sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Sorri - Djavan

E Djavan gravou Smille.
E hoje canto com ele. Sorri.

♪ Smile - Charlie Chaplin

Meu primeiro grande amor.
Esta personagem:Chaplin.
Em minha vida teatral,fora esta a personagem quem me guiou.
O maior mímico que conheci de todos os tempos,os mais expressivo e contestador.
Dando ao humor a responsabilidade e o sentido que lhe cabe.O verdadeiro sentido de gritar calado.

FALTANDO UM PEDAÇO

Minha alma explode neste descompasso
Crio histórias
espanto fantasmas
derrubo castelos
Aceno ao destino.

Lá fora temporal
Dentro de mim:
Silêncio.


Cristina Vianna

Let me out - Tradução

Deixe - me sair ou
Deixe-me entrar.

Tia...Compra uma bala?




Um sinal fechado
Uma bala sem doçura
Olhos tristes
Distantes
Ausência de infância
Franzino
Pequeno
Sozinho.
Uma criança
Sem inocência
Sem bola
Sem pipa
Sem fantasia.
Eu
Não posso te ninar
Com fábulas
Te agasalhar
Ao anoitecer.
Aninhar-te em meu peito
Quando sentires medo.
Abre o sinal
Não consigo partir
Absorvida pela tua sorte
Buzinam
Desvio o pensamento
Calo o coração
espreito pelo retrovisor
ao meu lado carrego: a angústia
e a amargura da bala.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Um poema que falasse por mim.



Meu desejo maior
dar a luz
a um poema.

Um poema
que traduzisse toda ternura e doçura
de um colo
e um abraço aconchegante.

Um poema
que trouxesse consigo
o canto
da revoada dos pássaros
ao entardecer.

Um poema
Que trouxesse a paz
do pôr do sol
e a sedução de uma noite de lua cheia.

Um poema
que trouxesse o balé do desabrochar
de uma rosa vermelha.

Um poema
com cheiro
e perfume de terra molhada
Com o frescor do pé de laranjeira
ainda úmido
pelo sereno da madrugada.


Um poema
que trouxesse
a brincadeira das cirandas
e salada de frutas.

Um poema
que falasse de musas
de deuses
de anjo mulher
Menina luz.

Um poema
que traduzisse meu encantamento por ti
Profundo
que rasgasse fronteiras.
Que fosse lenda
Dominasse o mundo.

Um poema
Com esse sentimento
puro e profundo
que me invade agora.

Um poema
que contasse à Terra inteira
falasse da mulher faceira
da menina brejeira
do pé de laranjeira.

As palavras estão presas dentro de mim,
Carrego-as em minh´alma
E descubro enfim.

O poema
Ah! O poema tão sonhado e
desejado
Já existe.
E tem nome:
Maria Isabel Fidalgo. (Meu lar Lia)

Cristina Vianna.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Nordeste - Daniel de Sá

Daniel, mais que o viajante,extasiados ficamos nós leitores, diante de tanta poesia , de tanta beleza textual e do resultado de tuas inspirações.
Não conheço outro que nos descreva esta Ilha com tanta Maestria.

Definitivamente és o meu escritor eleito.

Naquele tempo, o Nordeste ainda era longe. Dentro do concelho a viagem fazia-se numa estrada de que, em dias secos, se erguia um pó amarelado, finíssimo, constante. Nada nem ninguém se movia nela sem assinalar a passagem com nuvens de poeira. Que persistiam, insidiosas, se não havia uma aragem que as desfizesse sobre as searas, contra as casas, nos vales e nos outeiros.

Pela primeira vez o viajante foi além da Vila. Passou a Lomba da Pedreira, presépio armado durante todo o ano. Ficava para outro dia percorrer as suas ruas como pastor em Belém. E, de súbito, poucos quilómetros adiante, a mais inesperada das surpresas. A estrada alargava-se e era de asfalto. Haviam ficado para trás os barrocais das míticas ribeiras do Nordeste – a da Mulher, a Despe-te Que Suas, a do Guilherme... Perdidas, nas milhentas curvas do caminho e da paisagem, as tremendas arribas da Achada, das Feteiras, da Algarvia... Por aquelas bandas a ilha é sempre com mar ao fundo, mas apenas a servir de moldura, como se a ilha e o mar nada tivessem que ver entre si. Como se vivessem desavindos e só por acaso e a contragosto se tocassem na orla das escarpas.

Da estrada de asfalto o viajante não sabe o prodígio que a pôs tão longe, no mais improvável dos lugares, porque não se vê vivalma que a use ou ao menos lhe ponha a vista em cima. Mas ela continua a revelar um mundo cada vez mais estranho e mais fascinante. Ali, onde a ilha começou a ser feita há mais de quatro milhões de anos, tudo acontece à semelhança do final de um poema sinfónico, em que o tema se repita no ribombar de toda a orquestra. A cada curva passada o viajante olha à procura da diferença. E esta surge-lhe, mais que todas, no espanto de uma ribeira que, como as outras, desce dos lados onde o Pico da Vara começa a galgar o céu, e o priôlo, uma das aves mais raras do Mundo, se esconde na sua camuflagem que imita as nuvens.
O viajante pára. Alguém dos que o acompanham diz: “Ninguém fale.” Mas não era preciso. O único que se atreveu a falar foi aquele que pediu silêncio.

Não sabe o nome da ribeira que contempla, extasiado. Apenas percebe que ela desce a montanha como se tivesse pressa de fugir das alturas da Tronqueira. Depois acalma um pouco, e a falha geológica que aproveita para deitar-se ao mar alarga-se sem poupar espaço. As margens, até ao leito que não se vislumbra, estão adornadas com quase todas as espécies de árvores que há na ilha. A completar o espectáculo, o canto de milhares de pássaros. Nem um se avista. Nem de um sequer se distingue a voz, que assim de longe ecoam todas em uníssono.

Depois há-se saber que aquela ribeira é a dos Caimbos, porque, ao atravessá-la, os primeiros que por ali andaram usavam uns ganchos para se agarrarem às margens quando as subiam. Quanto à estrada que primeiro o surpreendeu, dizem-lhe que foi obra dos Serviços Florestais, que fizeram no Nordeste talvez os melhores actos de amor à Natureza de todas estas ilhas. (E naquele pico de onde a ribeira desce, o do Bartolomeu, que seria morada digna de duendes, há-de fazer-se um miradouro de conto de fadas.)

O viajante esquece a beleza triste dos povoados por que passou. Tinham todos a cor dos dias cinzentos do Inverno. Como se nunca houvesse sol durante o dia nem luar nas longas noites. Mas ama-os, na sua velha modéstia, deleita-se no contraste da sua pequenez com a imensidão do cenário. E tem confiança de que tudo há-de mudar. Só não imagina que será tanto e tão depressa. O que aquela gente sofre por estar viva! Há em todos, no entanto, uma delicadeza natural, uma boa educação que lhes anda agarrada à alma como as urzes e as queirós nas ravinas mais inacessíveis. Muitos anos mais tarde, até os lavradores e o gado, entre pasto e pasto, hão-de passear por caminhos de asfalto. E a beleza triste e cinzenta dará lugar a um permanente arraial de cor. Desde a Salga, com os seu jardins de caleidoscópio, até à apoteose da Vila do Nordeste, o viajante há-de surpreender-se com as flores à beira dos caminhos, nas casas e nos quintais, ou mesmo cobrindo os troncos de palmeiras na Fazenda. E, quando quiser ir da vila do Nordeste a Água Retorta, terá sempre uma dúvida: fazê-lo de ponta em ponta – do Arnel, onde desde 1876 o farol mais antigo dos Açores guia os navegantes, da Marquesa, do Sossego, da Madrugada – ou arriscar a viagem quase tocando o pináculo da ilha, no miradoiro ou miragem da Tronqueira.
(De um texto para um livro turístico a publicar pela Ver Açor.)

Lágrimas ou palavras?


Escrevo-te as mais ternas palavras
Delicadamente
Deito-as num papel
Como fossem lágrimas.
Quero te entregar meu riso
ainda que meus olhos estejam úmidos
Um misto de sol e chuva
Entrego-te o arco-íris
que desenhei no tempo
Em que te esperei chegar
É como se de minh´alma
Chovesse saudades
Umedecesse a terra
E exalasse cheiro de vida
É um paradoxo
Misto de alegria e dor
Como nascer para morrer
Viver para amar
Amar e esperar
Querer e não ter
Ver e não poder tocar.
Por breves instantes
Escrevo-te
Ou choro-te?
Entrego-te estas palavras
Ou serão lágrimas?
Cristina Vianna




segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Daniel de Sá



Queridos amigos
Vamos continuar está deliciosa viagem com o nosso Mestre Daniel de Sá.E nesta mesa coberta por tão fabulosa toalha de linho,quero acrescentar uma declaração:Nesta mesma Lagoa que Daniel nos descreve maravilhosamente, passei os dias mais felizes deste ano.

Lagoa

O viajante pensa que, se a Lagoa fosse um reino, a Caloura seria a sua jóia da coroa. Jóia deste concelho que poderia parecer destinado a ter pouca importância. Porque a Lagoa está praticamente na periferia de Ponta Delgada. Que, à medida da ilha, é um centro urbano capaz de tornar em satélites as povoações vizinhas. Mas esta vila não se deixou arrastar pela força de gravidade da maior urbe do arquipélago. Criou a sua vida própria. A sua indústria foi sempre activa e inovadora. Mesmo quando não pretendeu mais do que ser utilitária, com a sua loiça de barro ou a sua fábrica de papel de materiais reciclados.
É uma vila onde o viajante gosta de passar e de estar. Sem a asfixia das grandes pressas. Para contemplar o recorte da costa ou o desenho das ruas e a claridade do seu urbanismo.
O viajante ia já dizer que o concelho da Lagoa tem de particular ser o único nos Açores com duas vilas, mas lembrou-se a tempo de que no da Calheta, em São Jorge, há a do Topo. Caminhando para nascente, encontra-se a outra, a de Água de Pau. Ambas antigas, mas esta ainda mais antiga do que a sede do concelho. Depois de um período de grande desenvolvimento, Água de Pau não resistiu à falta de recursos, e o seu município foi extinto. Mas conservou, e até como que readquiriu, a dignidade da sua nobreza. Que é também uma nobreza de carácter. É que um povoado tem carácter. Que reflecte a maneira de ser da sua gente. Também nesta há cantos e recantos a ver devagar. Por onde dá gosto vaguear.
É a Água de Pau que pertence a tal jóia da coroa. A Caloura. Uma paisagem que muda de repente, como se não fosse parte da mesma ilha.
O viajante gostaria de poder escrever de maneira a que nem sequer se desse pelas palavras. Como a música de um violino em que não se ouve o som do arco nem dos dedos a saltitar nas cordas. Ou como uma toalha de linho branco, sem desenhos nem bordados, lisa, que pareça estar na mesa apenas para realçar a baixela. Ao viajante fascina sobretudo o porto, cheio de esmagadoras memórias da lava que criou aquele espaço de surpresas. E que tem ao lado o primeiro convento de freiras que houve nos Açores. Aonde foi parar a imagem do Senhor Santo Cristo dos Milagres. Segundo consta da lenda, vindo pelo mar, náufrago não se sabe onde nem como. Ou, segundo conta a história, e talvez de modo tão lendário como a própria lenda, oferecido pelo Papa Paulo III a duas jovens que teriam ido a Roma pedir autorização para fundar o mosteiro. Muito perto, apenas separados por muros de pedra sobre pedra, o como que impossível museu de arte do Centro Cultural da Caloura.
O viajante expôs a toalha lisa do linho rústico das suas palavras. E o banquete está pronto para os olhos. Desde que se entra no concelho, pela Lagoa, até que se sai, pela Ribeira Chã. Ou no sentido contrário. Uma viagem que apetece fazer olhando para trás, vendo a paisagem crescer.
(De um texto para um livro turístico a publicar pela Ver Açor.)

sábado, 25 de outubro de 2008

Nikita (Legendado em Português)

Amigos
O blog está me dando um baile.
Não sei como consertar ainda os comentários.
Tem que ser como anônimo ou então criar um email no Gmail,no local onde solicitam: criar conta.
Beijinhos.

Problemas técnicos

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Medo da chuva (Raul Seixas)

Esse também fora nosso Hino naquele tempo onde por vezes as coisas ficaram difíceis.

Viva a Sociedade Alternativa - Raúl Seixas

Naquela época eu me caracterizava de Raul Seixas, pegava o violão e cantava para meus meninos.Era uma brincadeira gostosa.E está era a música que João mais gostava,levantava as mãozinhas e vibrava.
E um dia quando terminei de tocar ele falou comigo pela primeira vez.Até então falava um idioma próprio.E a partir daquele momento eu percebi o quanto a música o ajudava a expressar suas emoções.
Acho que herdou desta mãe doida.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Meu filho João Paulo.


















































Quando te aninhei em meu colo, segurei bem forte para que te sentisses seguro, te apertei contra o meu peito e fiz a promessa de que nunca mais estarias só neste mundo. Nunca mais, ao menos enquanto eu vivesse.
Teus olhinhos pequeninos e tristes pareciam me contar uma história que eu ainda não compreendia. O que eu sabia era que tínhamos uma grande missão pela frente: Aprender a nos amar. Nada sabíamos um do outro.
Passava noites tateando teu corpo, decorando teus traços, reconhecendo teu cheiro e adivinhando o teu passado.
Tinha a tal história de memória celular, tipo sanguíneo, e tudo isso parecia tão banal, eram conceitos e nós iríamos derrubá-los.
Estejas certo que querer um filho é muito mais forte do que ter um filho.
Não foi fácil para nós dois. Eu era até então uma menina de 24 anos, cheia de ideais, e transpirava sonhos. Acreditava que ser mãe era muito mais que parir, ou gerar um pedaço de si mesma.
Precisava aprender a ser mãe de um filho que não era um pedaço meu. Eu não tinha culpas e nem problemas de fertilidade, virias a ser meu segundo filho: O primeiro eu tinha gerado.
Ser mãe estava sendo para mim a maior e mais compensadora experiência na vida. Como se tivesse nascido para ser mãe. Então, precisava ser mãe de várias formas, uma espécie de graduação. E tu lá estavas a espera exatamente do que tinha para te oferecer. Também parecia ter nascido predestinado a mim. Para me fazer amadurecer, caminhar por estradas que poucos têm coragem de seguir espontaneamente, para me desafiar na arte de amar o que não é perfeito, o que não é comum, o diferente, o difícil.
Colocaram em teste todos os extremos de minha humanidade, nada estava ali para facilitar o caminho. Não só tinha um filho adotivo, como descubro então que era um ser diferente, e precisavas de mim bem mais do que eu supunha. Tive que crescer bem rápido. Lutei para penetrar em teu universo, e aprendi a te amar exatamente como és, sem projetar nada. Não foi nada fácil chegar até aqui. Mas, quando lembro a primeira vez que me chamaste de mãe! Esperei pacientemente por alguns anos para que falasse. E a primeira frase que falou foi à música que eu cantava para teu silêncio: “Mãe, se eu quero e você quer tomar banho de chapéu, faça o que quiser, pois é tudo da lei.”
Nossa! Agora eu sabia que conseguiríamos. Meu filho, tão amado filho! Nós conseguimos.
Sei que vais conseguir ler este texto. Essa é uma grande vitória para nós.
Tenho a certeza absoluta que não há outra pessoa neste mundo que te conheça tão bem como eu, e que acredite tanto em ti, porque eu te amo ao ponto de abrir mão dos meus sonhos e carreira, para estar ao seu lado quando grita por mim. Não me arrependo.Faria tudo novamente.
Estou aqui não estou?
Sei o quanto precisa saber e ter certeza de que estou aqui.
Como este olhar que acabou de lançar-me ao chegar a casa.
Entras a minha procura.
Um dia de cada vez, lembra? Vamos em frente. Estamos juntos nessa.
Os vôos são assim... Estou aqui espiando, estejas certo disso.
E acredite: Os seres humanos mais interessantes que conheci em minha vida eram diferentes...

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Daniel de Sá - Vila Franca do Campo


Pasárgada tem a honra de registrar um pouquinho mais da alma doce, de Daniel de Sá. Nesta viagem, encantadora e cheia de ritos. Desejo que saboreiem tanto quanto eu, esta leitura.


Ao princípio foi aqui

Há coisas e animais que estão na paisagem como se fizessem parte dela desde o princípio do mundo. Ou como se fossem o que resta do paraíso terreal:
Árvores em fila indiana, no horizonte, sobre uma linha de festo, como desenhos infantis. Coelhos assustados atravessando a estrada em busca da refeição vespertina. Melros, sem pressa, recolhendo ao lusco-fusco. Pequenos núcleos de casas antigas em contracena com a paisagem...
Há um destes lugares que o viajante sempre entendeu assim, desde a surpresa da primeira vez que o avistou, de súbito revelado, depois de uma curva da estrada. O lugar da Praia, na freguesia de Água de Alto. Uma vintena de casas, talvez nem isso, entre duas ravinas que ladeiam a ribeira que escoa a água excedente da lagoa do Fogo. Não poderia haver melhor postal de boas-vindas para quem entra, pelo Poente, no concelho de Vila Franca do Campo.
Vila Franca, o município primaz da ilha. Na costa Sul, onde houve a primeira povoação, a primeira vila e a primeira cidade. Mas nem a primeira povoação foi a primeira vila, nem a primeira vila foi a primeira cidade. A primazia de Vila Franca do Campo perder-se-ia nas ruínas em que a transformou quase por completo a enorme derrocada de terras provocada pelo terramoto de 22 de Outubro de 1522. Faltava-lhe pouco tempo para completar meio século como vila e cabeça de toda a ilha de S. Miguel.
Depois da tragédia, foi preciso começar de novo. O viajante entra, sempre que pode, na bela matriz. Símbolo desse recomeço, dessa vontade de permanecer no lugar a que o coração se apegara. Símbolo porque foi reconstruída à semelhança do templo soterrado em lama. E porque expressa a crença de que os homens não se sentiam sós na desolação daquele vale de lágrimas. A torre e a fachada fazem lembrar a velha e ascética arquitectura românica, com uma incrustação de gótico a bordar a porta. Dentro, uma sucessão de altares e elementos decorativos que podem julgar-se um excesso ou um delírio. Mas que são um extraordinário espectáculo estético e místico. E à sua volta fez-se uma vila airosa e arejada, com ares de Renascimento nas proporções e no traçado das ruas. O pouco que restou depois da terrível subversão foi para os lados da freguesia de S. Pedro, onde se construiu logo depois da catástrofe uma ermida dedicada a Nossa Senhora do Rosário. E talvez tenham sido as orações nela rezadas que estiveram na origem das Romarias quaresmais.
Como quase sempre e em qualquer parte na Europa, foi a arquitectura religiosa o melhor que Vila Franca herdou dos séculos passados. Porque então os homens ainda não tinham substituído Deus por outros deuses menores. Em frente da matriz de S. Miguel Arcanjo, permanece o testemunho da caridade cristã no hospital da Misericórdia e na igreja anexa do Espírito Santo. Aqui se venera a imagem do Senhor Bom Jesus da Pedra, que tem uma das maiores festas da ilha, no último fim-de-semana de Agosto. As madeiras do que resta do convento de Santo André – a igreja e o locutório – têm o cheiro de quatro séculos de história. E a ermida de Nossa Senhora da Paz é um lugar de peregrinação dos crentes ou dos simples amantes das grandes paisagens. Mas uma árvore também pode ser um monumento. No Jardim Antero de Quental, enquadrado pela matriz, a Misericórdia e os Paços do Concelho, há uma que o é. Um dragoeiro, plantado no dia em que se casou o rei D. Luís, seis de Outubro de 1862.
O comprimento da Ponta Garça, a mais populosa freguesia do concelho, é famoso em toda a ilha. Mais de uma légua de extremo a extremo. O que faz com que a procissão da padroeira, Nossa Senhora da Piedade, alterne em cada ano o percurso, que uma vez se faz para Nascente e outra para Poente. Aliás, neste concelho a sucessão do casario é praticamente contínua. Da Ponta Garça passa-se logo à Ribeira das Tainhas, desta à Ribeira Seca, daqui para a vila, e da vila para Água de Alto.
Tudo lugares que merecem do viajante um olhar sem urgência. E com praias muito concorridas por perto, como as de Água de Alto e a da Vinha da Areia. Ou então esse prodígio da natureza, a piscina do ilhéu da Vila. O que resta da cratera de um vulcão extinto, a um quilómetro da costa e com 150 metros de diâmetro. O conjunto, que inclui o mar circundante, é reserva natural.

(De um texto para um livro turístico a publicar pela Ver Açor.)

Celine Dion - Immortality (show do bee gees) tradução

Silêncio

Estou aonde não vai meu corpo
digo o que não tem palavras
palavras existem
parecem cópias
Freneticamente escorrem por minhas mãos.
Quero criar frases novas
meus sentimentos são inéditos
descobrir novos gestos,
viver de outra forma
esta está gasta.
Quero sair de mim
acusar-me por tudo que saiu errado
perdoar-me por minhas loucas tentativas.
Chego a acreditar que sou livre.
Eu posso voar.
Preciso chorar
e os olhos continuam secos.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Dante's Prayer

Oração de Dante

Quando a floresta sombria caiu às minhas costas
E todos os caminhos foram cobertos
Quando os sacerdotes do orgulho dizem não ter outro caminho
Eu cultivo a tristeza das pedras

Eu não acreditei por que eu não podia ver
Mesmo que você tenha vindo para mim na noite.
Quando o amanhecer parecia para sempre perdido
Você me mostrou o seu amor na luz das estrelas

Leve seus olhos para o oceano
Leve sua alma para o mar
Quando a noite sombria parecer sem fim
Por favor lembre-se de mim

Então a montanha ergueu-se diante de mim
do profundo poço do desejo
Da fonte do perdão
Além do gelo e do fogo

Ainda que dividamos esse humilde caminho
Sozinho quão frágil é o coração
Dê-me essas asas de lama para voar
para tocar a face das estrelas

sopre vida nesse coração débil
Rasgue a veia mortal do medo
Leve essas esperanças despedaçadas, cavadas pelas lagrimas
Nos elevaremos acima de tais desvelos terrenos

Daniel de Sá.


Iluminando Pasárgada neste início de semana. A viagem em prosa.
Está água é como a alma do escritor Daniel de Sá. Narrações, poemas, fatos históricos, romances,crônicas,etc...Ela está lá a roubar a cena. Está alma-água que tanto admiro,e que me causa tanto encantamento. Difícil Daniel algum leitor lhe ser indiferente. A viagem com alma continua...


Há mais água na paisagem.


A água! Quase não há pintor que lhe seja indiferente. Ela é princípio e acabamento da paisagem. Ela recria as cores e as formas à sua volta. A água é como uma papoila numa seara: quando está presente, o tema principal é ela. Num bosque com riacho, o que vemos é um riacho no bosque. A uma flor com uma gota de água transformamos em gota de água numa flor.
Em S. Miguel a água é uma presença constante. Se não está à vista, está o verde, que é seu filho. Saltando numa cascata, saltitando nas pedras de uma ribeira, sossegada nas muitas lagoas, fervendo nas “caldeiras” das Furnas ou da Ribeira Grande. E com todas essas formas ou aparências no mar, de que qualquer ilha do tamanho desta faz parte. Uma ilha assim não é mais do que o mar interrompido.
O viajante guarda no lugar onde se guardam os afectos uma lagoa que, de tão bem guardada pela natureza, poucos há que a visitem. É a da Congro, a meio do “caminho da Vila”, que vai da Achada das Furnas para a estrada de Vila Franca. Tem tal nome porque pertencia a um homem tão rico que o chamavam Congro, por este peixe ser considerado o maior do mar, disse Frutuoso. Fica no fundo de uma cratera que parece ter sido desenhada a compasso. As margens, escarpadas, são cobertas de matagal tão denso, que não há nele ninho de ave que não esteja seguro. Um requinte mimoso da natureza, no meio da falha geológica mais activa da ilha. E que tem o nome desta e da lagoa do Fogo, perto da qual se construiu uma central geotérmica que fornece mais de quarenta porcento da electricidade que se consome em S. Miguel. Ao lado, o que resta de uma pequena lagoa eutrofizada, um jardim aquático de nenúfares, que no seu esplendor era uma visão impressionista em tons rosa, amarelo e branco.
Para quem gosta de coisas simples, ou da simplicidade das coisas, há ainda outra lagoa a não perder, recomenda sempre o viajante. É a lagoa de S. Brás, com uma boa estrada que começa quase em frente da famosa Fábrica de Chá Gorreana. A palavra está gasta, dita e redita, mas de utilidade comprovada porque é verdadeira. E o viajante não se sente fornecido de outra que a substitua com vantagem: bucólica. A paisagem, claro. Árvores de um lado, pastagens do outro, sons de água acariciando os juncos e de pássaros cantando a vida.
(De um texto para um livro turístico a publicar pela Ver Açor.)

domingo, 19 de outubro de 2008

May it be - Enya

Silêncio...

sábado, 18 de outubro de 2008

MANA - Vivir Sin Aire (Video) ^_^

Aqui Está minha Vida


Aqui está minha vida - esta areia tão clara
com desenhos de andar dedicados ao vento.
Aqui está minha voz - esta concha vazia,
sombra de som curtindo o seu próprio lamento.
Aqui está minha dor - este coral quebrado,
sobrevivendo ao seu patético momento.
Aqui está minha herança - este mar solitário,
que de um lado era amor e, do outro, esquecimento.


Autor: Cecília Meireles


sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Diferença entre amigos: Amigo, Amigo simples e Amigo verdadeiro.


Um amigo traz uma garrafa de vinho para sua festa
Um amigo simples chega cedo, ajuda a cozinhar e fica até mais tarde para te ajudar a limpar.
Um amigo de verdade faz tudo isso, e ainda bebe todas na sua festa,vomita no tapete da sala, dorme atrás do sofá até segunda –feira pela manhã,quando a empregada o encontra.


Um amigo odeia quando você liga e ele já se deitou.
Um amigo simples pergunta porque você demorou tanto para ligar.
Um amigo de verdade pergunta se você esta virando Gay para ligar aquela hora,te manda dormir,xinga e manda você afogar suas mágoas com cachaça.


Um amigo procura você para conversar sobre seus próprios problemas.
Um amigo simples procura você para te ajudar com os teus problemas.
Um amigo de verdade procura você,te ajuda com os teus problemas e ainda te leva para a balada e paga todas.


Um amigo ao visitá-lo age como visita.
Um amigo simples abre a geladeira,e serve-se sozinho.
Um amigo de verdade abre a geladeira,serve-se sozinho e ainda reclama se não tem sua cerveja preferida.


Um amigo pensa que a amizade acabou depois de uma discussão.
Um amigo simples sabe que não é amizade enquanto não teve a primeira briga.
Um amigo de verdade xinga você,chuta seu cachorro,e risca teu carro,mas tá tudo bem.


Um amigo espera que você esteja sempre lá para ele.
Um amigo simples espera sempre estar lá,para você!!!
Um amigo de verdade te espera duas horas no bar até ficar revoltado.Vai até sua casa,xinga você, chuta teu cachorro e risca novamente seu carro.
E continua tudo bem!?


(Autor desconhecido) Adaptação.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Ao escritor Artemio Zanon


Construo-te como um sonho

Preciso pensar em ti
Como um sonho
Decorar a
Canção da vida Amor
E no Caminho da Vida
Juntar os pedaços.

A Execução da Lavra
Acariciar
o Gato
Devorar o Evangelho dos Amantes

Vais ficando denso
Ganhando forma.

Homem com Medo e Poeta Triste
abandonaste - me
No Plantão daquela Sexta-Feira.

Construo com
um Ciclo o Coração
Um processo lento
Congelo
o Ciclo da Imagem
que desenhei.

Deparo-me com
o Sétimo Dia
Nada mais faz sentido
Enlouqueço de saudades
Desfecho golpes como quem quer matar a dor
Percebo que precisarei de
Assistência Judiciária Gratuita
Quero matar o mundo
Preciso ainda mais
Para matar a saudade
Precisarei de
Assistência Jurídica Integral e Gratuita.
Recordo teu olhar
Menino da Infância aos Quarenta
Teu passos firmes e seguros a adentrar
À Introdução a Ciência do Direito Penal.
Ah, como poderei esquecer!?
Os Cinco Poemas Dramáticos
Que marcaram nossos passos juntos.
Durante
o Tempo de Execução.

Fecho os olhos
posso ouvir
Em sussurros
Canto da Terra-Homem
E uma
Lavoura Poética
Surge como Arca de Salvação.



Cristina Vianna.




* O que está em negrito são os títulos de livros do escritor Artemio Zanon.




Apenas Mais uma de Amor - Lulu Santos

Retalhos .É isso. Retalhos de letras.

Juro que quis evitar teus olhos, mas não pude resistir. Estava procurando não achar.
Não vou negar a intenção. Isso me faz tão bem, que também quero devolver isso para ele.
Um certo alguém cruzou o meu caminho e mudou a direção.
Esse certo alguém despertou o sentimento, e eu que não sou boba nem nada, adotei um novo caminho, chego a ficar sem jeito, mas não deixo de seguir.
Se um certo alguém desperta um sentimento, não adianta resistir, o melhor é se entregar. E então, tens a inspiração para tudo o que é viver.
Vejo a vida mais clara e farta, e quero crer no amor numa boa. Vejo um novo começo de era, de gente boa , elegante e sincera.
O tempo escorre pelas mãos, tenho que viver tudo o que há para viver.
Eu vou a luta, eu conheço a dor, considero justa toda forma de amor, não vou sobrar de vítima, estou plugada na vida. E não nasci para perder.
Desta história ninguém conhece o fim. Estou tomando o mundo feito coca-cola.
Talvez eu seja a última romântica. Faço da minha vida um passeio público, e um caminho só.
Falta eu te querer, te ganhar e te perder. Falta eu acordar e ser gente grande para poder chorar. Se é loucura então, melhor não ter razão. Me da um beijo e aperte minha mão. Melhor viver a vida como uma aventura. Tolice é viver a vida assim...
Deixa ser pelo coração.
Teu amor me cura, de uma loucura qualquer. É encostar no teu peito, e se isso tem algum defeito,por mim tudo bem.
Só faço com você, só quero com você, adivinha o que?
De tantos barrancos me atiraram e de outros me atirei.
Ás vezes apenas desilusão, porque quase nunca a vida é um balão.
Ninguém vai dormir nossos sonhos... Não entendo a razão de tantos planos, se pretendo te amar muitos e muitos anos. Apenas peço:Cuida bem de mim.

E a viagem continua...


Amigos,venho convidá-los para mais um delicioso passeio.
Os lugares são mágicos, e as mãos de nosso condutor pura magia.
Fora este olhar que me roubara a alma.
A primeira vez que li Daniel, percebi que dificilmente conseguiria afastar meus passos.E quando alcancei suas mãos,tive a certeza de que os lugares,as personagens,o próprio tempo e espaço fariam diferença se fossem descritos por outras mãos, desvendados por outros olhos,e sentidos por outra alma. Percebam durante a viagem a doçura,e ternura com que este viajante percebe tanta beleza e a suavidade de seus passos.
Desejo repartir meu enorme prazer em ler meu escritor eleito : Daniel de Sá.

O circo da água

Peregrino das três lagoas

Se pudesse percorrer-se o mundo andando a pé, esta seria a melhor maneira de o conhecer. À medida que se tornou mais fácil ir a terras longínquas muitas vezes se foi descuidando as que nos ficam perto.
O viajante conheceu as mais afamadas lagoas da ilha segundo esse modo antigo e sem pressas de usar os pés para fazer o caminho. Em longas mas nem por isso menos fascinantes jornadas. A primeira foi a das Sete Cidades, indo das Feteiras do Sul com dois amigos. Tudo é de admirar por ali acima, mas ninguém está preparado para a revelação do esplendor. Pode já ter-se visto mil fotos e documentários, mas em nada se consegue imitar a realidade. O espaço é imenso, o silêncio parece abafar até os ruídos que por acaso se ouçam, o verde das encostas e dos cumes irmana-se com o azul do céu e do mar na mais perfeita das harmonias. E lá em baixo, no meio daquela antiga cratera que se abateu e assim se fez caldeira, as misteriosas, míticas, lendárias lagoas gémeas. Uma verde, reflectindo as cores do fundo e das vertentes, a outra azul, espelhando o céu. Nesse tempo as cores ainda se distinguiam com a nitidez que a transformação das terras de pão em mananciais de leite quase viria a ofuscar.
Mas o maciço das Sete Cidades não é o guarda-jóias destas lagoas somente. Pode contar-se uma dúzia delas no espaço de cerca de uma légua para sudeste. As mais notáveis são as de Santiago e do Canário. O cronista Gaspar Frutuoso, que escreveu no século que se seguiu ao do povoamento, fala daquela com respeito, com uma espécie de temor. E, à sua fundura entre espesso arvoredo, acrescenta um pormenor em tom de mistério. Diz ele que nas suas águas foi “encontrada uma certa maneira de peixe, quase da feição de camarões, e pegado a um pau”. A lagoa do Canário, entre uma vegetação onde predominam musgos e arvoredo, dá de beber a Ponta Delgada. A esta Frutuoso chama “dos Canários”, e explica que o nome não lhe terá sido dado por causa daquelas avezinhas cantoras, que só mais tarde fizeram morada por cá, mas porque ali perto uns naturais das Canárias pastorearam cabras e ovelhas. Assim que o arquipélago de que Gullén de las Casas foi senhor, mais ou menos no tempo da descoberta desta ilha, deu nome não só àquelas aves, porque de lá vieram, mas também àquela lagoa.
Naquele tempo as pernas do viajante pesavam menos nas subidas do que agora nas descidas. Mas, no regresso, ao chegar à Vista do Rei, onde D. Carlos parou em Julho de 1901, por isso ficando a ser esse o nome do miradoiro real, já os três caminhantes estavam cansados. Cansados e sedentos como um legionário romano a quem se tivesse acabado a água com vinagre do cantil. Foi então que, naquele lugar onde tantos acontecem, mais um milagre aconteceu. Viram um homem, ao longe, que ordenhava uma vaca. Deus sabe quanto desejavam beber um pouco de leite! Como que tendo-lhes adivinhado o pensamento ou o desejo, o pastor, ou lavrador, ou anjo, quem quer que fosse que aquele vulto fosse, chamou-os acenando-lhes para que se aproximassem. E serviu-lhes, na tampa da lata, morno ainda, todo o leite que quiseram. Que S. Nicolau o tenha protegido ao longo da vida!
A segunda visita a uma das três mais famosas lagoas de S. Miguel fê-la o viajante mais um amigo, partindo da Maia. Era para ter sido um grupo grande, mas aos outros esmoreceu o ânimo e desistiram antes da partida.
As Furnas compensam todos os eventuais sacrifícios que seja preciso fazer para lá chegar. Aquele é um dos lugares do mundo mais conhecidos, mais estudados e mais admirados. Qualquer coisa que se diga a seu respeito já terá sido dita antes por alguém. É impossível, pois, tentar uma linguagem nova. A grandiosidade do conjunto percebe-se ou apercebe-se tanto mais quanto mais procuramos um ponto distante e alto que lhe seja sobranceiro. O mais visitado é o do Pico do Ferro, que fica no cimo de um ravina que desce a pique até quase às margens da lagoa. Mas o espectáculo, o fenómeno ou conjunto de fenómenos, aumenta de esplendor quando avistado do Salto do Cavalo ou do alto do Castelo Branco. As Furnas não são um lugar para se dizer o que é, mas para se ver como é.
Para a terceira destas peregrinações o viajante partiu da Chã do Rego de Água, entre a Lagoa e a Ribeira Grande. Estava em acampamento militar, e foi acompanhado por um amigo do Pico. A ilha parecia crescer à medida que o caminho subia. E quase toda ia surgindo deitada a Norte, e grande parte dela se alongando a Sul. A cada nova passada se diria que já valera a pena ter chegado ali, que não era preciso ir mais longe para se cumprir a plenitude dos sentidos. A flora mudava com a subida. Cada vez mais primitiva, mais selvagem, mais pura. Até ser pouco mais que musgos e queirós. Um último fôlego, e chegaram à estrada que desvenda o pico da Barrosa. Estava próxima a lagoa, dita do Fogo porque ali o vulcão adormecido despertou em 1563. E, nesse tempo, chamava-se incêndio a tão temidas e fascinantes manifestações da vitalidade da Terra.
Mais umas passadas, e eis o sonho. O encantamento. A dúvida entre o real e o imaginário. A perfeição absoluta. Há quem lhe chame a mais bela. Há quem não saiba o que dizer. Há quem não saiba o que pensar. Um pedaço de céu? Ou um pedaço de mundo a imitar o paraíso? O certo é que aquele é um lugar de reconciliação. Da natureza consigo mesma. Da gente com a vida. Inexplicável.

(De um texto para um livro turístico a publicar pela Ver Açor.)

Anjo resposta no salão principal.

Anjo
Em resposta ao comentário,vou fazer à tal tradução."Elton John"Descobri que dois dias não são muitos,embora espero não repetir a dose.Talvez eu esteja diferente.Talvez esteja mudada.Talvez...Hum vc entende eu sei.Sempre ouvi dizer destas coisas inexplicáveis,agora posso senti-las.Pode rir, mas é um gesto humano... Quando as coisas não são do jeito que desejamos.Não é sacrifício,embora possa sentir o cheiro dele dentro de um livro. A tentação é imensa,dentro dos limites.Um doce engano.Mas o coração? Amolece.E algo parece ser melhor agora.Pequenas palavras,coisas simples, tudo o que tenho. Mas não é sacrifício.Porque amar nunca fora um sacrifício.E depois a sensibilidade cria uma arredoma,e então, embora perca muitas vezes a direção, e perceba pela primeira vez a sensação do ciúme...Essa não é a parte boa.Percebo que estou apenas de passagem,então amar não é nenhum sacrifício.No momento isso é tudo o que eu sei.Que escolhi viver,porque tenho um sonho.Descobri que há pessoas que são únicas.Me entreguei e encontrei a direção.Se não tenho lembranças,as crio,as invento.Tenho um sonho, e descobri que não tenho forças para dizer adeus.Então, ainda pensa que aquela canção não parece comigo?Passei dois dias intermináveis com ela, depois a publiquei,ela passou bem discreta até que...Vens até aqui me provocar não é?Tudo bem.Ao menos ouviu os meus gritos.Você não existe.Obrigada.E acredite é um gesto humano, não é um sacrifício.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Elegia II (Da Arrábida) Frei Agostinho da Cruz







Alta Serra deserta, donde vejo
As águas do Oceano duma banda,
E doutra já salgadas as do Tejo:
Aquela saüdade que me manda
Lágrimas derramar em toda a parte,
Que fará nesta saüdosa, e branda?
Daqui mais saüdoso o sol se parte;
Daqui muito mais claro,
mais dourado,
Pelos montes,
nascendo, se reparte.
Aqui sôbolo mar dependurado
Um penedo sobre outro me ameaç
Das importunas ondas solapado.
Duvido poder ser que se desfaça
Com água clara, e branda a pedra dura
Com quem assim se beija, assim se abraça.
Mas ouço queixar dentro a Lapa escura,
Roídas as entranhas aparecem
Daquela rouca voz, que lá murmura.
Eis por cima da rocha áspera descem
Os troncos meio secos encurvados,
Eis sobem os que neles enverdecem.
Os olhos meus dali dependurados,

Pergunto ao mar, às plantas, aos penedos
Como, quando, por quem foram criados?
Respondem-me em segredo mil segredos,
Cujas primeiras letras vou cortando
Nos pés doutros mais verdes arvoredos.
Assim com cousas mudas conversando,

Com mais quietação delas aprendo
Que outras que há, ensinar querem falando.
Se pelejo, se grito, se contendo

Com armas, com razão, com argumentos,
Elas só com calar ficam vencendo.
Ferido de tamanhos sentimentos
Fico fora de mim, fico corrido
De ver sobre que fiz meus fundamentos.
Ali me chamo cego, ali perdido,

Ali por tantos nomes me nomeio,
Quantos por culpas tenho merecido.
Ali gemo, e suspiro, ali pranteio;
Ali geme, e suspira, ali pranteia
O monte, e vai de meus suspiros cheio.
Ali me faz pasmar, ali me enleia
Quanto colhendo estou da saüdade,
Que por toda esta terra se semeia.
Ora me ponho a rir da vaïdade,

Ora triste a chorar com quanto estudo
Erros solicitei da mocidade.
Tudo se muda enfim, muda-se tudo,

Tudo vejo mudar cada momento:
Eu de mal em pior também me mudo.
Soía levantar meu pensamento
Assentado sobre estas penedias
Duras, eu duro mais nelas me assento.
Punha-me a ver correr as águas frias

Por cima de alvos seixos repartidas,
Que faziam tremer ervas sombrias.
As flores, que levava já colhidas,
Passando pelos vales enjeitava
Por outras doutra nova cor vestidas.
O livre passarinho, que voava,
Cantando para o céu deixando a terra,
Da terra para o céu me encaminhava.
Cuidei que se esquecesse nesta Serra
A dura imiga minha natureza;
Mas donde quer que vou lá me faz guerra.
Oh! quem vira naquela fortaleza
Rodeada de fogo de amor puro
Daquele amor divino esta alma acesa!
Quão firme, e quão quieto, e quão seguro

No campo se pusera em desafio!
E quão brando sentira o ferro duro!
Mas se agora de mim me não confio,

Se fujo, se me escondo, se me temo,
É porque sinto fraco o peito frio.
Alevantam-se os mares; e pasmo, e tremo:
Vejo vento contrário, desfaleço,
A corrente das mãos me leva o remo.
Confesso minha culpa, bem conheço

Que por mais graves males que padeça
Menos padecerei do que mereço.
Mandais, Senhor, que busque, bata, e peça,
Eu busco, bato, e peço a vós,
Senhor,
Sem haver cousa em mim que vos mereça.
Com os braços na Cruz, meu Redentor,

Abertos me esperai, co lado aberto,
Manifestos sinais do vosso amor.
Ah! quem chegasse um dia de mais perto

A ver cos olhos de alma essa ferida,
Que esse coração mostra descoberto!
Esse, que por salvar gente perdida
De tanta piedade quis usar,
Que deu nas suas mãos a própria vida.
A sangue nos quisestes resgatar
De tão cruel, e duro cativeiro,
Vendido fostes vós por nos comprar.
Padecestes por nós, manso Cordeiro,
Pisado, preso, e nu entre ladrões,
Ardendo o fogo posto no madeiro:
Arçam postos no fogo os corações.

Sociedade dos Poetas Mortos

Um beijo no coração de cada grande mestre.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Meu adorável anônimo





























Meu anônimo sempre visita Pasárgada.
Sei quem és. Aprecias Vinícius como eu.
E a construção desta intertextualidade ,de menina como uma flor, tem um grande significado para nós dois.
Trouxe aqui seu texto para o salão principal de Pasárgada com tamanha felicidade e orgulho de ser a sua mãe. És um grande homem e um enorme presente de Deus para esta mãe que tanto te sonhou e é apaixonada por ti.

Para uma Menina como uma Flor
Porque você é uma menina com uma flor e tem uma voz saborosa e doce, eu lhe prometo amor eterno, salvo se você pirar um pouco mais, o que, aliás, você não vai nunca porque você acorda tarde, fuma seus cigarros, bebe coca-cola sem culpa, e adora brigadeiro: quero dizer, o doce feito com leite condensado.
E porque você é uma menina com uma flor e tenho certeza que choraria se suas malas seguissem sozinhas ,você morreria de pena delas partindo assim no meio de todas aquelas malas estrangeiras.
Ainda que não sonhes comigo , e não transfira sua d.d.c. para o meu cotidiano, tenho certeza que implicaria comigo o dia inteiro como se eu tivesse culpa de você ser assim tão subliminar.
E porque você tem um rosto que está sempre um nicho, mesmo quando põe o cabelo para cima, parecendo uma santa moderna, e anda lento, e fala em 33 rotações mas sem ficar chata.
E porque você é uma menina com uma flor, eu lhe predigo muitos anos de felicidade, pelo menos até eu ficar velho: mas só quando eu der uma paradinha marota para olhar para trás, aí você pode se mandar, eu compreendo.
E porque você é uma menina com uma flor e tem um andar de pajem medieval; e porque você quando canta nem um mosquito ouve a sua voz, e você desafina lindo e logo conserta, e às vezes acorda no meio da noite e fica cantando feito uma maluca.
E porque você tem um cachorrinho que dorme abraçada e que tudo o que eu mais queria era que fosse de mim que falasse a ele.
Sei que quando você se sente perdida e sozinha no mundo, você se deita agarrada com ele e chora feito uma boba fazendo um bico deste tamanho.
E porque você é uma menina que não pisca nunca e seus olhos foram feitos na primeira noite da Criação.E porque você é uma menina que tem medo de ver a Cara-na-Vidraça, e quando eu olho você muito tempo você vai ficando nervosa até eu dizer que estou brincando.
E porque você é uma menina com uma flor e cativou meu coração e adora batata frita , eu lhe peço que me sagre seu Constante e Fiel Cavalheiro.
E sendo você uma menina com uma flor, eu lhe peço também que nunca me deixe sozinho.
E porque você é a única menina com uma flor que eu conheço, adaptei esta prosa de Vinícius tão bonita para você. Afinal eu li que gostasse das quadras do tal Daniel.
E por não saber fazer as quadras, quero que saibas que toda vez que leio essa prosa, ainda duvido se não fostes esta menina de Vinícius.
E já que você é uma menina com uma flor e eu estou vendo sua cara ao ler e tentar adivinhar quem fora o autor deste comentário.
Saiba que me levantaria para recolher você no meu abraço. Sim, meu amor por você é feito de todos os amores que eu já tive, porque você é linda, porque você é meiga e sobretudo porque você é uma menina com uma flor.







Vamos continuar a viagem? Povoação


Meus queridos amigos


Para festejar o início de mais uma semana,convido-os a dar continuidade ao passeio delicioso pela Ilha de São Miguel - Açores... Meu olhar alcança os acenos de nosso condutor Daniel de Sá, pressinto o encantamento e corro para segurar sua mão. Não posso perder essa viagem. Vamos lá pessoal, ele está sorrindo...

Povoação

Passando a ribeira dos Caimbos, num longo rodeio pelo sopé do Lombo Gordo, o viajante muda de concelho. Mas a paisagem não sabe disso, e permanece igual. Montanhas à direita, o mar à esquerda. Ravinas, arribas, precipícios. Sempre entre o susto e o sonho. Vem aí Água Retorta, ou vai-se por aí a Água Retorta, que dá as boas-vindas a quem uma légua atrás entrara no concelho da Povoação. Se fosse ave ou vento, teria andado metade disso somente. E, sendo a terra tão enrugada, tão áspera para caminhar nela e tão suave para nela pôr os olhos, acaba-se a pique sobre o mar, onde cai volteando a água de uma ribeira que, por ser assim, recebeu nome e o deu ao povoado. Um povoado que parece dois. Porque em terra chã fica o núcleo à volta da igreja, que é de Nossa Senhora da Penha de França, e mais acima se desenvolveu outro, obedecendo aos declives do lugar.
O viajante não sente cansaço, porque cada recanto visto é um prémio para a longuidão da jornada. Mais outra légua, chega à estrada que desce para o Faial da Terra. Caminho que é de ida e volta, e que se torce e retorce para não ser quase vertical. E de repente a terra se faz plana, pequena fajã que uma ribeira atravessa dividindo o povoado em duas partes. Voltando as costas ao mar, pode parecer que se está numa aldeia dos Alpes. E as ondas não precisam de se elevar muito para respingarem a terra que ali lhes fica quase resvés. Um pouco mais de ânimo, e podem até acabar como que ajoelhadas à porta da igreja de Nossa Senhora da Graça.
Por entre os montes que encaixilham a paisagem, uma dúzia de casas às quais o tempo esvaziará de gente e as intempéries se encarregarão de esventrar, de cegar as janelas, de escancarar as portas. É o Sanguinho. Mas aquelas casas hão-de ser depois recuperadas, reabilitadas, calafetadas, electrificadas, canalizadas. Para fingirem ser o que eram em condições de bem receber turistas. Não importará, porque a natureza há-de permanecer igual e milenar. Viver ali só poderia ter sido ideia de poetas, de eremitas ou de pobres.
A próxima descida será já dentro da caldeira de colapso onde se aconchega a Povoação. (Ah, mas que é isso de caldeira de colapso? É o que acontece quando o interior de um cone vulcânico se desmorona por muito rapidamente se ter esvaziado a câmara magmática.) O viajante pára no Pico Longo a contemplar a cena. O que resta dessa tal caldeira, que o mar esboroou a Sul. Um espectáculo grandioso cujo principal cenário desce em forma de lombas desde o pico da Vara e o planalto dos Graminhais. Paisagem a perder de vista e de se perder a vista nela. Alguém tenta dizer o nome daquelas e das outras lombas que as ladeiam a Leste e a Oeste, completada ou coroada cada uma por um pequeno povoado. Vai contando pelos dedos. Faltou a do Carro. Repete-se a contagem e o engano. Mas agora esqueceu foi a do Botão. Depois consegue a lengalenga de dizer as sete sem errar nem o número nem a ordem: Pós, Alcaide, Loução, Pomar, Botão, Carro, Cavaleiro.
A estrada que desce à vila atravessa a Lomba do Alcaide. Lá em baixo, não longe da ribeira que já tem provocado tragédias, desembarcaram os primeiros que puseram pé nesta ilha, talvez em frente ao sítio onde ainda resiste a bela matriz velha. O viajante olha as ondas como se contemplasse um monumento histórico. E também ali houve o primeiro povoado e o primeiro nascimento humano. Por ter sido a única durante algum tempo, não precisou de mais nome do que este que mantém de Povoação, por vezes acrescentado, no princípio, com a designação de Nova. Quando surgiram outras, passou a ser conhecida como Povoação Velha. Mas cedo voltou à simplicidade quase pagã da falta de um baptismo verdadeiro.
Subindo pela Lomba do Cavaleiro, repete-se a visão de sossegada grandeza. Lá num alto, destaca-se a ermida de Santa Bárbara, que talvez esteja no lugar da primeira que se construiu na ilha. E, apesar de este ter sido o primeiro lugar onde em S. Miguel viveu gente, a Povoação só foi elevada a vila e sede de concelho em 3 de Julho de 1839.
Quando o viajante passa no caminho que leva à Ribeira Quente, já é tarde. Nem sequer haverá tempo de parar nas Furnas para comprar um bolo lêvedo ou uma maçaroca de milho cozido nas caldeiras. Ir àquela aldeia de pescadores, que nos tempos de crise fornecia de chicharros os pobres de grande parte da ilha, ficará para outro dia. O seu nome deve-se à ribeira dos Tambores, que nasce na lagoa das Furnas e ali desagua, mas que recebe a afluência de águas quentes naquela freguesia. Desde pequeno que ouviu falar nas quase lendárias ruas do povoado, como que espremido numa nesga de terra, com montes que o apertam de um lado e o mar que o abraça ou ameaça do outro. Ruas, algumas delas, onde não cabe um burro carregado, diziam-lhe. E onde as vizinhas, de janela a janela, podiam pedir umas brasas para acender o lume. E é verdade. Parece um bairro árabe em miniatura. Nem sequer as vielas de Alfama serão assim tão estreitas. A igreja, dedicada a São Paulo, está agora num lugar elevado, assim protegida das vagas de tempestade, que já arruinaram dois templos antes de este ter sido edificado. Para lá chegar, e até ao século XX, o mar era o melhor caminho. Mas em 1936 e 1940 foram abertos os dois únicos túneis viários de S. Miguel. Quando o viajante, anos mais tarde, descobrir um perturbador efeito de ilusão óptica, há-de repetir a experiência muitas vezes: depois de passada a curva a seguir ao segundo túnel, e a meio da pequena recta que se lhe segue, dá a impressão absoluta de que se continua a descer; no entanto, parando e pondo o motor em ponto morto, o carro recua com inesperada velocidade.
A sua praia é formosa e famosa. Ficam-lhe por cima altas arribas, e tem aquecimento natural em algumas zonas, devido a fontes hidrotermais a poucos metros da linha de costa. Grande parte do terreno onde assenta a freguesia deve-se a uma enorme derrocada em 1588 e ao vulcão de 1630. Mas é também uma das que mais população perderam nas últimas décadas do século XX. Em 1965 havia 2421 habitantes, para os censos de 2001 lhe atribuírem somente 798.
(De um texto para um livro turístico a publicar pela Ver Açor.)

Coisas que eu sei - Danni Carlos

Agora eu sei...

domingo, 12 de outubro de 2008

O Haver - Vinicius de Moraes (participação de Edu Lobo)

O Haver


Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo:
— Perdoai! — eles não têm culpa de ter nascido...

Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.

Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer balbuciar o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.

Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia de simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.

Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano, ou essa súbita alegria
Ao ouvir na madrugada passos que se perdem sem memória...

Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera cega em face da injustiça e do mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de sua inútil poesia e sua força inútil.

Resta esse sentimento da infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa tola capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem de comprometer-se sem necessidade.

Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo esse desejo de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não têm ontem nem hoje.

Resta essa faculdade incoercível de sonhar
E transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante

E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.

Resta essa obstinação em não fugir do labirinto
Na busca desesperada de alguma porta quem sabe inexistente
E essa coragem indizível diante do Grande Medo
E ao mesmo tempo esse terrível medo de renascer dentro da treva.

Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem história
Resta essa pobreza intrínseca, esse orgulho, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do próprio reino.

Resta essa fidelidade à mulher e ao seu tormento
Esse abandono sem remissão à sua voragem insaciável
Resta esse eterno morrer na cruz de seus braços
E esse eterno ressuscitar para ser recrucificado.

Resta esse diálogo cotidiano com a morte, esse fascínio
Pelo momento a vir, quando, emocionada
Ela virá me abrir a porta como uma velha amante
Sem saber que é a minha mais nova namorada.

sábado, 11 de outubro de 2008

Elton John - Sacrifice (Tradução)

"Não é sacrifício nenhum..."

Tocando em frente

A Admiração é a Primeira de Todas as Paixões

Quando o primeiro contacto com algum objeto nos surpreende e o consideramos novo ou muito diferente do que conhecíamos antes ou então do que supúnhamos que ele devia ser, isso faz que o admiremos e fiquemos espantados com ele. E como tal coisa pode acontecer antes que saibamos de alguma forma se esse objeto nos é conveniente ou não, a admiração parece-me ser a primeira de todas as paixões. E ela não tem contrário, porque, se o objeto que se apresenta nada tiver em si que nos surpreenda, não somos emocionados por ele e consideramo-lo sem paixão.

René Descartes, in 'As Paixões da Alma'

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

"Amigo é a alguém que te conhece a fundo e "apesar" disso: ainda te ama"







Gilmar, não adianta negar:Sei que me amas de verdade...


Amigo, como contar a história sem a melhor parte?
Posso falar que estávamos atrás de uma máquina, quando nos conhecemos.
Se eu revelar minha primeira curiosidade me ferro não é? Tudo bem, se eu não contar vais me cobrar. Fiz isso mesmo, não sei por quê. Posso explicar. Faço dessas coisas, devem ser descargas neurais.
Vou enrolar para não ficar tão mal para o meu lado. Exemplo: Quando fiz a minha primeira ultra-sonografia do primeiro filho, a médica me olhou e perguntou: Quer saber alguma coisa mãe? Respondi com uma pergunta: Ele tem braço? Ela achou que eu estava de gozação, não sabia das descargas neurais. Então, vamos voltar a nossa história. Minha primeira pergunta ao entrar em contato contigo pela Net: Qual a sua relação com a água? Você quis saber em que sentido, lógico. Então fui um pouco mais direta: Você gosta de tomar banho? Por Deus! Deves ser louco, porque não me bloqueou? E ainda respondeu.
Fora assim que iniciamos nossa amizade.
Estávamos em fim de inverno, início de primavera, marcamos a festa: PC, Web Cam, cerveja, e uma madrugada inteira. Avisei que estava num mezanino e que iria precisar descer escadas.
Tanta cumplicidade!
Estava próxima a minha formatura, eu iria defender meu trabalho de fim de curso. Acompanhastes os rascunhos de Estigma e solidão. Estavas lá comigo quando defendi meu trabalho.
Lembro que adoravas minhas cartas para Drummond.
Agora estou na dúvida se conto ou não o dia em que fui a seu encontro, detalhe, foi sem endereço, e o telefone estava sempre sem sinal. Fomos July, a outra Cris e eu. Uma aventura até a Roça Grande. Estava tudo combinado, a porta do carro estava fazendo um barulho horrível quando abria, então combinamos: Vamos colocar o som bem alto e desviar a atenção para abrir a porta, não faça isso muitas vezes, esquecemos do plano. Chegamos a Roça Grande acenando para a vizinhança, cumprimentando, parando, perguntando, enfim, fizemos amigos. E depois quando pediu o carro emprestado para comprar cigarros não entendeu nada porque as pessoas acenavam para o carro. Enfim.
Não fora uma viagem muito fácil, a Br 101 estava no começo das obras, entramos num lugar errado e a July gritava quase chorando: Corre Cris que estamos no meio de uma boiada, eu falei: Calma vai dar tudo certo, quase não deu , tive que entrar no pátio de alguém que não conhecia. Esta, fora uma das aventuras daquele dia. Bom , depois de algumas horas, estávamos lá frente a frente conversando pela primeira vez sem a máquina. Cheguei mesmo a duvidar se continuarias com a mesma disposição para nossa amizade, afinal a máquina me protegia bastante. Agora eu tropeçava, percebias minha falta de orientação espacial, enfim estas coisas. Ah, e minha timidez. Roça Grande é um pedacinho de Pasárgada, um lugarejo lindo e aconchegante. Anoiteceu e era hora de voltar. Ainda não estávamos na lei seca não é? Como um bom cavalheiro você se ofereceu para nos acompanhar até Florianópolis. Conto ou não conto? Isso não é mentir, é omitir alguns detalhes. Está bem. Vou contar nosso diálogo: - Quer que eu dirija Cris?
- Não. Você vai estragar meu carrinho.
- Hum?
- Deixa comigo.
Passado um tempo... Um silêncio estranho. Você perguntou:
- Cris, o que está olhando?
- Esta sinalização que não acaba nunca.
- Por Deus! Isso não é sinalização. É um caminhão que está na nossa frente.
- Ahhhhh ta.
Você precisava ver sua expressão no espelho. Nunca vi outra igual. Não sei como não pediu para descer do carro.
Eu expliquei:
- A noite não enxergo muito bem.
- Sua expressão piorou. Não entendi!?
Como sempre deu tudo certo... Sei que a aventura não terminou acho que vou ter que fazer em partes.
Muita coisa aconteceu naquele dia. Lembra do pneu furado?
E eu trocando numa estrada de terra?
E o macaco afundando?
Fica para próxima...
O que sei é que estavas lá comigo quando pensei ser o aniversário da Tiloca, e também estavas quando era mesmo o aniversário da Tiloca, e isso é muito importante para mim, lembras cada detalhe, e passaram-se quatro anos, e quando estamos juntos a vida é uma festa, uma grande festa. Adoro quando estou digirindo e falas: Vai Cris!
Respondo : Ainda não.Estou com medo!
Você faz aquela expressão de quem vai perder a paciência...
E daí eu falo: O medo já passou, vamos embora.
Lembra da última no posto de gasolina?
Perguntei a menina que iria abastecer: Aceita cartão?
Ela respondeu: Qual cartão?
Respondi bem séria: cartão de Natal.
Ela ficou pensando...
Não resisti juro. Eu tentei.
Na próxima vou contar o que aconteceu com o bolo da Tiloca, a culpa foi sua. Não precisava gritar: Entra ai!
E das voltas que tive que dar na rótula. Você me confunde.
Tenho pensado no nosso trailer, acho que vai ser um bom lugar para envelhecer. Posso dirigir? Nunca dirigi um trailer! Vai ser muito legal.
Lembra? Gilmar você me ama só que ainda não sabe!
Eu o amo muito para sempre...
Ps. Nem acabei de contar o primeiro dia.