quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Um Novo Ano...


O ano está acabando, costumo sentir saudades do que parte ou acaba. Agora que já estava segura por conhecê-lo inteiro ele vai embora. Não quero fazer o balanço. Negar ou lamentar.
O que sei é que vejo a maioria das pessoas eufóricas e não consigo entender...??? Onde está a mudança?
Perdas e ganhos disse um dia Lya Luft “... Não deveríamos perder nada, porque perder dói muito...”
“Não sou a areia onde se desenha um par de asas
ou grades diante de uma janela.
Não sou apenas a pedra que rola nas marés do mundo,
em cada praia renascendo outra.
Sou a orelha encostada na concha da vida,
sou construção e desmoronamento,
servo e senhor,
e sou mistério
A quatro mãos escrevemos este roteiro
para o palco de meu tempo:o meu destino e eu.
Nem sempre estamos afinados,
nem sempre nos levamos a sério. ”(Lya Luft)
...Difícil escrever sem rasuras Lya.E o destino não nos concede borracha e a tecla delete não funciona neste caso.
Penso que o ano novo deveria vir com manual, isso iria me poupar algumas dores de cabeça. Embora minha relação com manual e bula de medicamento não são das melhores.
Seria tão bom que ao terminar, o ano levasse junto nossas angústias, medos, dores, aqueles segredos que não conseguimos esquecer, aquelas saudades que teimam em incomodar. Deveríamos ganhar tudo novo... Tudo novo???? Olha quem fala... Morreria, não consigo trocar nem meu velho Twingo !? Passamos por tantas juntos, criei vínculo e prometi não abandoná-lo quando ficasse velhinho. Querer tudo novo?
É contraditório para quem não troca os móveis de lugar.
Já que não posso impedir este ano de acabar, vou desfazer o bico e abrir os braços para receber o novo, não quero que ele perceba minha rebeldia...
Já tenho alguns planos. Falo sério.
Fiz uma lista e ainda tenho mais umas horas para revisá-la.

· Vou começar agradecendo a Deus por cada amanhecer, prometer não ocupar nossos momentos com baboseiras e lamentações.
· Tecer com muito carinho um novo sonho; um dos bons , aqueles que nos fazem criar asas.
· Dançar na chuva
· Construir castelos de areia na praia, catar conchas e decorar um novo quadro com elas.
· Andar sem rumo
· Pescar siri
· Semear um novo jardim
· Estar mais tempo com meus amigos
· Sorrir e beijar gente na rua que eu nunca vi.
· Continuar brincando, comendo brigadeiro de panela, bacias de pipoca, e não me importar com a balança.
· Arrumar um novo lugar secreto para me esconder sempre que sentir vontade.
· Voltar a acreditar nestas coisas do coração
· Beijar de olhos fechados e sentir a brisa da vida
· Rir de mim mesma e curtir minha companhia
· Arrumar um desafio
· Cavar uma oportunidade
· Acreditar ...

· Deixarei alguns fardos para trás, uns eu carreguei por escolha e outros por teimosia.
· Vou amar melhor, lucros da maturidade.
· Vou tentar renascer todos os dias.
· Vou dar banho no Toby
· Vou usar filtro solar
· Vou tentar aperfeiçoar durante o ano minha lista para 2010. Ainda quero estar por aqui .


...O meu maior desejo era que as guerras acabassem. Todas! As físicas e as morais. E que os homens abandonassem a violência. Que a paz da natureza fosse o regente nesta orquestra da vida. Que ser verdadeiro fosse Lei. E que as Leis fossem respeitadas.
Que todos fossem amados como filhos de Deus: Os leprosos, os portadores de HIV, os infortunados, os miseráveis, os órfãos... E que nunca soubessem o que é solidão.
Que apagassem a geração dos descartáveis, tudo começou com um copo e hoje descartam o coração.
Parece que todas as coisas que meu avô confessou-me como ser o maior tesouro,desvalorizaram,foram descartadas junto com os copos. Acabo por agradecer ele não estar aqui para ver isso, certamente sofreria. Vou fazer campanha pela caneca de estimação, talvez eu lance moda, a caneca que combina com o sapato. Quem sabe se eu fizer uma montagem do tipo: Uma figura famosa não sai de casa sem a sua caneca, isso bem arrumadinho, talvez resolva o problema dos copos. Agora, tenho que parar se não vou entrar o ano sem a minha caneca...

Vamos lá, não vai adiantar todo esse trabalho de pular ondinhas, comer não sei quantas sementes, ou que comida, pensar na cor da roupa, pular com o pé direito, colocar o dedo na tomada (acho que essa não é uma boa idéia), só se for para bronzeado instantâneo e um novo look no penteado.
Vamos silenciar e ouvir nossos corações. Agradecer o milagre de estar VIVO.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Meu Natal


O Sonho (Sebastião Gama)
Pelo sonho é que vamos,
Comovidos e mudos.
Chegamos?
Não chegamos?
Haja ou não frutos,
Pelo Sonho é que vamos.
Basta a fé no que temos.
Basta a esperança naquilo
Que talvez não teremos.
Basta que a alma demos,
Com a mesma alegria,
ao que é do dia-a-dia.
Chegamos?
Não chegamos?
-Partimos. Vamos. Somos.
Meus Filhos
Desejo a você(s)…
Fruto do mato
Cheiro de jardim
Namoro no portão
Domingo sem chuva
Segunda sem mau humor
Sábado com seu amor
Crônica de Rubem Braga
Filme antigo na TV
Ter uma pessoa especial
E que ela goste de você
Música de Tom com letra de Chico
Frango caipira em pensão do interior
Ouvir uma palavra amável
Ter uma surpresa agradável
Noite de lua Cheia
Rever uma velha amizade
Ter fé em Deus
Rir como criança
Ouvir canto de passarinho
Sarar de resfriado
Formar um par ideal
Tomar banho de cachoeira
Pegar um bronzeado legal
Aprender um nova canção
Esperar alguém na estação
Queijo com goiabada
Pôr-do-Sol na roça
Uma festa
Um violão
Uma seresta
Recordar um amor antigo
Ter um ombro sempre amigo
Uma tarde amena
Tocar violão para alguém
Ouvir a chuva no telhado
Vinho branco
Bolero de Ravel
E muito carinho meu.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Natal





































































Bom Natal
Quero ver você não chorar, não olhar pra traz, nem se arrepender do que faz. Quero ver o amor vencer, mas se a dor nascer você resistir e sorrir. Se você pode ser assim, tão enorme assim, eu vou crer. Que o Natal existe, que ninguém é triste, que no mundo há sempre amor. Bom Natal, um feliz Natal, muito amor e paz, pra você. Pra você...





Então é Natal


E o que você fez?


O ano termina


E nasce outra vez


Então é Natal


A festa cristã


Do velho e do novo


Do amor como um todo


Então é Natal


E um Ano Novo também


Que seja feliz quem


Souber o que é o bem


Então é Natal


Pro enfermo e pro são


Pro rico e pro pobre


Num só coração


Então, bom Natal


Pro branco e pro negro


amarelo e vermelho


Pra paz, afinal


Então, bom Natal


E um Ano Novo também


Que seja feliz quem


Souber o que é o bem


Então é Natal

E o que a gente fez?























terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Uma mensagem de natal ... Roupa Nova

Um clima de sonho se espalha no ar
Pessoas se olham com brilho no olhar
A gente já sente chegando o Natal
É tempo de amor, todo mundo é igual
Os velhos amigos irão se abraçar
Os desconhecidos irão se falar
E quem for criança vai olhar pro céu
Fazendo um pedido pro velho Noel
Se a gente é capaz de espalhar alegria
Se a gente é capaz de toda essa magia
Eu tenho certeza que a gente podia
Fazer com que fosse Natal todo dia
Um jeito mais manso de ser e falar
Mais calma, mais tempo pra gente se dar
Me diz por que só no Natal é assim?
Que bom se ele nunca tivesse mais fim
Que o Natal comece no seu coração
Que seja pra todos sem ter distinção
Um gesto, um sorriso, um abraço, o que for
O melhor presente é sempre o amor
Se a gente é capaz de espalhar alegria ...
Natal todo dia ... (todo dia é Natal)

domingo, 21 de dezembro de 2008

DEPENDE DE NÓS

Acredito e tenho esperança.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Mucuripe - Cristina Motta

"Um quadro só sobrevive, graças aquele que o olha".
Pablo Picasso - Pintor espanhol

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Teatro Pedro Ivo 13/12/2008












SONETO DA FIDELIDADE
Vinícius de Morais
De tudo, meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor ( que tive )
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

CANÇÃO DA FELICIDADE(Sebastião Gama)
... Pois à minha vida nada lhe faltava. Minha taça estava toda ela cheia.
Nem fazia ideia que pudesse haver mais algum prazer que aquele que eu tinha.
Pela manhãzinha pela tarde quente, ninguém mais contente pela rua andava.
As mãos, se as fechava, as mãos, se as abria, tudo quanto havia tudo havia nelas.
Não pedia Estrelas, não pedia flores, não pedia amores, porque os tinha já.
Que de enigmas há! Como a Vida tem coisas que a ninguém passam p’la cabeça!
Antes que me esqueça deixem-me contar: hoje fui passear, manhãzinha ainda,
e vi a mais linda de todas as rosas: pétalas sedosas, vermelhas, brilhantes...
E eu, que tinha dantes quanto me bastava, nada me faltava para ser feliz,
eu, que nunca quis mais do que me deu o favor do Céu e o da humana gente,
fiquei tão contente como se essa rosa fosse misteriosa flor que eu desejasse;
como se andasse à procura dela por faltar só ela para ser feliz...

Madrigal (Sebastião Gama)
A minha história é simples.A tua, meu Amor,é bem mais simples ainda:
"Era uma vez uma flor.Nasceu à beira de um Poeta..."
Vês como é simples e linda?
(O resto conto depois;mas tão a sós, tão de mansoque só escutemos os dois).

...O Céu de Santa Catarina esteve em pranto...Nunca vi uma primavera chorar tanto.
Cristina Vianna.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

você não me ensinou a te esquecer

E te querendo eu vou tentando me encontrar...

Ah essas borboletas bailarinas!


Tenho estado tão triste... mas,sempre penso em você.

E quando o dia termina e a noite avança...Quanta solidão!

Minhas lembranças insones e noturnas. Quanto silêncio dentro de mim! O coração anda tão quieto que parece morto. Entretanto os pensamentos absurdos, de tão inquietos quebram-se e espalham pelas cobertas. Não há como juntá-los. Tantos cacos! Olho para minhas mãos em concha e tento desesperadamente deter um... Impossível borboleta vibrante! Impossível!
Escuto o soluçar da alma, e espanto as borboletas bailarinas na tentativa de protegê-la.
Ouço o grito do pássaro noturno, chego a temer que algum caco o alcance e lhe fira.

Ao amanhecer recosto minha cabeça na vidraça, sou vencida pelo cansaço que a agonia da solidão causou-me. Ainda penso em você.

Vejo o orvalho escorrer nas folhas verdes a renovar o brilho de sua cor. E por instantes penso ver teus olhos, o coração acorda,acelera. E somes. Devo estar embriagada de cansaço.

Os primeiros raios de sol invadem a janela e alcançam meu rosto, sinto um leve calor, como fossem tuas mãos a me acariciar. Inquieta agora está minha pele.

O dia está amanhecendo, ouço os primeiros cantos dos pássaros como uma oração. E vejo que continuo só, pensando em ti. Ouço sua voz e percebo que me embriaguei de sonhos. Sou vencida pelo cansaço... o dia amanheceu. Não tenho o que sonhei.
Rendo-me a quietude do coração, abraço minha saudade e adormeço.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Um guerreiro chamado João.


Quem disse que não chegarias aqui? Esta é a primeira de muitas formaturas.
És um guerreiro meu filho!
Nasceste para unir tua solidão a minha.
Não importa de onde saímos e sim o instante em que demos às mãos.
Importa o instante mágico em que te aninhei em meu peito, cantei para ti acalmar cantigas nossas e olhando para teus olhinhos falei das cores da vida e das pedrinhas da estrada ,como a contar uma fábula. Sim, as cores da vida mudam e alternam,mas precisamos olhar para ela com olhos de esperança. O segredo da vida está no amor, não tanto no que recebemos, mas naquele que somos capazes de sentir e doar. Porque no final desta estrada, parece valer a qualidade do amor que sentimos pelo outro. É através do amor que a vida torna-se realmente vida,onde conseguimos compreender e perdoar.
Cresci contigo meu filho, e senti o milagre do amor.
Estou aqui para lhe dar os parabéns... Estou muito feliz por você. E por ser meu filho.
Você conseguiu. Grande guerreiro! Um grande guerreiro!
Acredito em tua alma de flores. E naquele menino que passava horas admirando o vôo dos pássaros. Está chegando a hora do teu grande vôo. Mas,o teu ninho sempre estará aqui.
Não temas falhar. Basta que tenhas coragem para recomeçar quantas vezes se fizer necessário e cuidar da qualidade das sementes que carregares nas mãos, porque implicará em sua colheita.
Nunca pôde ser diferente, a vida nos responde através do que semeamos.

Eu te amo João.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

VOCÊ - ROBERTO CARLOS

...Lágrimas ou palavras?

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Eu sei que vou te amar - Tom Jobim e Soneto da Fidelidade

Vou dizer este Soneto dia 12 de Dezembro, no teatro Pedro Ivo no musical "Ilhas",intercâmbio Açores/Santa Catarina,onde o músico Açoriano Horácio Medeiros fará um concerto junto com músicos Catarinenses.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Fagner Retrovisor

"Sou levada pelo movimento que tua falta faz..."

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Caramurú, de Frei José de Santa Rita Durão

Moema - Vitor Meirelles-1875
"... Uma indígena, entretanto, prefere morrer a perder de vista o homem branco.
É Moema, que vai perecer tragada pelas ondas:Perde o lume dos olhos, pasma e treme,
Pálida a cor, o aspecto moribundo,
Com a mão já sem vigor, soltando o leme,
Entre as salsas* escumas desce ao fundo:Mas na onda do mar, que irado freme,
Tornando a aparecer desde o profundo:"Ah! Diogo cruel!" disse com mágoa
E sem mais vista ser, sorveu-se n'água."
CANTO X
I
Cheia de assombro a turba a dama admira
Tornada a si da suspensão pasmosa;
E da nova visão, que ali sentira,
Prossegue a ouvir-lhe a narração gostosa.
« Mais bela que esse sol que o mundo gira,
E com dor (disse) de purpúrea rosa,
Vi formar-se no céu nuvem serena,
Qual nasee a aurora em madrugada amena.
II
Vi luzeiros de chama rutilante
Sobre a esfera tecer claro diadema
Da matéria mais pura que o diamante,
Que obra parece de invenção suprema;
Luzia cada estrela tão brilhante,
Que parecia um sol, precioso emblema
De admirável, belíssima pessoa,
Que à roda da cabeça cinge a coroa.
III
De ouro fino os eabelos pareciam,
Que uma aura branda aos ares espalhava,
E uns dos outros talvez se dividiam,
E outra vez um com outro se enredava;
Frechas voando, mais não feririam,
Do que um só deles nalma penetrava;
Cabelos tão gentis, que o espôso amado
Se queixa que de um deles foi chagado. IV
A fronte bela, cândida, espaçosa,
Cheia de celestial serenidade,
Vislumbres dava pela luz formosa
Da imortal soberana claridade.
Vê-se ali mansidão reinar piedosa,
E envolta na modéstia a suavidade,
Com graça, a quem a olhava tão serena,
Que, excitando prazer, desterra a pena.
V
Dos dois olhos não há na terra idéia,
Que astros, flores, diamantes escurecem,
Ou na beleza de mil graças cheia,
Ou nos agrados, que brilhando of'recem,
Num olhar seu toda dama se encadeia,
E mil votos à roda lhe aparecem
Dos que a seu culto glorioso alista,
Outorgando o remédio numa vista.
VI
Das faces belas,
se na terra houvera
Imagem competente que pintara,
As flores mais gentis da primavera
Pelo encarnado e branco eu comparara;
Mas flor não nasce na terrena esfera,
Não há estrela no céu tão bela e clara,
Que não seja, se a opor-se-lhe se arrisca,
Menos que à luz do sol breve faísca.
VII
Da boca formosíssima pendente
Pasma em silêneio todo o céu profundo;
Boca que um Fiat pronunciou potente
Com mais efeito que se criasse um mundo.
Odorífero cheiro em todo o ambiente
Do lábio se espalhava rubicundo;
Fragrância celestial, que amante e pia
No filho com mil ósculos bebia.
VIII
Todos suspende em pasmo respeitoso
O amável formosíssimo semblante,
E mais nele se ostenta poderoso
O soberano autor do céu brilhante:
Pois quanto tem o Empiro de formoso,
Quanto a angélica luz de rutilante,
Quanto dos serafins o ardente incêndio,
De tudo aquele rosto era um compêndio.
IX
Nas brancas mãos, que angélicas se estendem,
Um desmaiado azul nas veias tinto,
Faz parecer aos olhos, quando atendem,
Alabastros com fundos de jacinto;
Ambas com doce abraço ao seio prendem
Formosura maior, que aqui não pinto;
Porque para pincel me não bastara
Quando Deus já eriou, quanto criara.
X
Mas, se não se dedigna o verbo santo,
Por nosso amor, de um simbolo rasteiro,
Dentro parece do virgíneo manto,
Pascendo em brancos lídios um cordeiro.
Os olhos com suavíssimo quebranto
Lhe ocupa um doce sono lisonjeiro,
À roda os serafins, que o estrondo impedem,
Para o não despertar silêneio pedem.
XI
Aos pés da mãe piedosa superada
Vê-se a antiga serpente insidiosa,
De que a fronte na culpa levantada
Quebra a planta virgínea gloriosa;
E, enroscando os mortais já quebrantada,
Ao céu só da Virgem poderosa,
No mais fundo do abismo se submerge,
E o feral antro do veneno asperge.
XII
Ao ver beleza tanta, o pensamento,
Que a linda imagem surprendia absorto,
Ouve no centro dalma um doce acento
Que o peito enchia de vital conforto.
E, como infunde às plantas novo alento
O matutino orvalho em fértil horto,
Tal dos doces influxos na abundância
Dentro dalma eu senti nova constância.
XIII
« Catarina (me diz), verás ditosa
Outra vez do Brasil a terra amada;
Faze que a imagem minha gloriosa
Se restitua de vil mão roubada! »
E assim dizendo, nuvem luminosa,
Como véu, cobre a face desejada,
E faz que na memória firme exista
Entre amor e saudade a doce vista.
XIV
Assim conclui Catarina, enchendo
De duvidoso assombro a companhia.
Que imagem fosse aquela, iam dizendo,
Ou qual deles acaso a roubaria?
Se a Mãe de Deus, mistérios envolvendo,
Doutra cópia int'rior o entenderia,
Ou queria talvez que em santo trato
Se restitua nalma o seu retrato?
XV
Mas vela em tanto apareceu boiante
Que junto da Bahia o mar cortava,
Onde em bandeira, que lançou flamante,
O leão das Espanhas tremulava.
Vem à fala com salva fulminante,
E a franca nau, que à terra velejava.
Posto à capa o espanhol, cortês visita,
E o claro Diogo a visitá-lo incita.
XVI
E, depois que em festivo amigo abordo
O bom Gonzales o hóspede festeja,
Excitou-se nos dois claro recordo
De quem o hispano foi, quem Diogo seja;
Ambos nos braços, de comum acordo,
Um a outro mil ditas se deseja,
Reconhecendo o luso o nobre hispano,
Por um dos companheiros de Arelhano.
XVII
« Carlos o grande, o imperador famoso,
Grato por mim a saudar-te envia
(Disse a Diogo o hispano generoso,
Socorrido a outro tempo na Bahia).
Ouviu o invicto César, gracioso,
O teu obséquio à espanha monarquia,
E o serviço, que grande considera,
Por mim do seu agrado remunera.
XVII
E por que possa em caso equivalente
Retribuir-te aquela ação piedosa,
Salva aqui te ofereço a infausta gente,
Perdida nessa praia desditosa,
De cativeiro bárbaro e inclemente
Vivia na opressão laboriosa,
Até que destas armas protegida
Remiu na liberdade a infausta vita. »
XIX
Garcez então, da gente lusitana
O mais distinto que o discurso ouvia,
Confessa o benefício a força hispana,
E a história de seus casos principia: «
Depois que a gente abandonaste insana,
Com seu aviso, a lusa monarquia
Gente aqui mandou, naus poderosas,
Que as nações sujeitassem belicosas.
XX
Foi Pereira Coutinho o destinado
A fazer da Bahia a grã-conquista,
Herói no índico império celebrado,
Em quem nova esperança o luso avista,
Tudo tinha o bom chefe preparado,
Formosas naus ajunta e gente alista
E à grã-população que meditava
De um sexo e doutro as gentes convidava.
XXI
E, sem demora as praias ocupando,
Foi dos Tupinambás, com teu recordo,
As potentes aldeias visitando,
Com amiga aliança em firme acordo.
Do sertão vasto em numeroso bando
Desciam, festejando o nosso abordo,
Os carijós, tapuias e outras gentes,
Por fama do teu nome obedientes.
XXII
Gupeva e Taparica celebrados
Entre os tupinambás, nação que habita
Os campos da Bahia dilatados,
Antes de outros Coutinho solicita;
E, por vê-los contigo emparentados,
Povoar o Recôncavo medita
Da gente, que o teu nome reconhece,
Onde de dia a dia o povo cresce.
XXIII
Todo o fértil terreno utilizando,
Donde riqueza se oferece tanta,
Engenhos vai de açúcar fabricando,
Aldeias, casas, máquinas levanta.
E as drogas preciosas comutando,
A mandioca, arroz e a cana planta;
Nem dúvida que seja em tempo breve
A colônia melhor que Europa teve.
XXIV
Escolha faz nas tabas numerosas
Dos que acha no trabalho mais ativos;
Mas guarda para empresas belicosas
Os que em ferócia reconhece altivos.
A todos com maneiras amorosas
Propõe da fé cristã elaros motivos;
E, a condição notando em cada raça.
Uns doma eom terror, outros com graça.
XXV
Sabe que em gente tal nada se colhe,
Depois de endurecer na idade adulta,
Onde na puerícia os mais escolhe,
Por dar-lhe em breve a educação mais culta.
Nem dos pais violento algum recolhe;
Mas do proveito, que de alguns resulta,
Induz a gente bárbara que o segue
Que a prole à educação gostosa entregue.
XXVI
Em cuidadosa escola,
o temor santo Antes das artes a qualquer se ensina;
Dão-lhes lições de ler, contar, de canto,
E o catecismo da cristã doutrina;
Vendo-os o rude pai, concebe espanto,
E pelo filho a mãe à fé se inclina;
Nem de meio entre nós mais apto se usa
Que aquela gente bárbara reduza.
XXVII
E estes serão, se a idéia não me engana,
Meios à grande empresa necessários,
Que em breve a gente rude fora humana,
Com escolas e régios seminários.
Foge, sem se domar, a gente insana,
Se em forças e poder nos vê contrários;
Mas, educada em tenra mocidade,
Dilataria o reino e a cristandade.
XXVIII
Mas no meio das belas esperanças,
Com que a nova colônia florescia,
Move a serpe infernal desconfianças
Entre os tupinambás e os da Bahia:
Foi a causa infeliz destas mudanças
Um interesse vil de gente impia,
Que os povos ofendendo em paz amigos,
Cobrirarn toda a terra de inimigos.
XXIX
Gupeva foi dos seus abandonado;
Taparica foi mono; a lusa gente
Do gentio nos matos rebelado
Contínua perda nas lavouras sente.
Queimada a planta foi, perdido o gado,
E, cereado o arraial em contingente,
Viu Coutinho por bárbara violência
Perdido o seu tesouro e diligência
XXX
Na geral aflição do luso povo
A lugar se recorre mais tranqüilo;
Buscamos nos Ilhéus um sítio novo
Contra a turba feroz, seguro asilo.
E já Coutinho se dispõe de novo,
Vendo manso o gentio, a reduzi-lo,
Fabricando colônia de mais dura,
Menos fecunda, sim, mas mais segura.
XXXI
Mas os Tupinambás,
melhor cuidando,
Com promessas os nossos convidavam,
Com mil amigas provas protestando
De conservar a paz que antes guardavam,
Creu o infeliz Coutinho,
celebrando Pactos que segurança a todos davam;
E, sem temor de mais,
voltar queria
Ao Recôncavo antigo da Bahia.
XXXII
E já no mar a frota se equipava,
E cada um de nós na empresa absorto,
Sem temor, ou receio,
só cuidava Em fazer ao Recôncavo transporto,
Navegamos o espaço que distava,
E, tendo à vista o desejado porto,
Com fúria o mar aos astros se levanta,
Em cerração do céu que à vista espanta.
XXXIII
O ar caliginoso e em névoa impuro
Tirou-nos toda a vista, e sem destino
Batemos cegos num penhasco duro,
Sem termos do lugar notícia ou tino.
Neste momento horrível, transe escuro,
Suplicando o favor do céu divino,
Vemos a nau, com hórridos fracassos,
Desfazer-se na penha em mil pedaços.
XXXIV
Ficamos, como o entendes, alagados,
Nadando em meio da procela horrenda;
Uns das ondas se afogam devorados,
Outros na praia em confusão tremenda.
E eis que os cruéis tupis encarniçados
Com frechas se empenharam na contenda,
Por levar-nos da areia semi-vivos
À sorte dos seus míseros cativos.
XXXV
Muitos vimos dos bárbaros comidos,
Alguns dispostos ao funesto ocaso,
Aflitos todos nós e esmorecidos,
E esperando qualquer seu triste prazo;
Mas de ti sobretudo condoídos,
Triste Coutinho, que no acerbo caso,
Depois de triunfar da Ásia assombrada,
Perdeste infelizmente a vida amada.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

E o céu em Santa Catarina continua em pranto.



Nunca vi uma primavera chorar tanto!
Tanta água que a própria terra devolve e dissolve diante de nossos olhos.
Ficamos perplexos. E o coração bate tão forte que parece querer rasgar o peito para a alma sair, ou jogar-se para fora.
A natureza grita e toda ilha chora.
O que é uma casa?
Um lugar onde nos sentimos seguros, um lugar para retornar, um lugar onde podemos “ser”, uma estrutura onde construímos nossa história.
Engraçado como há coisas que só conseguimos enxergar em total escuridão.
Neste momento estou no lugar onde mora o mistério, entro e saio rapidamente de dentro de mim numa busca louca sem respostas. Algum consolo ou explicação do inexplicável.
Este deve ser um dos segredos humanos: carregamos dentro de nós um casulo onde podemos nos ocultar. E em outras vezes, mergulhamos inteiros numa página em branco e somos símbolos, melodia, equações matemáticas... Somos o que sentimos,e o que sentimos nem sempre conseguimos explicar.Mas,sabemos que sentimos o que muitas vezes tentamos negar.
Somos uma linda odisséia, onde por vezes nos deparamos com uma primavera que chora muito.
Muito mais do que devia...

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Sou sombra


Estou diante de uma vida ampla
Sem promessas
Sem sonhos
Sem destino
Flutuo
Como uma sombra
Silenciosa
Eu e minha indignação com a vaidade humana.
Lutando contra esses semi-deuses.
Contorço-me entre esses Deuses covardes.
E minha luta solitária.
Pena eu ser assim
Não saber ser de outro jeito.
Uma vida ampla
Sem ponto de chegada ou partida.
Sem aguardar um milagre
Sem esperar uma miragem.
Sem amarras
Sem porto
Sem direção.
Apenas a amplidão.

Cristina Vianna

domingo, 23 de novembro de 2008

Devaneios


Sonhei que ele era um lago
Eu
seu contorno.
Sonhei que ele era um rio
Eu
o seu movimento.
Sonhei ainda mais...
Cheguei a sonhar
Que ele me sonhava.
Deus por que fizestes isso comigo!?
Deste-me um amor que não posso viver
Não posso tocar
Não posso sentir.
Guia-me pelas beiradas do caminho
Estou tão sozinha.
Fazei com que não mais lágrimas
E sim poesias, escorram por meus olhos.
E que estas mãos impregnadas de sonho
Repousem sobre a verdade.

Cristina Vianna

sábado, 22 de novembro de 2008

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Noites Com Sol in Rio de Janeiro - Saudades

... do meu povo, da minha terra,de mim.Deixei por lá minhas noites com sol.
Hoje eu tenho o breu,e de nada adiantou abrir as janelas.Entretanto, ainda lembro o que diz a rosa ao rouxinol.
Vem me tirar do abandono...
Noites com sol são mais belas.Indescritíveis.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Trecho do X capítulo do livro Espólio - Daniel de Sá.



Daniel, gostaria de dizer ao Lawson que quando li Ilha Grande Fechada, não li apenas um livro, não gostei apenas de um romance , estava diante dos meus olhos a alma de um escritor, descrita em linhas em forma de palavras. E também gostaria de dizer ao Lawson, o quanto aprendi a amá-lo no decorrer de seus desabafos e indagações,o quanto desejei fazer parte do seu ato solitário de escrever,tanto quanto ele fez no meu ato solitário em ler. Lawson também é este punhado de infinito que retemos nas mãos em concha.




Mas que era, afinal, a celebridade?...Que lhe diziam nomes como Royce Brier ou Raymond Sprigle?... Estavam catalogados entre milhares de referências anuais do “World Almanac”, jaziam nas enciclopédias à espera de que um olhar distraído reparasse neles. E qual era a importância real que teria para ele que mil ou cem mil leitores,no sossego de suas casas e entre um bocejo e uma fumaça,lessem com agrado uma crônica de guerra ou um romance assinado com o nome Charles Lawson?
Para o leitor- pensava ele- o escritor não passa de um homem que está lá, que tem como missão escrever, nada mais do que escrever. Pode gostar-se de um político ou de um atleta,de um actor ou de um palhaço,mas de um escritor não se gosta,gosta-se de um livro.Talvez nenhum homem esteja tanto na sua obra como um escritor no acto solitário de escrever,talvez nenhum homem esteja tão pouco na sua obra como um escritor no acto solitário de ser lido.As pessoas comuns – e a maior parte das pessoas são pessoas comuns – julgam que um escritor tem inevitavelmente de ser um escritor, que a qualidade de escrever lhe é imanente como a Deus a divindade. As pessoas comuns não pensam no que está por trás de umas páginas de que, no fim, simplesmente se gosta ou se não gosta.

(Daniel de Sá,O Espólio;Brumarte,1987)

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Velha Infância

Um sonho para mim...

Moonlight Sonata - Ludwig Van Beethoven

Eu ...


Eu sou a que no mundo anda perdida,
Eu sou a que na vida não tem norte,
Sou a irmã do Sonho,e desta sorte
Sou a crucificada ... a dolorida ...


Sombra de névoa tênue e esvaecida,
E que o destino amargo, triste e forte,
Impele brutalmente para a morte!
Alma de luto sempre incompreendida!...


Sou aquela que passa e ninguém vê...
Sou a que chamam triste sem o ser...
Sou a que chora sem saber porquê...


Sou talvez a visão que Alguém sonhou,
Alguém que veio ao mundo pra me ver,
E que nunca na vida me encontrou!

Florbela Espanca

domingo, 16 de novembro de 2008

Meu Amigo poeta Daniel Tolfo- Na era da privatização


Falas sério ! Desejas privatizar-me !
Fiquei pasmo com tua manifestação.
Se quiseres privatizar o meu coração,
Vais ter que inteiramente amar-me.


Não apenas com passageira paixão,
Tampouco com essa lábia moderna;
Mas, uma recíproca afeição eterna,
Com sentimento d’alma e coração.


Onde tudo será expontâneo, sem temor;
Desejo tudo, não apenas mostruário;
Indubitavelmente será necessário,
Receber a moeda denominada amor.


Em clima de total afeição e calor,
Com sadia e amorável aceitação
Poderás privatizar este coração
Nas regras e dinâmicas do amor.

D a n i e l T o l f o

sábado, 15 de novembro de 2008

Amor I Love You - Marisa Monte

Deixa eu dizer que te amo...

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Terminamos a viagem com o coração repleto de saudades....

O viajante finda esta encantadora e fabulosa viagem. Deixa nossos corações repletos de cores, sons, cheiros e sabores. Portanto, também nos deixa com muitas saudades, e com aquele gostinho na boca de quero mais.
Deixo aqui o agradecimento ao viajante pelo prazer da companhia, e a afirmação de que as cores desta vida dependem dos olhos que a admiram, e do coração que a abriga. E que foi muito bom viver este tempo de viagem através dos olhos e do coração deste viajante único e precioso.
Daniel de Sá tens a terceira mão, que emana raios de esperança e humanidade. Um imenso beijo neste teu coração que tanto amo.




“A arqueologia do silêncio”
(Título de uma crónica de José Ricardo Costa, no Jornal Torrejano)
O viajante faz o balanço da viagem. As melhores viagens são aquelas que não acabam quando chegam ao fim. Aquelas a que apetece sempre regressar pelos trilhos da memória. E uma vez mais o presente e o passado se confundem. Com a indecisão de saber se as coisas valem pelo seu tempo ou por si mesmas. Os sons poéticos de hoje serão o ruído de um motor de automóvel tal como há meio século era o chiar dos carros de bois? A beleza da arquitectura de betão poderá ter o valor sentimental de uma casa de pedra com porta e duas janelas? Um pintor pintaria com o mesmo sentimento um prado verde e um campo de papoilas? O pão, a massa sovada, as malassadas, o queijo de cabra, o doce de amora, as batatas-doces ou a abóbora assadas no forno têm ainda o mesmo sabor? E as rações trocam mesmo o gosto aos ovos ou à carne de porco dos torresmos de vinha de alhos, do chouriço, das morcelas?
O viajante não faz as contas deste balanço. Apenas cogita. De pé, no miradoiro de Santa Iria. Leu de alguém que falou na arqueologia do silêncio. Esse acto impossível de arrancar ao passado os sons que duraram instantes. E que sons tremendos se ouviriam por aqueles montes à volta! Quais os estampidos e gritos de uma batalha que acontece sem ter tido ensaio geral? Onde se mata e morre como uma que ali houve entre liberais e absolutistas?
Por aquela costa adiante, a ilha como que tem pena de se acabar a terra, alongando-se em sucessivas pontas mar adentro. Àquela distância, a serra da Tronqueira perde o aspecto selvagem, quase impossível de domar. O viajante nunca olha o pico da Vara, mesmo assim de tão longe, sem pensar em Ginette Neveu e no silêncio que se fez para o seu violino Stradivarius. Ou no coração de Edith Piaf, que ali também se partiu no corpo despedaçado de Marcel Cerdan.
Desde sempre que as montanhas cobram em vidas os seus direitos de passagem. E as das ilhas não têm sido menos avaras do que tantas outras. Gente que se perdeu nelas. Caminhantes de pé posto ou viajantes aéreos, como aqueles da Air France, perto de Algarvia, ou o jovem Marc Philip, que falhou por uma dúzia de metros o sobrevoo do cume do pico da Barrosa. Mas as montanhas são quase sempre os mais belos monumentos na paisagem. Ainda que feridas pelas torres da geotermia, que produz mais de 40% da electricidade que a ilha consome.
Como seria a ilha há seis séculos, como seria aquilo que viram os primeiros que cá chegaram? Deixemos essa revelação perdida no silêncio eterno de um suposto Diogo, ou Diego, e aos marinheiros que comandava.
O viajante suspende o balanço da viagem para pensar nesse outro tempo. Que terá sido o da estreia do espectáculo da ilha perante olhos europeus. Há quem aceite a hipótese de que ainda antes do nascimento de Cristo já por cá teriam estado os fenícios. Mas os fenícios não foram mais do que bons marinheiros de cabotagem, e naquele tempo era inconcebível arriscar uma viagem num mar imenso e desconhecido. Até quem acredita que eles contornaram toda a África só o faz com o pressuposto de que viajaram sempre junto à costa. E se os normandos alcançaram a América, bem no fim do século X, aportando primeiro na Gronelândia, essa viagem não passa de um passeio comparada à vinda desde Lisboa ou Lagos até aos Açores. Porque os normandos fizeram escala nas ilhas Faroe e na Islândia, já então habitadas havia séculos. E da Islândia à Gronelândia a distância é de trezentos quilómetros, apenas o dobro da que separa a Terceira de S. Miguel. Com boa visibilidade, talvez nunca tivessem sequer perdido terra de vista. Até meio do percurso, veriam ainda a Islândia; a partir daí, já poderiam ter vislumbrado a Gronelândia.
O que o suposto Diogo, dito de Silves mas que quase de certeza o não foi, e os seus marinheiros viram foi uma ilha coberta de uma vegetação tão densa que era difícil andar por terra adentro. Espécies desaparecidas já na Europa, e que aqui constituem sobretudo a floresta da laurissilva, por nela abundarem os louros. Ainda podem ser encontrados vestígios dela, quase somente nos lugares mais inacessíveis. Porque os outros foram a pouco e pouco sendo ocupados pela agricultura. Uma agricultura que primeiro se destinou a matar a fome, produzindo trigo que ia sobretudo para os soldados das praças do Norte de África, além de cevada para os cavalos. E abundante pastel, que dava aquele fulgurante azul que os artistas flamengos tantas vezes pintaram. Veio depois, desde finais do século XVII até bem passada a primeira metade do seguinte, o ciclo da laranja. O tal tempo cuja riqueza criou palacetes e barões. Mas terá feito muitos pobres e emigrantes na sua própria ilha, que iam em busca das quintas onde lhes dessem trabalho. O viajante calcula que talvez cerca de um terço do solo arável estivesse ocupado pelos laranjais. Terra que faltava para os pobres cultivarem o que comer. E, se a lenda conta que Maria Antonieta disse que o povo, por não ter pão, comesse brioches, por cá era tanta a abundância de laranjas que as crianças chegavam a ter um aspecto amarelado, devido ao excesso de ácido cítrico. A exportação chegou a atingir mais de cento e cinquenta milhões de laranjas, nos últimos anos da sua abundância.
Foi então que surgiu a Sociedade Promotora da Agricultura Micaelense. Não terá havido nunca, nos Açores, outro movimento cívico ou político mais importante do que este. E que determinou o futuro da ilha, com consequências que perduram ainda hoje. Homens que perceberam a tempo que o comércio da laranja não estaria para durar muito. Os novos meios de transporte – barcos a vapor e comboios – permitiriam aos consumidores do Norte da Europa um fácil acesso às laranjas de Valência ou da Sicília. Além disso, uma doença mortal ia insinuando já a destruição dos laranjais. Mas cerca de três décadas antes de que tal riqueza se extinguisse, aquela Sociedade começou a pensar em soluções. E foi então que, a pouco e pouco, se foram experimentando e introduzindo novas culturas. O ananás, o chá, o tabaco, a beterraba, a chicória. Uma riqueza mais democrática, porque dela podiam beneficiar, pelo trabalho a que obrigavam, também os mais pobres. Do mesmo modo, foi a altura de começar a reflorestação da ilha. Os muitos milhões de caixas, feitas para que cada uma levasse entre oitocentas a mil laranjas, haviam quase esgotado as árvores de boa madeira, destruindo mesmo por completo os bosques do vale das Furnas. E assim a criptoméria se tornou nessa presença tão frequente em todo o arquipélago.
Mas aquele grupo de benfeitores foi também educador da quase medieval mentalidade popular. Para além da fundação do jornal O Agricultor Micaelense, promoveu o ensino numa população com uma enorme percentagem de analfabetos.
S. Miguel passava a ocupar um lugar de guia no destino dos Açores. Ao mesmo tempo, o turismo iniciava o seu desenvolvimento. De tal modo que hoje é a esta ilha que chega a maior parte dos visitantes. Que quase a confundem com o próprio arquipélago. No entanto, se S. Miguel parece resumir ou conter todas as outras, essa ideia é falsa. Cada ilha tem características sociais e de paisagem que a tornam única e imprescindível. Há que assumir a definição política do arquipélago, que é uma região autónoma, como um elemento de identificação colectiva. E aproveitar o dinamismo micaelense para impulsionar o conhecimento de todo o arquipélago. Quem está aqui está também mais perto de Santa Maria, da Terceira, ou até das Flores e do Corvo. E cada ilha é um cadinho de alquimia das emoções que deslumbrará quem quer que seja.
(De um texto para um livro turístico a publicar pela Ver Açor.)

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Veloz como um colibri.

(A Oriental, de Friedrich Von Amerling;1838 )
Nascestes da saudade que sentia
Em noites turbulentas tão vazias
Brotastes de um suspiro tão sonhado
Dentro de minha fantasia.
Um colibri que encantou meu olhar
Beijou minha flor
Bebeu meu néctar
Bailou no ar para me fascinar.
Sol que dourou meu corpo
Um discreto calor que aqueceu minhas manhãs de inverno.
Sonho que sonhei acordada
Meu porto!
Meu cais!
Meu doce amigo!
Companheiro pela madrugada.
Você partiu...
Cavalgando num suspiro de saudade
Rodopiando em meus sonhos
Rápido como um colibri.
A flor murchou
O sonho desbotou
A saudade?
Chorou.
Cristina Vianna

CLIP COM A TRADUÇÃO DE

Eu estava voando...
Há um livro que não li.
Há uma foto que não revelei.
Um filme que não assisti o final...
Há muitas coisas assim.Mas,o que importa é que estavam lá,e que existiram de verdade.

Beatriz - Ana Carolina

Atriz

De tantos disfarces me visto.
De gestos e gritos, vozes, vestidos.
Fujo de relógios e me envolvo
em cortinas de silêncio.
Lanço dados sem números.
Erro o passo e me aprumo.
Apóio-me em frágeis amores,
falsas bengalas.
Dou-me, renego e volto ao ninho.
Desterro-me,
por amor me degredo.
Provoco minha própria história.
Artesã dos meus dias,
invento falas, mas
aceito desenhos e diálogos.
Desmonto possibilidades.
Faço e me desfaço.
Choro de rir,
mergulho em lágrimas.
Lavo-me. Limpa,
volto aos dias claros.
Renasço das águas,
pobre Afrodite
no tablado da vida,
Fecho as cortinas,
até o novo dia.

Saramar Mendes

domingo, 9 de novembro de 2008

O Concelho Grande - Daniel de Sá





Daniel nos leva no coração deste viajante ao Concelho Grande, numa viagem metafísica, onde as imagens fotográficas tornam-se registros frágeis, por não conseguirem captar os sentidos, onde cores e formas sem cheiro, sem o pulsar daquela terra, não são detectáveis em sua totalidade. Sabemos que recordações são registros de uma memória ímpar, e só nos apropriamos delas, se formos nós a fabricá-las.
O inexplicável é o que acontece dentro de cada um de nós que acompanhamos este viajante conduzido pela literatura de Daniel. Podemos sentir o que nos descreve, como se fossem nossos próprios passos que levantam a poeira naquelas estradas. Chegamos mesmo a duvidar que não estivesse por lá. A força desta literatura capaz de nos dar as coordenadas do vento, a temperatura das manhãs, e as impressões mais secretas que povoam a mente do “viajante” ou são as nossas?

O viajante sabe que os cheiros completam as cores da paisagem como as cores completam as formas. Dos cheiros antigos que hoje faltam o que mais falta lhe faz é o dos trigais. Um cheiro quente que antecipava o do pão no forno. Um cheiro sensual, na ondulação das espigas trigueiras, com salpicos de papoilas incandescentes como sinais de virgindade. Lugares perfeitos para amores proibidos ou envergonhados.

Do maior concelho dos Açores, o viajante guarda estas recordações sobretudo para os lados das Feteiras do Sul, onde tem família de sangue e afecto. Muito perto da igreja de Santa Luzia, a do altar e púlpito que vieram da Igreja do Colégio dos Jesuítas.

As ceifas e as debulhas eram festivais de alegria e confraternização. Vinham carros de bois anunciando-se ao longe na dolência do chiar dos eixos. Tudo tinha um ar antigo, mas nada era triste. Nem mesmo a freguesia seguinte, a Candelária, que nos finais do século XIX o seu pároco considerava a mais pobre da ilha, e que talvez o fosse. Durante umas sete décadas não terá mudado muito. Mas de repente, quase de um dia para outro, encheu-se de cores novas e de movimentos culturais, começando também a tirar da terra muito mais do que só o trigo, que já não há, ou o leite, que há em demasia. O seu nome tornou-se uma espécie de marca registada de sabores que se apreciam em toda a ilha.

Depois há os Ginetes, que avançam até quase à Ponta da Ferraria, onde há uma espécie de museu natural de vulcanologia. E, sempre contornando o maciço das Sete Cidades, chega-se à Várzea, antes de descer para os Mosteiros, numa fajã de caprichoso recorte. Rodeada por um mar que lhe deu parte da fama por causa do polvo e das cracas.

A partir daí já se está na costa Norte. A paisagem, que parece reinventar-se a cada curva, refaz-se nos relevos e no aspecto da vegetação. Bretanha, Remédios, Santo António... Até o falar se assemelha, sobretudo na Bretanha, aos sons de França de que a lenda pretende fazer originários os seus primeiros povoadores. Com sangue real, há quem diga.

Nas vila das Capelas não convém olhar apenas para a confusão magnífica entre casario e arvoredo. Não pode perder-se a visita ao miradoiro do porto. Ali também se viu chegar muitos cachalotes, quando a sua caça era uma das riquezas das ilhas. Arribas de uma beleza impressionante, arrebatadora. O concelho vai acabar nos Fenais da Luz, mas continua por dentro, com uma das freguesias mais interiores da ilha, S. Vicente.


Já praticamente nada separa os arredores de Ponta Delgada da própria cidade. Que como que se continua na Relva, onde há o aeroporto; e nos Arrifes e Covoada, uma das maiores zonas de produção de leite dos Açores; e nas Fajãs – a de Cima e a de Baixo. Depois, a nascente, em S. Roque e no Livramento, com as suas concorridas praias de areia preta, ainda guardadas por umas ruínas de velhíssimos fortins que ninguém soube guardar.
(De um texto para um livro turístico a publicar pela Ver Açor.)

sábado, 8 de novembro de 2008

Flávio Venturini - Todo Azul Do Mar

Foi assim
Como ver o mar
A primeira vez
Que meus olhos
Se viram no seu olhar
Não tive a intenção
De me apaixonar
Mera distração e já era
Momento de se gostar

Quando eu dei por mim
Nem tentei fugir
Do visgo que me prendeu
Dentro do seu olhar

Quando eu mergulhei
No azul do mar
Sabia que era amor
E vinha pra ficar

Daria pra pintar
Todo azul do céu
Dava pra encher o universo
Da vida que eu quis pra mim

Tudo que eu fiz
Foi me confessar
Escravo(a) do seu amor
Livre para amar

Quando eu mergulhei
Fundo nesse olhar
Fui dono do mar azul
De todo azul do mar

Foi assim como ver o mar
Foi a primeira vez que eu vi o mar
Onda azul, todo azul do mar
Daria pra beber todo azul do mar
Foi quando mergulhei no azul do mar
Onda que vem azul, todo azul do mar