segunda-feira, 29 de junho de 2009

Amor I Love You - Marisa Monte

.....................................Deixa eu dizer que te amo...
Deixa eu gostar de você.
Isso me acalma.
Me ajuda a viver....

......"Tinha suspirado
Tinha beijado o papel devotamente
Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades
E o seu orgulho dilatava-se
ao calor amoroso que saia delas
Como um corpo ressequido
que se estira num banho tépido
Sentia um acréscimo de estima por si mesma,
E parecia-lhe que entrava enfim
Numa existência superiormente interessante
Onde cada hora tinha o seu encanto diferente
Cada passo conduzia a um êxtase
E a alma se cobria de um luxo
radioso de sensações"

quinta-feira, 25 de junho de 2009

Amigo







Não posso acreditar! Quanto tempo! Nossa !!!!Como sinto sua falta!
O que foi?
Não está lembrado de mim?
Impossível!
Não fica me olhando desse jeito. Diga algo gentil.
Hum! Vindo de ti, é sempre bom ouvir isto.
Já conhecia o sul da ilha?
Acho que tem razão. Por essas bandas o vento entra na ilha afobado.
Moro logo ali.
Posso passar um café e assar pão de queijo, enquanto conversamos um pouco.
Preciso muito conversar contigo.
Hei, não faz assim! Não precisa defender-se de mim.
Lembra:Eu te amo, porque te amo.???
Seja gentil. Confesse que veio, porque também senti saudades.
Assim me encorajas a continuar o assunto e a querer passar o café.
Desde quando essa azia?
Tudo bem. Vamos fazer do seu jeito.
Quem sabe se sentarmos ali?
Dá para ver o mar e ficamos abrigados do vento.
Por que não vai tirar o sapato? Tenta, é gostoso por os pés descalços na areia.
Ainda mais nesta areia fina e branquinha.
Tudo bem faça como quiser.
Não pretendo aumentar a distância que nos separa.
Não, não estou deprimida, estou angustiada é diferente.
Não tente adivinhar, tenha um pouco de paciência.Espere.Posso explicar o quanto aprendi a assimilar a ausência.
- Como a dor é inevitável e o sofrimento opcional?
- Não dê os ombros para mim, parece um menino birrento, não sou eu quem está com sapatos engraxados na areia, e ainda com esse lenço nas mãos tentando limpar o inevitável.
Ao menos aprendi a não lutar contra o impossível.
Não me faça rir agora, vou perder o tom dramático da conversa, e a oportunidade ímpar de falar contigo.
Sim. Lá adiante é a Ilha do Campeche.
Possui uma praia paradisíaca e vários sítios arqueológicos.
Está tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.
Não. Nunca cheguei até lá senão com o pensamentos. Ando praticando essa técnica. Estou graduada amigo.
Drummond será que pode parar de limpar os sapatos e prestar atenção um instante sem me interromper?
Não estou ficando brava.
Estou fazendo um pedido. Não vai demorar e sei que vai anunciar que meu tempo acabou e não consegui nada mais do que tentar convencer-te a me ouvir.
Sinto-me como uma criança que apanhou uma surra sem o menor espaço para argumentos.
Não, não é sempre assim, nem sempre quem bate tem razão.
Quer dizer: Nem sempre apanhamos por merecer.
Por favor, deixe-me ao menos concluir minha introdução, aliás, ela era bem melhor, não contava com suas interrupções.
Nossa como eu estava com saudades, meu querido rabugento!
Espera. Pensei em algumas frases histéricas, surreais, elas ajudam, trazem à tona a vontade de chorar.
É difícil manter-me no tom dramático contigo a me olhar assim com estes olhos de quem já sabe o que vou dizer.
Adoro quando abre esse sorriso tímido para mim.
Devias sorrir mais,ficas com olhos de menino.
Não, não vou falar de amor e não quero discutir política,ou papo cabeça. Embora amigo, estamos praticamente sem opções. Os partidos estão descaracterizados.
Não é ético citar nomes, não me complica.
Deus? Nem me fala amigo, descuidou-se novamente, enviou-me um anjo da guarda carioca, tenho negociado, mas, não estou com muito crédito.
Como é um anjo da guarda carioca?
É um bom anjo, o problema é que atrapalhasse facilmente, adora futebol, se tem jogo, não conte com ele, se tem sol, vai à praia, se chove, não sai de casa, e se está frio fica debaixo as cobertas,e ainda finge estar deprimido. Está rindo porque não é o seu anjo. Sabe o que ele fez comigo?
Trouxe-me uma carta. Estava assobiando.Imaginei logo: Vem confusão.
Sabe o que tinha dentro?
Um amor Drummond. Dos bons. Aqueles antigos, entende?
Aqueles que vem para ficar. Que desarruma a vida.
Por quê estou reclamando? Simples. A carta chegou com muitos anos de atraso.
E ele só entregou a minha. Essa cartas costumam ser pares. Ou seja,ele perdeu a outra e não se envergonhou disso.
Não, não fale assim! É um bom anjo. É estagiário, dá um desconto. Ele andava trabalhando no Rio, e foi mandado para o Sul.
Promoção? Não sei. Deve estar se recuperando do stress.
Espere, ainda não falei o que precisava.
Por que está olhando as horas?
Estás de carro?
Posso te dar uma carona.
Onde quer ficar? Sei. Não fica longe daqui.
Podemos conversar enquanto te levo.
Como sabia que esse era o meu carro?
Não achei graça. Chega de limpar os sapatos.
Espere um pouquinho. A porta não abre por fora.
Amassados são como rugas, contam histórias.
Não pretendo fazer plástica no meu carro.
Você tem que ter calma. Ele sempre pega.
Não, não vai precisar empurrar.
Dê um tempo a ele. Sim é pequeno por fora e espaçoso por dentro.
A que horas parte o seu trem?
Sendo assim, ainda temos uma hora e meia.
Viu, pegou! Fica calmo! Não vou bater, estou vendo, posso fazer esta manobra de olhos vendados.
Não vou correr, estamos cheios de radares e ainda tem os radares móveis, nunca sabemos quando vamos ser pego,é prudente não arriscar.
Também estou feliz de estar contigo.
Adoro quando me olhas desse jeito.
Não liga o rádio, ainda não conversamos.
Quero falar de uma máquina moderna.
Deixa eu explicar. É como aquelas de escrever, parecida com as eletrônicas, lembra? Só que nesta você não precisa arrancar a folha quando muda o curso do pensamento, ou quando os dedos erram as teclas. Basta apertar o delete, é uma tecla que apaga os erros, ou permite que mude o rumo do pensamento. Sim. Ela é passiva.
São inúmeras as vantagens.
Pode interagir com o mundo inteiro, estar sempre atualizado, e até saber o rumo de um míssil no instante em que fora lançado. Ah, também pode amar pessoas que nunca viu. Que não conhece o cheiro, a voz, os traços, também tive essas dúvidas no começo.
Não fale assim comigo!Não estou louca!
Esquizofrenia ainda não catalogada?
Gostei dessa. Mas, não gosto deste teu olhar desconfiado.
Preciso reclamar desta máquina, só um pouco, depois eu mesma a defenderei. Ela roubou as tardes de sábado, as caminhadas de mãos dadas, as cadeiras estendidas nas calçadas, às conversas na quitanda, os jovens na praça, os flertes, aqueles olhos nos olhos. As idas ao cinema. Como podes duvidar do que falo?
Namoram pelo Orkut, MSN ou emails.
Calma. Se não conhece, não pode falar assim comigo.
Parei porque estou aqui pensando se vou mesmo te levar a estação.
Quem é que falou:
Quando o homem atingir este nível de cultura estarei morto!
Quem é que indagou: Agora os homens fazem amor pelo sem fio?
Sabe o que aconteceu? Fazem amor por esta máquina.
Através dela pode ser quem quiser. Há um monte de super-homens nesse meio.
Nunca falham.
Não gostei da piada. Não teve graça. Estou brava, preciso reclamar, pensei que pudesse me entender.
Como assim? Eu não faço isso. Fico com as falhas.
O namoro anda em extinção, agora as pessoas ficam.
Já estou indo.
Não me culpe. É o trânsito, cada vez há mais carros. A Ilha está ficando pequena. E nem estamos na alta temporada.
Olha, aqui é a via expressa sul. Lá adiante há um túnel. Quer parar um pouco?
Não estamos longe. Ainda há tempo. Ficar? Não sei bem. É um direito conquistado, pode beijar e ficar com quantos quiser numa noite.
O que é isso? Não fale assim. Não falo de profissionais, é comum e cuida porque no lugar da tal censura, agora há processos se alguém for ofendido moralmente.
Será que consegue perceber como estou?
Não há salas de cinemas nas ruas, elas foram transformadas em Igrejas Evangélicas, e por lá tem uns corretores de imóveis do céu. Se tiver um poder aquisitivo alto, consegue garantir uma boa casa com piscina meu caro.
Eu não. Está gozando da minha cara não é?
Quando chegar minha hora, vou procurar o pessoal do MST.
Não, não quero falar sobre o movimento dos sem terra.
Vamos continuar a falar da máquina.
Olha lá à sua esquerda.
Esta ponte é nova. Aquela está interditada, é a Hercílio Luz, dizem que ainda vão recuperá-la, mas entra governo e sai governo e isso não acontece. Sim, é uma pena.
Olha lá em cima á direita. Hospital de Caridade. Foi o primeiro hospital de Santa Catarina, inaugurado em 1789. Em 1994, um incêndio destruiu 70% da área construída. Foi uma tragédia, lá estava abrigada grande parte da história do Estado.
Foi privatizado.
Aqui é o mercado Público. Sim. Eram aqui que os comerciantes da Ilha vendiam peixes, carne de sol, os grãos, mandioca, hortaliças, enfim.
A maioria eram escravos de ganho, forros e brancos pobres.
Estamos em cima do aterro, o mar alcançava até ali onde estão as lojas hoje.
Por favor, pode pegar minha bolsa?
Preciso de um cigarro.
Está bem eu aguento mais um pouco.
Já estamos chegando à Beira-Mar.
Partilhamos à mesma opinião: Há algo aqui que não conseguimos descrever, é preciso sentir.
Estou te olhando, porque vou te deixar aqui, e meu coração já está apertado.
Chega mais perto, quero falar baixinho ao pé do ouvido: A máquina apaga sem deixar rasuras. Consolo-me em saber que ela sempre dependerá de um homem para apertar o botão.
Chegamos.
Ah, estou olhando porque não temos trens em Florianópolis.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Sou sombra

Estou diante de uma vida ampla
Sem promessas
Sem sonhos
Sem destino
Flutuo
Como uma sombra
Silenciosa.
Defendo-me dos semi-deuses
Contorço-me entre sonho e realidade
Numa luta solitária
Nesse monólogo de amor.
Pena eu ser assim...
Não saber ser de outro jeito.
Vida ampla
Vida larga
Sem ponto de chegada ou partida.
Aguardando um milagre
Acreditando em miragem.
Sem amarras
Sem porto
Sem dono
Sem direção.
Apenas amplidão.
Cristina Vianna

domingo, 21 de junho de 2009

inverno_Adriana calcanhoto

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segunda-feira, 15 de junho de 2009

Dia branco


Há tempos assim... As palavras tiram férias de nós. Ficamos assim vivendo num mundo sem rostos. Parece que todos perderam a fisionomia. Pasárgada não está triste, apenas silenciosa.
Todas as palavras parecem cópias, ou repetitivas. Como se estivessem no piloto automático.
E creio que meus neurônios estão hibernando... Preciso do dia branco.
Leio,leio ,leio,leio,releio, enfim... Nada de novo. Começo a compreender o que é despedir-se dos vinte anos. Tudo parece inédito, vida parece correr numa rotação acima.
De repente vem à era dos descartáveis, e a despedida dos bons anos, e você vai ficando com cara de copo branco, aqueles que têm que pegar com leveza. Há dias em que chega mesmo a ser preocupante.
Todos reclamam de alguma coisa. O governo, as injustiças, o passado, reclamam e defendem vítimas e culpados como se fosse alterar alguma coisa. E não sei o que fazer em meio a tudo isso. Estou sem palavras. Impotente. Sem referências. Devo estar naquela idade do vácuo, já não tão jovem e nem tão madura. Deve ser a função principal ficar em silêncio e tentar perceber para onde sopra o vento.
Aos anônimos digo que não há nada de errado comigo, apenas estou dando um trato aqui em Pasárgada e se o telefone tocar... Atendo.
O recomeço tem que ser belo... Puxei o freio de mão. E não tenho nada para reclamar.
Também não há nada novo para contar. Não estou com dor de cotovelo. E tenho estado pouco com a máquina. Não estou em OFF, é bom que fique claro isso também.E não respondo a emails malcriados. Nunca os respondi, portanto, isso não é novidade. Quanto aos meus amigos portugueses, não vou alimentar essa discussão também. Vou voltar a moderar os comentários até que a crise de bobeira passe. É muito feio sentir ciúmes, e é injusto colocar a culpa no amor.
Não mudei em nada, nada mesmo. Estou em casa, é só aparecer... Vou esperar...

domingo, 14 de junho de 2009

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Preciso de asas, para vencer meu destino.
Romper fronteiras... Enganar a realidade que me assombra.
Desbravar horizontes, espantar os fantasmas.
Pode ser um barco
Que me ajude a vencer o mar.
Preciso sair dessa imobilidade
Diante dessa tela luminosa e fria.
Levantar minha vida dessa cadeira onde me deixei enganar.
Esquecer essa máquina mentirosa.
Aguardo uma palavra.
A mensagem demora a chegar...
E quando chega, não traz as palavras que preciso ouvir.
Já não brinca de enganar.
Contorço-me e choro diante do impossível.
Mergulho nessa indiferença e falta de amor por mim.
Começo a enxergar coisas que não quero ver.
Como o descolorir de uma face.
Desesperadamente, tento lhe devolver as cores.
Recusas. Rouba minha possibilidade de sonhar.
Deixa claro que a brincadeira acabou.
Sou um brinquedo desvendado, sem encantos.
Fico ali acariciando uma tela luminosa. Fria.
É uma máquina.
Abaixo os olhos e choro como criança
No desamparo dos meus enganos.
Como pude acreditar nessa brincadeira?
Como pude amar o desconhecido?
Posso desligar a máquina.
E deixarás de existir.
E assim deixarei de sonhar.
Embora falta-me a certeza se deixarei de amar.
Aceitei ser um brinquedo... mas, esqueci que em brinquedos, não deve pulsar um coração...

sábado, 13 de junho de 2009

sexta-feira, 12 de junho de 2009

Iolanda (Chico Buarque)

"Solidão não é a falta de gente para conversar,
namorar, passear ou fazer sexo...
Isto é carência!

Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência
de entes queridos que não podem mais voltar...
Isto é saudade!

Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe,
às vezes para realinhar os pensamentos...
Isto é equilíbrio!

Solidão não é o claustro involuntário que o destino
nos impõe compulsoriamente...
Isto é um princípio da natureza!

Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado...
Isto é circunstância!

Solidão é muito mais do que isto...

Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos
e procuramos em vão pela nossa alma."
Fátima Irene Pinto.

Essa canção é muito mais que uma canção,quem dera fosse uma declaração de amor...e chegasse ao coração do meu namorado.
... Eternamente te amo.
... Quando te vi,tive a certeza de que seria descoberta...é verdade que me abres o peito quando me acumulas de amor.
Bem que gostaria de gritar seu nome ...

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Você não sabe

Não consigo esquecer aquela noite...
Meu coração em descompasso, quase impossível dizer adeus e continuar viva.
Você ali parado diante dos meus olhos, a um passo das minhas mãos, sem que eu pudesse tocar. Deixando-me partir sem me acolher ou aconchegar, uma última vez.
Sem uma palavra que validasse aquele sofrimento, que consolasse a dor de não poder ser sua.
Não sei se parti, ou fui embora, há uma grande distância...
Vaguei na contramão do tempo, num mundo sem rostos,
Escondendo-me num canto do mundo.
Por um tempo, cheguei a acreditar que não sobreviveria a tamanha indiferença. Ou sua falta de amor por mim.
Desejei fugir de qualquer pessoa que pronunciasse seu nome.
De todas as coisas que me lembrassem seus olhos.
Esconder-me da brisa, que me lembrava o toque de suas mãos em minha pele.
Entretanto, foi necessário ir um pouco mais longe...
Defender-me de mim mesma... Tudo em meu espelho lembra você.

...Você não sabe até onde chegaria amor igual ao meu.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

marilia pera 120 150 200 km por hora especial elas cantam roberto carlos 2009 mircmirc

As coisas estão passando mais depressa
O ponteiro marca 120
O tempo diminui
As árvores passam como vultos
A vida passa, o tempo passa
Estou a 130
As imagens se confundem
Estou fugindo de mim mesmo
Fugindo do passado, do meu mundo assombrado
De tristeza, de incerteza
Estou a 140
Fugindo de você
Eu vou voando pela vida sem querer chegar
Nada vai mudar meu rumo nem me fazer voltar
Vivo, fugindo, sem destino algum
Sigo caminhos que me levam a lugar nenhum

O ponteiro marca 150
Tudo passa ainda mais depressa
O amor, a felicidade
O vento afasta uma lágrima
Que começa a rolar no meu rosto
Estou a 160
Vou acender os faróis, já é noite
Agora são as luzes que passam por mim
Sinto um vazio imenso
Estou só na escuridão
A 180
Estou fugindo de você

Eu vou sem saber pra onde nem quando vou parar
Não, não deixo marcas no caminho pra não saber voltar
Às vezes sinto que o mundo se esqueceu de mim
Não, não sei por quanto tempo ainda eu vou viver assim

O ponteiro agora marca 190
Por um momento tive a sensação
De ver você a meu lado
O banco está vazio
Estou só a 200 por hora
Vou parar de pensar em você
Pra prestar atenção na estrada

Vou sem saber pra onde nem quando vou parar
Não, não deixo marcas no caminho pra não saber voltar
Às vezes, às vezes sinto que o mundo se esqueceu de mim
Não, não sei por quanto tempo ainda eu vou viver assim

Eu vou, vou voando pela vida
Sem querer chegar

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Dia 23 de junho de 1936 - Nascia Richard Bach.



Ainda acho que no planeta errado,mas tudo bem.

Será que existe mesmo essa história de astrologia?

Temos tanto incomum,além de uma vida errada,o mesmo signo.Talvez isso justifique alguma coisa.

Vamos voltar a nossa conversa.Sim. Porque livros falam. E nossa relação nunca foi um monólogo. Sei que não tenho um rosto ou um nome para você,mas de alguma maneira escreveu sabendo que alguém como “eu” iria ler e entender o que que escreves. Esse “eu”,significa apenas uma existência que daria significado a escrita,nada de avaliações de forma, nada ligado a gênero ,número ou grau. Apenas um dos destinos do livro,o coração de um leitor ou um canto qualquer em um móvel fixo. E assim construimos uma história juntos, eu do lado de cá a espera dos próximos passos e você do seu lado imaginando se ainda teria interesse em ler o que tens para dizer. Sei como escreveu sua vida e o quanto isso interferiu na minha.
Algumas vezes tive a impressão que me conhecias,e estavas mandando um recado.Antes mesmo de chegar aqui, já previas meu futuro de :Estranho à Terra. Quantos anos será que levou para publicar teus medos metaforizados em voos difíceis? Daqui a precisamente três semanas completas 73 anos e isso deve significar alguma vitória não? Já não contas horas de voo, e talvez fosse mais fácil contar horas em terra. Sim,você venceu as probabilidades e precisa saber disso. Estranho à terra é um bom título para um homem de 27 anos que já se percebe como a extensão de um voo.Aos trinta continuas insistindo em não falar das dores que te consomem ,e te sentes como o herói de um Biplano.Aos trinta e três começas a acreditar que Nada é por acaso, será? Quarenta anos se passaram e gostaria de dizer a esse homem de 73 que nada é por acaso e medir a resposta pelo tamanho do sorriso e o brilho dos olhos.
Richard sabe aquelas coisas que só acontecem uma vez na vida? Estou aqui pensando se percebeu isso quando lançou Fernão Capelo Gaivota . Uma vez só querido. BUM aos 34 anos. Você acreditou que iriam te ouvir.Que poderias falar do menino que perdeu o irmão sem poder chorar,e que levou muitos anos com o grito preso no peito. Ledo engano, ninguém estava se importando com a sua dor,adoraram uma gaivota rebelde...Uma gaivota que preferia morrer a ter que engolir o lixo do mundo. Roubaram-te o chão. Sei que estava derramado naquele livro o fracasso do seu casamento e perda de sua menina de 15 anos e mergulhou como Fernão do voo da morte.Mas,sobreviveu. E levou tempo para perceber que a vida e a morte estavam em mãos superiores a designação. Agora já tinhas 38 anos e catalogavas alguns fracassos emocionais,e eu tinha sete e aprendia a desvendar esses códigos escritos.Falavas então de: O Dom de Voar. Acreditei. Sei que me enganou com seu engano,por isso não o julgo.
Agradeço quando me falou que :Longe é um lugar que não existe.Tinha nove anos e já conhecia bem o que era amar de longe,e o significado da saudade. Entretanto,apenas quando alcancei os quarenta anos,a idade que tinhas naquela época,e fiz uma nova leitura, a interpretação já não era tão doce querido.
Agora realmente o frio está ladeando meu corpo , a medida em que a madrugada avança.
Pronto , chegamos aos 41,e estou triste comigo. Quando alcançou os 41 escreveu Ilusões e se escrevesse um livro hoje, talvez o título fosse: Valeu a pena? Sim Richard,dei minha vida para me tornar a pessoa que sou neste momento...Valeu a pena?
Ainda me recordo da jovem de 17 anos,sim,era essa a idade que tinha quando escreveu:A Ponte para o Sempre,como pode arriscar fazer isso?Acreditar em alma gêmea aos 48 anos e sem nenhum pudor derramar-se naquele feitiço. Por que não consigo mais acreditar nessas coisas? Em balões. Em par. Em chaves e fechaduras. Porque descobri que estavas enganado.Entretanto, deve ter sido um bom engano,durou quatro anos. Foi muito forte o próximo livro e vibrei contigo:UM. Não precisava ler,o título já dizia tudo.Um.Quatro anos eternos. Não tenho quatro anos.Mas,tenho alguns instantes eternos,sei que entenderias se pudesse lhe contar.Nunca vou esquecer como terminou aquele livro: ...voltei para minha cadeira,ao lado de Leslie,e segurei-lhe a mão. O dia mal havia começado. Se pudesse te contar a minha história eu diria: Segurei-lhe a mão e a vida então começava...Como é mesmo aquela história de que a vida é exatamente como a imaginamos? Gosto dessa parte.
Fugindo do Ninho aos 58 anos Richard? Isso é o que considero ter coragem para escrever sua história.E aos 63 você diz: Estou fora de mim. Eu também estou meu querido.Mas,vim aqui fora, para me acusar por todos esses enganos.Mas, não foi o que ocorreu contigo,ao menos tentou enganar-me, fingindo ter descoberto uma nova saída.
Aos 67 me dou conta que abandonaste o Fernão de vez. Ele ficou lá atrás. E morreu inutilmente. E todos os que vieram depois continuaram a ser os lixeiros do mar.Vem então, a era dos Furões.E começou a me tapear com: Resgate no Mar e aos 68 finaliza com essa loucura de: Manual do Messias - Um guia para a alma avançada .E depois sai de cena como se não tivesse me acompanhado por todos esses anos. E não responde minha pergunta: Valeu a pena?
Então...O que descobriu nos últimos cinco anos?
Engano o seu que alguém nunca tenha se apaixonado pela fragilidade daquela gaivota. Ela fará 73 anos daqui a três semanas e ainda creio nela,ainda que não possa mais voar.
Presentes de lata e vidro ,quebram e amassam um dia , lembra? O que tenho para lhe oferecer não pode ser visto por olhos humanos...Nunca esqueci.

Assim como jamais vou esquecer, que podemos oferecer algo a alguém,mas não podemos fazê-lo aceitar a oferta...

terça-feira, 2 de junho de 2009

Hora de fechar o livro ... Esquecer as cartas...



O inverno bate a porta do tempo, e então, percebemos que percorremos todos os caminhos errados.
Vou fazer o vôo do Fernão... Sussurrar no ouvido de Richard que escolhi o caminho inverso. Ao menos tenho como dizer o que acontece com quem escolhe a segunda opção ao atravessar a ponte. Cheguei mesmo a acreditar em princesas e cavalheiros. E o mestre dos sonhos, não existe,eu o criei , recriei, e o destruí na velocidade dos sonhos.
O que restou?
Descobri que meu destino está além das fronteiras e se foi para sempre...
Richard você mentiu. E o pior é que acreditei em suas mentiras. E hoje, elas me corroem a alma. Penso que não mentiu de propósito. Você também acreditou em sonhos... Embarquei contigo em Ilusões. Hoje compreendo porque trocou gaivotas por Furões. Talvez, todas àquelas horas de vôo tenham sido em busca do menino que Exupéry nos desenhou. Ele também mentiu. Precisou criar aquele menino para sobreviver ao deserto de si mesmo. E nós dois caímos nessa mentira, e voamos por acreditar que uma rosa pode ser única no mundo. Atravessamos esse deserto em busca de uma raposa simpática e ela quase nos devorou. E por fim, encontramos lojas de amigos, mas não tínhamos o dinheiro para aquisição. E o amor é uma moeda que a muito esta fora de circulação, e não nos atentamos para isso. Gostaria ao menos de ter lhe encontrado uma única vez, ainda que não falássemos a mesma língua, penso que, bastaria nos olharmos dentro dos olhos e tudo estaria dito. Diga que ao menos acredita nisso...
Sua literatura é menor Richard,sinto muito,quem se interessa por aviões no deserto, gaivotas que quebram regras, jogos de xadrez como interação e divórcios?
E o Messias? Você é louco.Calma ,estou nessa contigo.
Uma Ponte para o Sempre? Qual é o seu problema Richard.Como pode escrever esse livro?
Quem vai estar interessado nas dores,inquietações e buscas de um autor?
Eu? Sinto muito. Sou apenas poeira.
Fico imaginado quantos desistiram de ir até o fim da leitura da Ponte para o Sempre, porque buscavas um amor, e acreditavas em alma gêmea, poupe-me Richard, você apelou. Isso não existe. E sabe o que mais? Estive todo aquele tempo contigo, torci pra valer para que conseguisse encontrar. Sabe quantas vezes li aquele livro? Perdi a conta. Mas, durante vinte anos foi o meu livro de cabeceira. E por todos esses anos acompanhei cada novo livro seu, desejando sabr como você estava,e sofri com sua mudança para os Furões, percebi que estava sofrendo ou desacreditando.
Eu o compreendo,juro, sou toda errada como você.Talvez sejamos esquizofrênicos,ou quem sabe caímos em uma planeta errado,não importa,sempre soubemos que fomos frutos de um acidente sexual. E vivemos como acidentes.
Meu amigo escritor, tão solitário e pouco amado,hoje, apenas hoje, sei exatamente o que sentias quando abandonastes as gaivotas. Sinto muito por nós. E também pelas gaivotas.
Voltam a ser apenas pássaros lixeiros das areias marinhas.Ainda assim,são mais importantes que nós dois juntos, elas podem voar e nós já não podemos,porque deixamos de sonhar.