunca foi um monólogo. Sei que não tenho um rosto ou um nome para você,mas de alguma maneira escreveu sabendo que alguém como “eu” iria ler e entender o que que escreves. Esse “eu”,significa apenas uma existência que daria significado a escrita,nada de avaliações de forma, nada ligado a gênero ,número ou grau. Apenas um dos destinos do livro,o coração de um leitor ou um canto qualquer em um móvel fixo. E assim construimos uma história juntos, eu do lado de cá a espera dos próximos passos e você do seu lado imaginando se ainda teria interesse em ler o que tens para dizer. Sei como escreveu sua vida e o quanto isso interferiu na minha.
Algumas vezes tive a impressão que me conhecias,e estavas mandando um recado.Antes mesmo de chegar aqui, já previas meu futuro de :Estranho à Terra. Quantos anos será que levou para publicar teus medos metaforizados em voos difíceis? Daqui a precisamente três semanas completas 73 anos e isso deve significar alguma vitória não? Já não contas horas de voo, e talvez fosse mais fácil contar horas em terra. Sim,você venceu as probabilidades e precisa saber disso. Estranho à terra é um bom título para um homem de 27 anos que já se percebe como a extensão de um voo.Aos trinta continuas insistindo em não falar das dores que te consomem ,e te sentes como o herói de um Biplano.Aos trinta e três começas a acreditar que Nada é por acaso, será? Quarenta anos se passaram e gostaria de dizer a esse homem de 73 que nada é por acaso e medir a resposta pelo tamanho do sorriso e o brilho dos olhos.
Richard sabe aquelas coisas que só acontecem uma vez na vida? Estou aqui pensando se percebeu isso quando lançou Fernão Capelo Gaivota . Uma vez só querido. BUM aos 34 anos. Você acreditou que iriam te ouvir.Que poderias falar do menino que perdeu o irmão sem poder chorar,e que levou muitos anos com o grito preso no peito. Ledo engano, ninguém estava se importando com a sua dor,adoraram uma gaivota rebelde...Uma gaivota que preferia morrer a ter que engolir o lixo do mundo. Roubaram-te o chão. Sei que estava derramado naquele livro o fracasso do seu casamento e perda de sua menina de 15 anos e mergulhou como Fernão do voo da morte.Mas,sobreviveu. E levou tempo para perceber que a vida e a morte estavam em mãos superiores a designação. Agora já tinhas 38 anos e catalogavas alguns fracassos emocionais,e eu tinha sete e aprendia a desvendar esses códigos escritos.Falavas então de: O Dom de Voar. Acreditei. Sei que me enganou com seu engano,por isso não o julgo.
Agradeço quando me falou que :Longe é um lugar que não existe.Tinha nove anos e já conhecia bem o que era amar de longe,e o significado da saudade. Entretanto,apenas quando alcancei os quarenta anos,a idade que tinhas naquela época,e fiz uma nova leitura, a interpretação já não era tão doce querido.
Agora realmente o frio está ladeando meu corpo , a medida em que a madrugada avança.
Pronto , chegamos aos 41,e estou triste comigo. Quando alcançou os 41 escreveu Ilusões e se escrevesse um livro hoje, talvez o título fosse: Valeu a pena? Sim Richard,dei minha vida para me tornar a pessoa que sou neste momento...Valeu a pena?
Ainda me recordo da jovem de 17 anos,sim,era essa a idade que tinha quando escreveu:A Ponte para o Sempre,como pode arriscar fazer isso?Acreditar em alma gêmea aos 48 anos e sem nenhum pudor derramar-se naquele feitiço. Por que não consigo mais acreditar nessas coisas? Em balões. Em par. Em chaves e fechaduras. Porque descobri que estavas enganado.Entretanto, deve ter sido um bom engano,durou quatro anos. Foi muito forte o próximo livro e vibrei contigo:UM. Não precisava ler,o título já dizia tudo.Um.Quatro anos eternos. Não tenho quatro anos.Mas,tenho alguns instantes eternos,sei que entenderias se pudesse lhe contar.Nunca vou esquecer como terminou aquele livro: ...voltei para minha cadeira,ao lado de Leslie,e segurei-lhe a mão. O dia mal havia começado. Se pudesse te contar a minha história eu diria: Segurei-lhe a mão e a vida então começava...Como é mesmo aquela história de que a vida é exatamente como a imaginamos? Gosto dessa parte.
Fugindo do Ninho aos 58 anos Richard? Isso é o que considero ter coragem para escrever sua história.E aos 63 você diz: Estou fora de mim. Eu também estou meu querido.Mas,vim aqui fora, para me acusar por todos esses enganos.Mas, não foi o que ocorreu contigo,ao menos tentou enganar-me, fingindo ter descoberto uma nova saída.
Aos 67 me dou conta que abandonaste o Fernão de vez. Ele ficou lá atrás. E morreu inutilmente. E todos os que vieram depois continuaram a ser os lixeiros do mar.Vem então, a era dos Furões.E começou a me tapear com: Resgate no Mar e aos 68 finaliza com essa loucura de: Manual do Messias - Um guia para a alma avançada .E depois sai de cena como se não tivesse me acompanhado por todos esses anos. E não responde minha pergunta: Valeu a pena?
Então...O que descobriu nos últimos cinco anos?
Engano o seu que alguém nunca tenha se apaixonado pela fragilidade daquela gaivota. Ela fará 73 anos daqui a três semanas e ainda creio nela,ainda que não possa mais voar.
Presentes de lata e vidro ,quebram e amassam um dia , lembra? O que tenho para lhe oferecer não pode ser visto por olhos humanos...Nunca esqueci.

Assim como jamais vou esquecer, que podemos oferecer algo a alguém,mas não podemos fazê-lo aceitar a oferta...

6 comentários:

Anônimo disse...

Cris, eu prometo aceitar o que venha de ti.E os teus textos são um presente valioso de uma alma que é uma iluminura de um anjo.Ou será de um palhaço? Anjo ou palhaço, são sempre de Deus, pois Cristo amava os corações generosos e grandes como praias onde os pés dos homens não pisam.

LIA

Cris disse...

Minha flor
Não conheço outra pessoa que tenha tamanha doçura nas palavras,ou que seja tão aconchegante como aquela noite de paz que passei a seu lado.
É tão importante ser aceita,isso faz minha vida ser realmente vida,e é tão maravilhoso apenas ser.Não consigo explicar.Acontece que sendo aceita passo a existir para alguém e se esse alguém possui um coração tã generoso e lindo como o seu,faz com que minha vida nesses momentos seja primavera.
Valeu a pena concluo. Valeu a pena chegar até aqui para ser aceita como sou.
Não sou eu, o anjo nessa história.
Você é o anjo e eu um palhaço chorão e atrapalhado que não consegui crescer e nem brincar de gente grande.
Deus te abençoe meu lar.

Elisabete disse...

Não há enganos.
Os acontecimentos que recaem sobre ti,
por muito desagradáveis que sejam,
são necessários para que aprendas
aquilo que precisas aprender.

Cada passo que dás
é necessário para chegar ao local
que escolheste.

Richard Bach

Chegar ao local escolhido, Cris. Acredito que chegarás lá. E quem sabe se o caminho para lá chegares passa por esses belos textos que escreves?
Forte abraço

Daniel disse...

Cristina
Não conheço melhor lugar onde guardar um livro do que o teu coração.

Cris disse...

Elisabete
Tens razão minha querida.Não são enganos,são inquietudes que movem essa luta diária.Os largos pasos ddos pela história foram marcados por seres inquietos.E assim avançamos. Esse é o mundo que escolhi para sentir a vida pulsar,são as vozes que gosto de ouvir,como se algumas verdades divina viessem através dos meus escritores.
Tenho a impressão de que somos uma minoria não é? Entretanto,o que realmente importa é que falamos a mesma língua,independente do código linguístico.
E existe em minha vida uma Elisabete.Isso faz muita diferença.
Um beijo enorme para um coração tã gigante.

Cris disse...

Daniel meu querido
Feliz é o meu coração que teve a felicidade d ler-te e a sorte de poder te guardar.
Beijos no seu.