Gostaria de ser Pasárgada, a derradeira, que concluiu a cidade
de Ciro II, construía em Pérsia. Ser a ultima pedra, o
ultimo pilar, o primeiro sinal de vida. Entretanto, hoje sou a Pasárgada
de Persépolis. Sou ruína, barco
naufragado, poema esquecido inacabado, porque lhes faltaram versos ou amor. Já
não sou o beijo desejado. Sou ave selvagem esquecida no canto do mundo. Hoje,
poderiam abrir-se todas as cortinas, e a sinfonia ainda permaneceria
silenciosa. Escuta-se apenas sussurros de um coração que se arrasta em busca
insana, em completa desordem, sedento pela palavra que abraça, que salva,
significa a vida a espera de um milagre. Desesperadamente abro o livro, repetidas vezes, e já não ouço vozes. Onde estão
as personagens que carregavam sua alma e preenchiam minha vida. Quase sem
forças suplico para senti-lo uma última vez pulsando em minhas mãos... E a
memória duela com a razão, invade-me a sensação de engano que quase me rouba a
vida, que pouco ou nada importa, ou se diferencia, por perder-se em
insignificância. O engano é meu, portanto, a dor é minha. Gostaria de existir,
ser mãos, alcançar o livro que pulsa. Quero sair de mim, enfrentar-me...
Não posso. Não consigo... Abrace-me para que meu coração chegue perto do seu, e
sinta vontade de continuar pulsando.
Lá fora tanta correria... Dentro de mim tantas perguntas sem resposta. Não
existe loja de amigos, de amor, fraternidade, lealdade, amizade. Então por que tanta
correria? O que compram? Estou à deriva, sem bússola, sem remo, sem farol, sem
ponto chegada ou partida. Novamente estou andando na contramão do destino, a
espera de um milagre...
Cristina
Vianna