sexta-feira, 29 de maio de 2009

Meu caro escritor II (rascunho)



Não tenho um endereço para enviar as cartas, e também não consigo controlar o ímpeto de escrevê-las, por conta dessa ilusão de que por algum milagre pudessem entrar em sua vida. Não precisaria assinar meu nome. Leitores não precisam ter nome , rosto, idade, e não tenho nenhum título que valorize minha leitura,apenas alma para aconchegar a que chega derramada no papel. Apenas mãos para acariciar o livro, que a muito se tornou meu companheiro e é tão real que chego mesmo a pedir por ti em minhas orações.
Já pensei na possibilidade de enviar as cartas para o meu endereço, pelo prazer de vê-las acomodadas na caixa de correio e imaginar que poderiam ser uma resposta gentil sua.
O que sei a seu respeito é o essencial. Não tenho uma imagem física, na verdade ela não importa, o que sei é que está vivo em algum lugar nesse mundo, e que talvez, nesse instante, estejas fabricando mais uma dessas obras mágicas que saem de suas emoções vividas ou imaginadas, isso também não faz diferença, porque de qualquer maneira saem de dentro dos seus pensamentos e memórias. E elas são a sua verdade. Falando sobre, foram essas suas verdades que me intrigaram. Não estou aqui para classificar, julgar ou condenar verdades alheias. Ora, logo eu, penso que todas as minhas verdades seriam condenáveis. Mas, gosto de gente que possui essa coragem de expor suas verdades, sem a menor pretensão de afirmar que são absolutas. E quando termina um livro, chega mesmo a estar escrito com letras invisíveis: Perdoem-me, só possuo essas verdades,e são elas que me constroem,são as que conheço. Foi o que senti ao fechar o livro. Li tantos livros, e a maioria passaram-me indiferente, foram apenas bons livros. Não, ninguém tem culpa nisso, apenas não me pareceram familiar. Não podemos negar que apreciamos aquilo que mais se aproxime de suas verdades.
Por favor, não estou tentando te colocar nessa enrascada de parecer-se comigo. Não tenho essa ilusão. Porém,algo em ti me completa.Mas,esse raciocínio ainda não está maduro,é apenas uma suspeita. Penso ser prematuro falar sobre isso.
Talvez escrevas ainda em papéis, ou quem sabe tenhas uma dessas máquinas antigas que já falham numa letra ou outra, e seus rascunhos mais pareçam uma invenção de códigos secretos. Gosto de pensar nisso. Quando te levantas e precisava tanto dizer e não encontrou a palavra ideal, porque agora, já não escreves como quando era menino, hoje já há a preocupação com a opinião de um amigo ou outro e por conta disso já não te entrega nos impulsos. Sei que poderia ler os rascunhos,não te julgaria,penso que essa seja a grande obra de um escritor, aquilo que não pode ser publicado. Mas,esteve lá de alguma maneira quando você parou de dedilhar a máquina e mergulhou em suas lembranças secretas.
Foram essas entrelinhas que invadiram minha história. Falando nisso, não comece a tirar conclusões precipitadas, não há nada de errado comigo, embora também não haja muito do comum.
Sei que andei um pouco mais na contra mão do destino do que o recomendável. Apenas me recusei a aceitar passivamente algumas coordenadas naturais sociais. Não comece a pensar que sou fora da lei, apenas não tenho vocação para ser vítima. Assumi cada escolha que fiz e paguei o preço real, nem mais, nem menos. Nem de longe vivo mergulhada em alguma solidão patológica, e adoro beijar na boca. Ou seja, isso não é carência, é um deslumbramento, será que consegue entender isso?
Sou um tipo quase comum, eu acho. Casei e descasei,sem fazer o papel de mulher abandonada,e vou continuar tentando enquanto respirar, gosto dessa história de dois em um,embora com xampu não tenha dado certo .Mas nesse caso, trata-se do tipo de cabelo. Concordo, não poderia ter um cabelo comum. Espero que seja só um problema capilar.
Estou fazendo uma escolha, e ainda não sei o preço que vou pagar por isso. Acontece que nesse caso, trata-se de uma aposta, conheço os riscos, entretanto os desafios são irresistíveis.
Percebo claramente meu destino mudando de rumo, e mergulho no desconhecido, sei que deveria tatear devagar o caminho, mas isso também não faz parte de minha personalidade, nunca fico em cima do muro, decido e lá vou eu, e o próprio destino é quem corre atrás dos meus passos.
Posso afirmar que você cruzou o meu caminho, não sei qual foi a pretensão, o que sei é que há um nome assinado no fim daquelas linhas, e isso te torna responsável de alguma maneira. Espero que se algum dia essas cartas alcançarem milagrosamente seu destino, que ao menos as leia, com o mesmo respeito que abri seus livros.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Meu querido escritor



Seu livro nunca esteve catalogado em minha biblioteca, mesmo porque, ele foi emprestado.
Não sei se algum dia vou conseguir ter outro título, e descobrir das palavras que cortastes nesse.
Sei que essa carta não chegará ao seu destinatário, porque não sei para onde enviá-la.
Gostaria muito que soubesses que ao abrir seu livro, aconteceu algo extraordinário. Encontrei bem mais que uma narrativa coerente.
Ah como gostaria de te dizer da alegria de nosso encontro! É verdade, ainda que desconheças, nos encontramos, ainda que não saibas que existo.
Posso descrevê-lo e até mesmo adivinhar o som da sua voz.
Não tenho idéia do espaço que ocuparás em minha história daqui em diante, o que sei é que hoje encontrei alguém que procurava por toda a minha vida. Sei que isso não parece comum, talvez não seja, entretanto li os interstícios, as entrelinhas, e até mesmo as palavras que cortastes, e tenho certeza que estiveram por lá, posso pressenti-las.
Percebi as intenções, nem de longe é uma narrativa simples. Ela é densa e roubou-me muitas horas de reflexão. Lembra-me uma peça teatral, onde o ator tem um texto, mas sua intenção emocional é outra, ele fala, mas o corpo conta outra história. Isso é fantástico. Sei que te contas através das personagens, e isso foi o que me fascinou. Pude te construir aos poucos e foi então ficando denso e real.
Muitas vezes penso ter ficado obsessiva, pelo número de vezes que reli esse livro, embora seja um exercício muito agradável. Acho melhor consertar esse termo e trocá-lo por compulsiva. Não tenho a pretensão de complicar-me.
Aos poucos percebi o que aconteceu. Nossa, matei a charada. Fiquei ávida de você, como quem está diante de um espelho. Pronto. Posso te descrever. Existem dois homens ai dentro, um que te mostras e outro que deixas escapar, são os sinais. Sei que não estás inteiro nessa obra e isso é o que mais me inquieta. Essa vontade quase incontrolável de conhecer a outra parte.
Se soubesses o quanto tens andado em minhas mãos e pensamentos. A distância que suas idéias percorreram.
O livro pulsa, traz consigo a alma do autor. É isso um livro com alma, isso não é comum.
Um livro que fala capaz de te inquietar.
Um livro com olhar. Que te rouba a alma e te invade sem pedir licença.
Fico pensando se o escritor tem a noção de que pode interferir em outras vidas com as coisas que derrama. Não me parece que escrevas para receber aplausos. Assim como tenho a certeza que não houve a menor pretensão de invadir minha história.
Estou naqueles momentos de escolha, consciente de que essa decisão pode mudar meu destino. Não é uma simples escolha.
Posso devolver o livro e procurar não pensar mais nisso. Ou, posso lutar para que essa carta chegue as suas mãos.


domingo, 24 de maio de 2009

KARAMETADE - MORANGO DO NORDESTE

Esse samba é uma resposta para os meus amigos "engraçadinhos". Respondo cantando e com samba miudinho no pé, como boa e legítima carioca da gema.
Se acham mesmo que eu sou "a garota"...Bom, tudo bem , não estava tristinha quando ele apareceu,mas fiquei fascinada com os olhos dele.E é somente ele quem me satisfaz.Sabe por que? Ai ai ai ,é AMORRRRRRRRRRR.E sabe o que ele significa pra mim? Ele é meu morango do nordeste.
E com ele vou mesmo até para guerra...Não me importa de ser sonhadora.Também sou cabra da peste. Gente, é amor ...
E nem vem, que eu to feliz...Dá licença.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Hoje as palavras não me ajudam


... Hoje não me servem.
Elas também fugiram em nosso último encontro.
Lembro-me de me perguntar a razão do silêncio. Respondi que não era nada.
Você sorriu e falou: Não sei como pode pensar em ser atriz...Nunca aprendeu a mentir.
Então respondi o que já estava visível em meus olhos:Estou com medo.
Fizestes uma pausa... Perguntastes: Medo de que? Estou aqui.
Não sei. Deveria estar feliz com a viagem ... Mas,temo que não estejas aqui quando eu voltar.
Vou estar aqui a sua espera.Que bobagem.
Repita isso mãe.Por favor.Prometa.
Você não repetiu... Olhou dentro dos meus olhos e percebeu que nos despedíamos.
Aquilo não fazia o menor sentido. Era um absurdo aqueles pensamentos estragando aquele momento.Nossos momentos costumavam ser tão divertidos.Você gostava tanto do meu jeito de menina levada e atrapalhada.
Fecho os meus olhos e posso sentir o calor daquele abraço demorado, o seu cheiro, as lágrimas que não conseguimos evitar. Disse que te amava muito, e que me perdoasse por aquela angústia que não sabia de onde vinha.
Vi você se afastar naquela tarde, e fiquei ali parada, até que meus olhos não pudessem mais te alcançar. E o céu desabou em lágrimas... E boa parte de minha vida seguiu com aqueles passos vagarosos da tarde chuvosa.
Ao voltar, me deparei com aqueles recursos heróicos da medicina, um corpo vazio ligado por fios e tubos, apenas uma casca, que humilhação... Uma violência contra sua história, e nada podias fazer, estavas tão indefesa , distante, vulnerável, e eu só desejava te tirar daquela solidão.

Ah como desejei trocar de lugar contigo...
Gostaria de poder apagar aquela visão. No instante em que a vi, li o prontuário, soube que restará apenas uma casca. E lembrei-me das nossas conversas, quanto te contava sobre meus pacientes da UTI. Afirmavas: Prometa nunca me deixar ligada a uma máquina. Posso confiar não é?
Então... hoje faz um ano, que olhei seu corpo,os aparelhos que respiravam por ti,uma vida ligada a fios e tubos,percebi a queda nos números,olhei para o médico de plantão,e falei: Não faça mais nada,por favor,deixe-a partir com dignidade. Não quero mais que alguém a toque, eu venho preparar e vestir o corpo, aguardo o telefonema... Sai dali lembrando daquela tarde chuvosa, fui em busca de uma rosa amarela, a sua preferida... Algumas horas depois,o telefone tocou.

domingo, 17 de maio de 2009

Gosto da ausência de leis dos coelhos.


Talvez esteja naquela escala em que não seja tão boa para ser bicho e não consiga atingir a “grandiosidade” humana. Complicou mesmo.

Um simples coelho. Rodopiou a minha volta tantas vezes, provocando-me sorrisos ao desfilar sua graciosidade. Não sei se acontece com todos, mas tenho necessidade de tocar o que me fascina, e não seria fácil alcançar aquela criaturinha...Tão arisca , rápida, atenta. Ao menos que fosse sua vontade estar comigo. Quisera ter a mesma sorte com os humanos. Aquela criaturinha de Deus escolheu o meu colo. Claro que me observou por umas duas horas. Coelhos não são impulsivos. Adormeceu em meus braços... Coelhos ignoram se meus braços envolvem leprosos, se embalam crianças aidéticas, se durmo abraçada ao Toby, se minhas unhas são ruídas, se tenho dificuldades em usar sapatos, se muitas vezes choro sem ser triste, ou brinco quando estou triste demais, se amo o impossível, se quero o que não posso ter e ainda assim acho que vale pena o querer, se encontro o amor num livro, se muitas vezes quebro o silêncio da leitura com uma gargalhada ou indagação: Como pode dizer uma coisa dessas? Você enlouqueceu? Como assim? Por que fez isso?,
Descobri que coelhos não me julgam por discutir com um livro...

Os homens costumam confundir a justiça divina, com a humana . Classificam. Estão sempre a comparar o que Cristo falou, com o que os homens interpretaram, ou fizeram com suas palavras. As leis divinas não estão em papéis, elas pulsam na natureza, dentro de cada ser vivo. Seja homem, coelho ou algo como eu... Não sei brincar de ser gente grande, desconheço as regras do jogo. Não entendo esses duelos humanos, acho-os tão desnecessários. Se você diz a um amigo que se apaixonou, ele faz perguntas como: Idade, tipo físico, titularidades, escala financeira, onde mora, qual a marca do carro... Enfim, nunca perguntam o que é essencial. Isso parece não importar. Não é importante saber que desejas aquela companhia mais que qualquer coisa no mundo inteiro, que quando estão juntos, a vida parece vibrar numa melodia encantada, que tudo ao redor é ternura, suavidade, e que a vida ganha um sentido muito especial. Há coisas que só podem ser sentidas, e essas não são explicáveis, desconfio que coelhos saibam disso.
Sabe de uma coisa,vou continuar respondendo aos julgamentos embalando coelhos...

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Imaculada

"Pobres dos escritores que não se derem conta disso: escrever é transmitir vida, emoção, o que conheço e sei, minha experiência e forma de ver a vida."
Obs.: Em 1995, comentando não escrever para ganhar prêmios quando da sua escolha para o Prêmio Camões. [ Jorge Amado ]

segunda-feira, 11 de maio de 2009

O que nos leva a eleger um" livro"?


...gostaria de escrever coisas como: O vôo das borboletas cheio de cores, sua leveza e breve instante de vida... Ou sobre o desejo de que os beijos de amor pudessem milagrosamente voar, vencer qualquer distância, ainda que fosse a do tempo, alcançando seu destino... Ah como seriam suaves e demorados,como o balé do desabrochar de uma rosa....

Acontece que tenho essa pergunta latente em minha cabeça, e isso dificulta,acaba por inibir os pensamentos poéticos. Se alguém puder responder a essa pergunta, resolve enfim, a equação do amor. Afinal, livros são como namorados. Diariamente passamos por diversos rostos, uns conhecidos, outros que não percebemos, mas por vezes, e isso é comum, nos detemos dentro de um olhar, e esse, nos parece ser diferente de todos os outros na multidão. Acontece quando menos se espera, talvez, porque quando se está prevenido à armadura nos proteja desses olhares. Procuro não sair de casa sem armadura. Mesmo quando vou comprar cigarros, conheço mil histórias que começaram com um cigarro. É um bom jogo sedutor esse do cigarro...Tenho que reconhecer, não levo muito jeito para essas coisas... Todas as vezes que fiquei presa dentro de um desses olhares diferentes, as coisas não deram certo.

Lembro-me de nunca ter conseguido evitar o reflexo de coçar a cabeça... Embora, reflexos são inevitáveis... Mas e a disfemia?(popular gagueira) Nossa... Imperdoável. Estudei esse assunto, tenho como fazer essa programação neurológica, controlar a respiração, acontece que na prática não funciono. Ainda por cima essas situações desencadeiam alguma desordem na tal área onde encontra-se instalada minha coordenação motora, ou seja : tropeço, ando em círculos,viro o copo na mesa,e perco totalmente a noção espacial, desconfio que isso prejudique meu jogo de sedução.

Estive pensando, talvez exista algum curso que nos torne especialistas neste assunto, espero não ter alguma limitação de faixa etária. O maior desastre, fica por conta do comprometimento cognitivo, tenho dificuldades para responder qualquer pergunta, a mais simples, até aquela que implica em fazer conhecer meu nome. Fico intrigada, porque nessas horas não existem as tais alternativas:A,B,C...Acabo por me comprometer em cada resposta,e sempre tenho que finalizar: Posso explicar... não é o que parece.Por fim, estou suando frio...totalmente consciente do estrago, o que me leva a recorrer ao toalete muitas vezes, pausa para respirar,quem sabe pensar num plano B, acontece que o responsável pelo tal olhar, quando nessa altura do campeonato já cheguei ao fim do alfabeto de planos, e já até usei a cota do novo acordo ortográfico, acaba por concluir que, também estou com algum problema gastrointestinal. Daí já era... Virei história. Percebi que não tenho talento para essas coisas,o que me motivou a adquirir a tal, super armadura. Foi por uma boa causa... Prevenir todos esses desacertos. Acontece que não acreditava ser preciso usar a minha super proteção ao ler livros, afinal, qual seria a possibilidade de encontrar o tal olhar ao abrir um livro? Boa resposta. Também pensava dessa forma, por isso o descuido. Essas coisas acontecem, e posso explicar... Ou é só comigo? Definitivamente estou quase acreditando que sou um ET.
Exemplo: Amigos. Todos têm amigos. Até aí, tudo certo. Acontece que os meus amigos são um pouco diferente. Aliás, não sei por que, acabei por me lembrar do burrinho amigo do Shrek. Nossa, adoro aquele burrinho, porém, ele é um pouco... Insistente, é necessária uma dose extra de paciência e cautela. E estou um tanto esverdeada.
Meus amigos... Shrek...Burrinho...Será que já existe paciência enlatada? Tudo bem pode ser a varejo... Desidratada... Não estou aqui para criar alguma dificuldade.
Meus amigos... Todos têm outro amigo para me apresentar. E chegam mesmo a afirmar que, eu e o outro amigo, nascemos um para o outro, daí fico na dúvida... Como posso ter nascido para completar tantas possibilidades? Estou parecendo uma peça coringa.
Danado do amigo, só está tentando ganhar tempo resolvendo dois problemas de uma só vez. Fazem à maior propaganda do sujeito, falam tanto, que acaba por escapar coisas como: largado... Abandonado... Carente, enfim, problemático mesmo. Mas essa parte eles omitem... E juram de pé junto que o sujeito é um príncipe e que está louco para me conhecer, pobre do sujeito, nunca ouviu nem mesmo o meu nome. E fazem mesmo de tudo, para que aceite conhecer o indivíduo acreditam estar resolvendo dois problemas: Primeiro, o tal amigo encalhado, e depois, você, que já começa a engrossar a lista dos solitários. E isso, parece incomodar os amigos.Não é nada fácil explicar para esses amigos, que você não está afim, que talvez, com o tempo, um dia esteja novamente preparada para encontrar o tal olhar diferente, ainda que seja, não sei, em um lugar inesperado, como num livro. Mas, se os amigos não compreendem ,e julgam ser má vontade, sua falta de disposição para ao menos dar uma palavrinha com os candidatos a futuras decepções... Como vão entender o encantamento, ou acreditar no pulsar de um coração que ouves ao abrir o tal livro?
Pensando nisso, concluo que não devo tocar nesse assunto. Corro o risco de algum desses amigos tentarem ajudar-me... E na melhor das hipóteses, julgarem que meu caso necessita de internação...

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Elogio ao amor (Miguel Esteves Cardoso - Expresso)"


"Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber. Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo.
O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.
Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em “diálogo”. O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam “praticamente” apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do “tá bem, tudo bem”, tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso “dá lá um jeitinho sentimental”. Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A “vidinha” é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem. Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir. A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a Vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.”


Miguel Esteves Cardoso, in Expresso
Postado por Patrícia Carreiro no blog:
www.patriciacarreiro.blogspot.com
Ps.Gostaria de ter escrito esse texto.Cristina Vianna

Amor em lágrimas - Vinícius de Morais


Ouve o mar que soluça na solidão

Ouve, amor, o mar que soluça

Na mais triste solidão

E ouve, amor, os ventos que voltam

Dos espaços que ninguém sabe

Sobre as ondas se debruçam

E soluçam de paixão

E ouve, amor, no fundo da noite

Como as árvores ao vento

Num lamento se debruçam

E soluçam para o chão

Deixa amor que um corpo sedento

Como as árvores e o vento

No teu corpo se debruce

E soluce de paixão.

quinta-feira, 7 de maio de 2009

Eu desisto - UNIVERSO NO TEU CORPO - TAIGUARA

Eu desisto
Não existe essa manhã que eu perseguia
Um lugar que me dê trégua ou me sorria
E uma gente que não viva só pra si

Só encontro
Gente amarga mergulhada no passado
Procurando repartir seu mundo errado
Nessa vida sem amor que eu aprendi

Por uns velhos vãos motivos
Somos cegos e cativos
No deserto do universo sem amor

E é por isso que eu preciso
De você como eu preciso
Não me deixe um só minuto sem amor

Vem comigo
Meu pedaço de universo é no teu corpo
Eu te abraço corpo imerso no teu corpo
E em teus braços se unem em versos à canção

Em que eu digo
Que estou morto pra esse triste mundo antigo
Que meu porto, meu destino, meu abrigo

São teu corpo amante amigo em minhas mãos
São teu corpo amante amigo em minhas mãos
São teu corpo amante amigo em minhas mãos

Vem, vem comigo
Meu pedaço de universo é no teu corpo
Eu te abraço corpo imerso no teu corpo
E em teus braços se unem em versos a canção

Em que eu digo
Que estou morto pra esse triste mundo antigo
Que meu porto, meu destino, meu abrigo
São teu corpo amante amigo em minhas mãos
São teu corpo amante amigo em minhas mãos
São teu corpo amante amigo em minhas mãos.



terça-feira, 5 de maio de 2009

Acerca do amor


Era a hora do ocaso. O cowboy solitário atravessara rios, bosques, o calor do Sol. Ficou por momentos em silêncio, a contemplar a cena. Um montículo de terra ainda sem ervas fazia perceber que aquela sepultura era recente. Dois paus cruzados eram a cruz. De joelhos, em frente da cruz, um homem jovem chorava de mãos postas e cabeça baixa. Quando levantou a cabeça, olhou o estranho por entre a cortina das lágrimas, mas nada disse. O cowboy perguntou-lhe: “Tu amava-la muito, não amavas?” O homem respondeu com outra pergunta: “Como sabes que «ela» era «ela»?” O cavaleiro solitário explicou: “Só por uma mulher um homem chora assim.”

Daniel de Sá.


"Enganar-se a respeito da natureza do amor é a mais espantosa das perdas. É uma perda eterna, para a qual não existe compensação nem no tempo nem na eternidade: a privação mais horrorosa, que não é possível recuperar nem nesta vida... nem na futura!" (Soren Kierkegaard, filósofo dinamarquês)

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Eu e você sempre

Ausência
Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade

domingo, 3 de maio de 2009

Feliz 03 de MAIO - Será sempre o meu Carlinhos - Meu tão amado irmão.







































































...crescemos e junto a isso:o peso das responsabilidades,
o distanciamento físico e a saudade.
Nos perdemos cada um "no muito o que fazer"... e nos acostumamos a sentir saudades...
Me consola perceber que embora o tempo e a distância tenham duelado conosco por todos esses anos, quando estamos juntos,lá está a mesma cumplicidade no olhar, a mesma que exercitávamos em nossas brincadeiras,ou quando dividíamos nossos temores noturnos.
Depois vieram os amores, os filhos, os sonhos perdidos...e também nos ajudamos nisso.
Meu amado irmão , ainda estou naquele abraço silencioso, no dia em que ela nos deixou...
Hoje é um dia colorido na minha vida...meu querido, que Deus te abençoe e que os anjos te abracem com a força do meu amor e minha saudade.
Desejo-te sonhos de menino... EU TE AMO...EU TE AMO... Não desista nunca de ser feliz...

sábado, 2 de maio de 2009

Ter uma vida de histórias, é diferente de ter uma história de vida.


Numa vida de histórias cabem muitos livros... A maioria nunca será lido... Porque isso é o mesmo que arriscar olhar dentro de outros olhos, o temor humano do momento, encontrar gente. Livros pequeninos, falantes, alegre, sofridos, corajosos... Com todas as estações, por vezes definidas e em outras nem tanto.
Neles, a vida parece não fazer sentido, porque todo sentido se faz.
Como se em uma vida, coubessem muitas vidas, vividas e sentidas ao mesmo tempo, como fosse possível a existência de vidas paralelas. Embora, essa seja só a impressão de uma vida densa.
As personagens podem desaparecer com a mesma rapidez de um sonho, os amores podem nascer no inverno e existir adeus na primavera.
E a morte, seja lá do que for, vem sem romance, ela apenas chega e anuncia o espaço que ficará vazio. E nas palavras ocultas,aquelas que caminham nas sombras dos parágrafos, fica a ordem de prosseguir a escrita.
Esses livros não permitem rascunhos, vão tatuando a alma como a talhar uma pedra.
Pena não caber nos livros aqueles desenhos que os enamorados fazem nas areias da praia, deixam um recado com letras desenhadas de afeto, para serem lidos por ondas, acreditando que saibam onde fazer chegar a leitura. Que lindo ofício misterioso das ondas!
Também não cabem castelos de areia, nem de pedra, nem de coisa alguma, castelos são proibidos, porque nesses pequenos livros as crianças precisam de pão, os homens precisam ser abraçados, ouvidos, e que lhes devolvam sua dignidade.
Os leprosos não são hansenianos, não aqueles que foram marcados pela lepra e esquecidos... Algumas pessoas precisam, ao menos de vez em quando, ouvir a melodia do seu nome, sim,nomes soam como músicas, para desta forma, simples e banal, validarem sua estada na terra, porque leprosos são números arquivados, roubaram-lhes a humanidade.
Nessas pequeninas histórias,“aquela velha chata da vizinha” fez uma reclamação, o que desejava mesmo, era pedir um olhar e um bom dia. Isso parece tão pouco...Acontece que pessoas mergulhadas em suas dores solitárias perdem a coragem de pedir: Olhem para mim, estou aqui, apesar de... Existo. Não nasci “chata e velha”. Esse não é o meu nome. E ser invisível é insuportável. E todos, exatamente todos os seres vivos, começam a envelhecer no momento em que nasce, essa é a única certeza que nos é reservada pelo destino.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Nossa Senhora

Cubra-me com seu manto de amor
Guarda-me na paz desse olhar
Cura-me as feridas e a dor
me faz suportar
Que as pedras do meu caminho
Meus pés suportem pisar
Mesmo ferido de espinhos
me ajude a passar
Se ficaram mágoas em mim
Mãe tira do meu coração
E aqueles que eu fiz sofrer
peço perdão
Se eu curvar meu corpo na dor
Me alivia o peso da cruz
Interceda por mim minha mãe
junto a Jesus
Nossa Senhora me dê a mão
Cuida do meu coração
Da minha vida
do meu destino
do meu caminho
Cuida de mim
Sempre que o meu pranto rolar
ponha sobre mim suas mãos
aumenta minha fé
e acalma
o meu coração
grande é a procissão a pedir
a misericórdia e o perdão
a cura do corpo e para alma
a salvação
Pobres pecadores oh mãe
tão necessitados de vós
Santa mãe de Deus
tem piedade de nós
de joelhos aos vossos pés
Estendei a nós vossas mãos
Rogai por todos nós
vossos filhos
meus irmãos.

Paradoxo


A dor que abate, e punge, e nos tortura,
que julgamos às vezes não ter cura
e o destino nos deu e nos impôs,
é pequenina, é bem menor, e até
já não é dor talvez, dor já não é dividida por dois.
A alegria que às vezes num segundo
nos dá desejos de abraçar o mundo,
e nos põe tristes, sem querer, depois,
aumenta, cresce, e bem maior se faz,
já não é alegria, é muito mais dividida por dois.
Estranha essa aritmética da vida,
nem parece ciência, parece arte;
compreendo a dor menor,
se dividida,
não entendo é aumentar nossa alegria
se essa mesma alegria
se reparte.
( Poema de JG de Araujo Jorgedo livro- Festa de Imagens – 1948)