sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Relicário. Cássia Eller e Nando Reis

Trocaria a eternidade....

Preciso, para (Marina Colasanti)

Preciso que um barco atravesse o mar
lá longe
para sair dessa cadeira
para esquecer esse computador
e ter olhos de sal
boca de peixe
e o vento frio batendo nas escamas.
Preciso que uma proa atravesse a carne
cá dentro
para andar sobre as águas
deitar nas ilhas e
olhar de longe esse prédio
essa sala
essa mulher sentada diante do computador
que bebe a branca luz eletrônica
e pensa no mar.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

AMIGO E PRA ESSAS COISAS

Muito obrigada amigo...por ter me ouvido....

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Strani amori - tradução

O poema derrama os segredos
Que a alma esconde do sol
O luar de prata
Provoca
Instiga
E sedento meu amor
Busca os braços que não me acolhem.
E por não ser confessa essa dor
O sol vai repousar no bambuzal.
E a noite quer saber a razão desta torrente de lágrimas
As palavras escapam como vultos.
Resignada
Sonho com estes braços que não me sonham
E o beijo que me negas
Em desatino perco o verso
A madrugada invade a cama
Procuro minh’alma entre as cobertas.
Num tropeço de ternura
Encontro teus lábios colados ao que escrevo.






segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

La Forza della vita - Renato Russo

Como transcrever o amor?
“Eu te amo porque te amo. Amor é estado de graça e com amor não se paga.” (Carlos Drummond de Andrade, em “As sem razões do amor”).
“O amor é primo da morte e da morte vencedor, por mais que o matem e matam a cada instante de amor”
“... o que posso dizer do amor que tive: Que não seja imortal posto que é chama, Mas
Que seja infinito enquanto dure “(Meu poeta Vinícius)
Ainda assim não basta para descrever algo tão verdadeiro, intenso, e inexplicável, onde empresto a este sentimento todas as minhas falhas e temores, minha humanidade e tudo o que é vivo em mim.
Sei que amor tem que ser incondicional, mas eu tão imperfeita não alcanço está grandeza, e sofro porque desta forma faço de meu amor algo passível de falhas. Perco-me em veredas,todas tão iguais.E o amor me conduz a um labirinto onde não quero achar a saída.
E com os olhos turvos pelo suor do amor, busco uma face para meus versos
Embora tenha que cobrir de pele minhas palavras.
Ah como queria te abraçar com um verso puro!
Beijar-te como quem saboreia uma maçã.
Um verso com cheiro de terra e sabor de fruto no pé.
Um verso quente como as tardes de verão.
Um verso com cheiro das manhãs de primavera
Cristalino como o orvalho que escorre das folhas do meu pé de laranjeira
Um verso doce como o som da tua voz.
Um verso menino que escorresse da alma como estas gotas mornas que brotam dos meus olhos, ternas e serenas.
Um verso inocente que abrandasse todas as imperfeições deste amor tão verdadeiro.
Estou tentando derramar-me em versos que não encontro... e aconchegar-me em braços que não são meus.
Cristina Vianna



domingo, 22 de fevereiro de 2009

A Carta - Renato Russo e Erasmo Carlos

Escrevo-te estas mal traçadas linhas Meu amor! Porque veio a saudade visitar meu coração .
Espero que desculpes os meus erros por favor nas frases desta carta que é uma prova de afeição... Talvez tu não a leias,mas quem sabe até dará resposta imediata me chamando de meu bem.Porém o que me importa é confessar-te uma vez mais,não sei amar na vida a mais ninguém.
Tanto tempo faz que li no teu olhar a vida cor de rosa que eu sonhava.Igual a impressão de que já vi passar um ano sem te ver,um ano sem te amar.
Ao me apaixonar por ti não reparei que tu tivesses só entusiasmo.E para terminar,amor assinarei: Do sempre ,sempre teu....

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Mangueira 2009 - Eterna paixão -

Deus me fez assim filho desse chão
Sou povo, sou raça... miscigenação
Mangueira viaja nos brasis dessa nação
O branco aqui chegou
No paraíso se encantou
Ao ver tanta beleza no lugar
Quanta riqueza pra explorar
Índio valente guerreiro
Não se deixou escravizar, lutou...
E um laço de união surgiu
O negro mesmo entregue a própria sorte
Trabalhou com braço forte
Na construção do meu Brasil

É sangue, é suor, religião
Mistura de raças num só coração
Um elo de amor à minha bandeira
Canta a Estação Primeira

Cada lágrima que já rolou
Fertilizou a esperança
Da nossa gente, valeu a pena
De Norte a Sul desse país
Tantos brasis, sagrado celeiro
Crioulo, caboclo, retrato mestiço,
De fato, sou brasileiro!
Sertanejo, caipira, matuto... sonhador
Abraço o meu irmão
Pra reviver a nossa história
Deixar guardado na memória... o seu valor

Sou a cara do povo... Mangueira
Eterna paixão
A voz do samba é verde e rosa
E nem cabe explicação

Ritmos Brasileiros VIII - Marchinhas de Carnaval (Emilinha Borba)

Máscara Negra

Quanto riso, oh quanta alegria
Mais de mil palhaços no salão
Arlequim está chorando
Pelo amor da Colombina
No meio da multidão

Foi bom te ver outra vez,
Tá fazendo um ano
Foi no carnaval que passou,
Eu sou aquele Pierrô,
Que te abraçou
E te beijou meu amor
A mesma máscara negra,
Que cobre teu rosto
Eu quero matar a saudade

Vou beijar-te agora
Não me leve a mal
Hoje é carnaval ....
E viva a verde e rosa...

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Imbranato

Acalento um verso triste
transbordando incerteza
embalo-o junto ao coração
com cantigas de ciranda
sussurradas docemente
exalam aroma de maçã.

O verso triste lacrimeja
acomodado em meu peito
encolhido como um menino
ao ser acalentado.

Na cadência do pulsar
deste inquieto coração
agora está adormecido
o menino verso triste
sereno e sem ruídos
no calor do aconchego
daquele que um dia
já foi meu...um coração.

Cristina Vianna

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

En El Muelle De San Blas

...com seu amor ao mar.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Os Três Mal Amados


Joaquim:
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
As falas do personagem Joaquim foram extraídas da poesia "Os Três Mal-Amados", constante do livro "João Cabral de Melo Neto - Obras Completas", Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Eu sei,mas não devia




Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.


A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.(1972)


(Marina Colassanti)

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Explicação





O pensamento é triste;

o amor, insuficiente;

e eu quero sempre mais do que vem nos milagres.

Deixo que a terra me sustente:guardo o resto para mais tarde.

Deus não fala comigo -

e eu sei que me conhece.

A antigos ventos dei as lágrimas que tinha.

A estrela sobe, a estrela desce...

espero a minha própria vinda.

(Navego pela memória sem margens.

Alguém conta a minha história

E alguém mata os personagens.)

Autor: Cecília Meireles

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Busca Insana


Insanamente busco um verso único
Transparente
Translúcido
Vegetal
Busca vã...
Procuro um verso com os tons do tempo
Que escorra como as dores maduras.
E neste desatino
A dor emoldura de aço a esperança
Quando minha mão alcança teu rosto
Quando meus dedos desalinham teus cabelos
E tropeço em meus devaneios solitários.
Rendo-me sem palavras
Ofertando a rosa de minh'alma como um beijo.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Cassia Eller - Mudaram as estações / Por enquanto

Ah o amor ... que nasce não sei onde, vem não sei como e dói não sei porque...

Carlos Drummond de Andrade

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Lua e Flor

Distância

Dedico-o aos mais lindos versos
Ancoro
No porto dos meus sonhos
Idealizo lugares
Encontro seres mágicos
Liberto-os para nova realidade
Depois do sonho
Eis a saudade!
Silêncio ... somente à distância
Alimenta a dor...

"Eu amava como jamais poderia se soubesse como te encontrar..."