Como quem acorda de um longo sono... Atordoada me procuro.
Onde estive amei sozinha. Perdi-me. Paralisei sem sonhos. Sem dignidade.
Fui meu carrasco. Puni-me e paguei por erros que não eram meus.
Vivi num tempo que não me pertencia. Onde minha alma nunca coube.
Permissiva... Trai-me.
Os versos desbotaram com o tempo. Não foram lidos. Esquecidos agonizaram
e fugidios deixaram de existir e levaram minha existência com eles. Fui apenas
um espectro de mim mesma. Um vulto, uma sombra... Tanto tempo escondido atrás
de um sol sem brilho suplicando migalhas de amor. Tantas estradas incertas e
vazias.
De repente... O amor pediu um
tempo. Tempo... Ah o tempo! Amigo tempo. Atordoada,
concordei. E o dia amanheceu... Como um
milagre, acordei daquela noite tenebrosa que meu amor me conduziu. Estava tudo
fora do lugar. Uma saudade imensa invadiu minha vida... Saudade... Saudade de
mim mesma. Saudade de tudo que me roubei. Devagar despertei... E para minha
surpresa todos os meus sonhos estavam ali, ainda que maltratados, um a um foram
despertando dentro da minha alma... E assim a vida amanheceu. São tantos planos
e sonhos fervilhando, uma vida tão ampla pela frente que mal consigo harmonizar
meus próximos passos.
Meu coração pulsa em descompasso desde o instante em que fora invadido
pela esperança de uma vida mais suave e verdadeira.
Feliz daquele que pacientemente cede um tempo ao amor, permite que ele
parta, e vivencia esse reencontro consigo mesma... Deixo aqui meu pedido de
desculpas ao amor. Sinto muito por não aguardar por seu retorno. Mas, preciso
ser feliz. Devo isso a mim mesma. Preciso de um amor que me ame. Ser vista,aceita
e cuidada. De um amor que saiba ser amado,que transborde e ilumine. Que saiba
sair de si e entregar-se. Um amor que surpreenda tanto quanto esse reencontro
comigo mesma. Um amor verdadeiro que não se quebra, nem abandona. Um amor que
deixa saudades e recordações. Um amor que não apaga.